EMPRESAS DE MEDICINA NUCLEAR ASSOCIADAS À ABDAN JÁ PREPARAM AÇÕES PARA DESENVOLVER O SETOR NO BRASIL
Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –
Faz pouco tempo que foi anunciada a chegada de empresas de medicina nuclear à Associação Brasileira para Desenvolvimento das Atividades Nucleares (Abdan), mas a nova parceria já está apresentando resultados positivos. Em poucos dias, a entidade passou a agregar cinco companhias do setor e a estimativa é que, até outubro, este número dobre. À medida que a associação vai reunindo novos agentes ligados a este mercado, os planos e ações para desenvolver a medicina nuclear no país vão crescendo. É o que revela a assessora especial da Abdan, Ana Célia Sobreira. “Um importante desafio é a quebra do monopólio da União, que é a única que pode manipular o material radioativo para uso médico”, explicou. “Já existe PEC [Proposta de Emenda à Constituição] no Congresso caminhando nesse sentido. Estamos fazendo uma força para que isso seja aprovado rapidamente”, acrescentou. Ana Célia ainda falou de outra meta, que é aumentar a velocidade do registro de remédios para a medicina nuclear. “Estamos fazendo um trabalho, junto à Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária], de conscientização da importância da disponibilização destes medicamentos”, disse.
A especialista alerta que a medicina nuclear no Brasil atende apenas dois pacientes para cada 1.000 habitantes. “Precisamos criar estímulos para crescer essa especialidade, que traz vantagens incríveis. Então, esse momento é muito significativo e só vai trazer benefícios. A possibilidade de aumento de escala de atendimento, seguramente, vai permitir atender muito mais a população em geral”, completou.
Qual sua avaliação do momento atual do setor de medicina nuclear no Brasil?
Todos os setores que utilizam a tecnologia nuclear estão vivendo um momento de euforia. O governo tem uma posição muito positiva, no sentido de desatar os nós, para que haja o desenvolvimento da tecnologia aplicada em diferentes segmentos no Brasil. Na medicina nuclear está acontecendo o mesmo. Existe a possibilidade de quebra do monopólio, que está sendo visto de uma maneira séria e positiva. O momento é muito bom, de euforia.
Recentemente, a ABDAN passou a agregar as empresas do setor de medicina nuclear. O que muda para o segmento a partir desta novidade?
Já existe no Brasil a Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN), que é uma entidade focada nos médicos e não nas empresas. Por sua vez, nós, as empresas, que nem somos muitas, nunca conseguimos nos organizar em uma associação. Mas há três meses, eu conheci os propósitos da ABDAN, durante uma reunião em Brasília. Conversei com o presidente Celso Cunha, que nos disse que a associação estava totalmente aberta a receber às empresas de medicina.
Então, eu me propus a falar com alguns empresários do ramo. Em menos de um mês, já somos cinco empresas na ABDAN, que é extremamente ativa. Todas as empresas que já se associaram, ou as que estão em vias de se associar, estão com extremo otimismo de que agora terão uma ação coesa, buscando objetivos positivos. A ABDAN, neste momento, representa um fator muito positivo para o desenvolvimento das empresas do ramo de tecnologias nucleares para a medicina.
O número de empresas associadas pode chegar até quanto?
Nosso objetivo é chegar a 10 empresas até o final de outubro. No mercado, existem 15 empresas com potencial de se associarem. Com essas 10 empresas iniciais, esperamos já criar uma massa crítica para mudar o rumo da nossa situação frente ao mercado da medicina nuclear.
Quais são as principais vantagens para a saúde da população brasileira ao usar os recursos da medicina nuclear?
A medicina nuclear é uma especialidade onde o radioativo é injetado no paciente. Este radioativo, por sua vez, é metabolizado pelas células e, eventualmente, por um tumor. Então, é diferente de uma ressonância, tomografia ou raio-X, que retiram uma fotografia do órgão. Na medicina nuclear, é contrário. A imagem se forma dentro do organismo. A radiação que é capturada por um equipamento que forma a imagem.
Em termos de diagnóstico de câncer, a medicina nuclear é espetacular, com muitas vantagens sobre as outras tecnologias, já que consegue detectar tumores muito minúsculos. É diferente de outros métodos, que precisam que o tumor tenha alguns milímetros a mais para serem descobertos.
Nós temos 430 serviços de medicina nuclear no Brasil. Esse é um número ridículo. O Brasil atende dois pacientes para cada 1.000 habitantes. Já a Argentina atende 20 pacientes por 1.000 habitantes. É claro que nosso país é muito maior, mas nós precisamos crescer [em termos de número de atendimentos]. Precisamos criar estímulos para crescer essa especialidade, que traz vantagens incríveis. Então, esse momento é muito significativo e só vai trazer benefícios. A possibilidade de aumento de escala de atendimento, seguramente, vai permitir atender muito mais a população em geral.
Hoje, o número de atendimentos da medicina nuclear no país está concentrado no Sudeste. Como reverter esse quadro?
Criando estímulos regionais. O Nordeste, por exemplo, tem equipamentos para produção de material radioativo em Recife (PE), no Centro Regional de Tecnologias Nucleares. Alguns equipamentos não estão funcionando por falta de verbas e funcionários especializados. O Nordeste está à mercê de receber material do Sul. Mas este é um material que tem uma meia-vida muito curta.
O Nordeste precisa ter seu cíclotron funcionando. A região Amazônica também. A partir do momento em que existe o material e você consegue disponibilizar o fármaco, serão abertos novos serviços de medicina nuclear. Esta é a estratégia de crescimento.
E em relação ao aumento do número de empregos no setor? Quais são as perspectivas de crescimento?
Esse crescimento é consequente do estímulo de novos serviços de medicina nuclear. Serão necessários novos radioisótopos. Em um serviço de medicina nuclear, precisamos de médicos, biólogos, biomédicos, físicos, técnicos… é tudo uma consequência. Para cada serviço de medicina nuclear, são necessários 10 funcionários, pelo menos.
Quais são os principais obstáculos para o setor que precisam ser superados?
Um importante desafio é a quebra do monopólio da União, que é a única que pode manipular o material radioativo para uso médico. Já existe PEC no Congresso caminhando nesse sentido. Estamos fazendo uma força para que isso seja aprovado rapidamente. Outro aspecto muito importante é a Anvisa, que precisa ter uma atitude proativa. Os medicamentos para medicina nuclear não podem aguardar 1 ano ou 1 ano e meio para serem registrados. Isso é inaceitável. Estamos fazendo um trabalho, junto à Anvisa, de conscientização da importância da disponibilização destes medicamentos.
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