ENTRADA DE NOVAS OPERADORAS ANIMA SETOR DE MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS, MAS CUSTO BRASIL PESA NA COMPETITIVIDADE | Petronotícias




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ENTRADA DE NOVAS OPERADORAS ANIMA SETOR DE MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS, MAS CUSTO BRASIL PESA NA COMPETITIVIDADE

Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –

alberto machadoA entrada de petroleiras internacionais no pré-sal brasileiro como operadoras está dando novas perspectivas para as empresas fornecedoras nacionais. Esta é a visão da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Além do universo maior de clientes dentro do mercado do país, o diretor executivo da área de óleo e gás da entidade, Alberto Machado, acredita que as companhias fornecedoras brasileiras passarão a ficar mais visíveis internacionalmente, conforme vão se relacionando com as grandes operadoras multinacionais. “Existem outras demandas, não só da área de petróleo, mas também em biocombustíveis, gás natural, um pouco de petroquímica e, o principal, na área de defesa – a parte da construção do navio. Vemos nisso uma sinergia que aumenta a escala”, disse Machado. Contudo, o diretor da Abimaq aponta que há ainda o desafio de reduzir os efeitos do chamado Custo Brasil, o qual classifica como uma “bola de ferro” amarrada nas pernas dos fornecedores brasileiros. “O que a indústria brasileira quer não é protecionismo, mas sim condição de competitividade”, acrescentou. Ele ainda cita a necessidade de uma política industrial como forma de melhorar as condições de novos negócios para as companhias nacionais.

Quais são as perspectivas da entidade para o mercado de óleo e gás?

Estamos experimentando um período de retomada e vendo uma possibilidade de aquecimento de mercado, com os contratos que vão ser retomados a partir da presença de empresas novas. Agora, a tendência é de mudança do foco, não só das empresas de petróleo como também pelo modo em que os produtos e equipamentos são contratados. No passado, só tínhamos contato com a Petrobrás em um primeiro momento. Depois, passamos a ter contato com os estaleiros, quando estes começaram a fazer os contratos maiores. Mas agora, além disso, temos os prestadores de serviços e muito deles estão oferecendo soluções que o equipamento vai junto. Então, isso tem um ponto positivo, porque aumenta muito o universo dos possíveis clientes. Esse é um ponto bem visto.

Outro ponto bastante favorável é que, na medida em que a indústria brasileira consiga participar desse mercado, passamos a ficar mais visíveis internacionalmente ao nos relacionarmos com essas empresas multinacionais. Além disso, podemos treinar e aprender como as essas empresas trabalham. 

A Petrobrás tem processos e procedimentos de compra que são muito diferentes dos internacionais. Então, as empresas acabam ficando acostumadas com um [tipo de] processo. E quando vão para fora [do país], ficam em desvantagem. Quando você pensa que uma cláusula estrangeira é mais rígida, acaba aumentando a sua possibilidade de mitigar risco, colocando contingências que encarecem. Mas na medida em que você treina a vender para empresa internacionais aqui no Brasil, acaba viabilizando as vendas para fora.

Dados esses fatos, além dos investimentos que estão sendo anunciados, há um aumento da nossa expectativa de um crescimento de demanda.

Outros setores também dão expectativas de novos negócios?

Existem outras demandas, não só da área de petróleo, mas também em biocombustíveis, gás natural, um pouco de petroquímica e, o principal, na área de defesa – a parte da construção do navio. Vemos nisso uma sinergia que aumenta a escala. Podemos ensejar os estaleiros e os fabricantes a investirem porque tem uma perspectiva de demanda maior.

E como avalia as discussões em torno do conteúdo local?

O conteúdo local é muito mal visto porque é não é bem entendido. A empresa estrangeira que atua fora do seu país quer levar sua segurança, com seus fornecedores internacionais de confiança. Então, é preciso um mínimo de estímulo para que as empresas contratem no país.

Esse estímulo pode ser como é hoje, com multas ou estabelecendo valores mínimos. Mais tarde, na medida em que a confiança aumente, pode ser por estímulo de bônus – que aumente com a quantidade de equipamentos [nacionais] comprados.

Agora, com as demais empresas sendo operadoras de fato, inclusive na área do pré-sal, isso permite que tenhamos uma demanda diversificada e multi-cliente. Se já tivéssemos feito isso no passado, teríamos outras empresas no Brasil caminhando durante o período que a Petrobrás enfrentou problemas. E assim, não teríamos a queda que tivemos no setor como um todo. Seria um baque, mas não tão forte como foi em virtude da parada da Petrobrás. Em um mercado mais liberal, mais diversificado, em termos de cultura, isso pode ser muito bom, nos deixando mais expostos ao mercado internacional.

Que medidas devem ser adotadas pelo governo para favorecer o ambiente de negócios?

Em um primeiro momento, o governo tem que adotar uma política industrial que mitigue um pouco os problemas do Custo Brasil. Nós ainda competimos com uma bola de ferro amarrada na perna. Temos uma série de pontos onde o governo tem que atuar. Não basta exigir conteúdo local se, na outra ponta, não viabilizar que o vendedor comercialize seu produto. E não podemos enxergar isso como protecionismo, mas sim como um meio de dá uma simetria para o competidor brasileiro. Do contrário, fica uma luta desigual.

O conteúdo local é um indicador se uma política está dando certo ou não. Ele não é uma variável que você controla diretamente. A de conteúdo local tem que ter um prazo de validade, para não acabar criando um conforto. Se você dá muita facilidade ou não cria dificuldade aos poucos, isso tira as empresas brasileiras do ambiente internacional do mesmo jeito.

O que o senhor acha que deve ser feito para reduzir o Custo Brasil?

Muitas empresas de petróleo conseguem o financiamento com juros mais baixos em outros países. Esses financiamentos não são em dinheiro, são em bens. A China, quando empresta, empresta em bens e não em dinheiro. Então, com isso, os brasileiros têm uma perda de competitividade [frente aos estrangeiros].

Outro problema é a carga tributária. O modo no qual ela cobrada e o custo que se tem para controlar toda essa carga tributária também. São pontos onde deveríamos ficar mais atentos para melhorar as condições negociais. O que a indústria brasileira quer não é protecionismo, mas sim condição de competitividade.

Vamos a um exemplo. Uma empresa faz um esforço para conseguir 10% a mais de produtividade em sua linha de produção. Mas, de uma hora pra outra, ocorre uma valorização do real de 20%. Então, eu invisto na produtividade, mas perco na competitividade. A empresa pode até ser competitiva dentro da fábrica, mas quando custos externos entram em ação, eu acabo perdendo competitividade.

Temos precariedade de logística. Nossos modais de transporte não são os mais econômicos, temos poucas linhas férreas e pouca cabotagem. São medidas que podem melhorar muito nossa condição de competitividade. Já tivemos casos, no passado, onde era mais barato trazer um produto de fora do que comprar um no Brasil. Isso porque não temos os modais adequados.

E o que as próprias empresas brasileiras devem fazer para melhorar sua competitividade?

Temos muito o que melhorar em produtividade e em modernização das fábricas, dos processos e da parte de digitalização. Tudo isso é fundamental. Mas esses ganhos são diluídos por eventuais fatores externos que, de uma hora para outra, jogam fora tudo aquilo que as empresas conquistaram.

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