ABESCO DEFENDE INVESTIMENTO EM FONTES RENOVÁVEIS E EFICIÊNCIA ENERGÉTICA PARA EXPANDIR USO DE CARROS ELÉTRICOS
Por Paulo Hora (paulo.hora@petronoticias.com.br) –
Defensor do investimento em carros elétricos, o presidente da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (Abesco), Rodrigo Aguiar, argumenta que a falta de energia não é um problema para sua expansão. De acordo com ele, a combinação das inovações na tecnologia desses veículos com mais investimento em geração a partir de fontes renováveis e a aplicação do conceito de eficiência energética possibilitará a redução do custo da transição do combustível fóssil para a eletricidade.
Rodrigo Aguiar defende o aumento dos tributos sobre os combustíveis fósseis e do incentivo às fontes renováveis, não como subsídio, mas, segundo ele, como uma readequação de contas, focado em sustentabilidade. Para o presidente da Abesco, o importante é diversificar as estratégias, incluindo investimento no etanol e na biomassa.
No cenário atual, qual é o custo econômico de se substituir um veículo movido a combustível fóssil por um a eletricidade?
A tecnologia dos carros elétricos ainda é um pouco mais cara, mas vem passando por inovações há muitos anos. As montadoras estão se estruturando para atender à demanda e deixar os custos dentro do patamar.
O retorno ambiental do investimento em carros elétricos justifica esses investimentos?
Para nos adequarmos ao conceito de economia sustentável, é preciso reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa. O preço do petróleo ficou mais baixo recentemente, mas a tendência é que isso não continue. Temos que trabalhar com maior oferta de eletricidade, pois o Brasil tem um potencial de geração muito grande, mas não o aproveita completamente. É preciso criar uma política econômica e energética mais adequada e revisar a cadeia de geração, transmissão e distribuição.
O quanto a tecnologia de carros elétricos ainda deverá evoluir a ponto de deixá-los economicamente competitivos?
Nos últimos dez anos, houve uma evolução fenomenal na tecnologia das baterias, que ainda são o principal gargalo. Hoje elas são mais leves e têm maior capacidade de armazenamento. A questão é como fazer a recarga. Não existe infraestrutura adequada para o consumidor recarregar a bateria em sua casa ou em seu prédio. Uma possibilidade é investir em postos de troca de bateria.
Com o aumento da geração térmica, o ganho ambiental do uso de carros elétricos não fica ameaçado?
No Brasil, não. A disponibilidade de energia renovável e limpa ainda é muito grande. A capacidade instalada de geração eólica já vem aumentando muito e o mesmo ainda vai acontecer com a fotovoltaica. É só observar o crescimento que essa fonte teve na Alemanha, onde as melhores áreas são menos apropriadas do que as piores daqui em termos de possibilidade de aproveitamento da luz solar. Por isso, não acredito na continuidade dessa expansão da geração termelétrica.
Apenas essas fontes renováveis seriam suficientes para diminuir o despacho térmico?
O Ministério de Minas e Energia (MME) e a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) já deixaram claro que a melhor ferramenta para atender à crescente demanda por energia é a aplicação do conceito de Eficiência Energética, que consiste no investimento em equipamentos e processos mais modernos. Hoje, é desperdiçado o equivalente a mais do que a capacidade de uma Itaipu. Também é importante retomar o pró-álcool e investir na biomassa. A grande falha é não diversificar as estratégias. Ao priorizar só as térmicas, o governo optou pelo custo mais elevado e pela poluição.
A fonte nuclear também poderia contribuir nesse sentido?
Essa já é uma questão mais delicada. Em função da segurança, grandes países, como Alemanha e Japão, repensam o aproveitamento dessa fonte, enquanto em outros lugares os investimentos aumentam. Certamente, será necessário pensar e analisar tudo isso com calma, mas, antes, deve-se dar prioridade às fontes renováveis e à eficiência energética.
O governo deveria dar mais incentivos fiscais e de financiamento para essas fontes?
Precisamos de uma visão mais macro, para analisar os gases emitidos na combustão, o impacto que eles causam na saúde e o gasto decorrente disso. Não devemos trabalhar com subsídio, mas com readequação de contas, com vista à sustentabilidade.
Uma maior tributação à energia fóssil seria uma alternativa?
Pode ser. Seria como aconteceu com o cigarro, que tinha tributação normal e propagandas. Por conta dos problemas causados na saúde, passou a haver um controle maior. O mesmo pode acontecer com os combustíveis fósseis. Mas existem as empresas da cadeia de petróleo e seu poder político e econômico. Essa discussão tem que ser feita imediatamente. No curto prazo, a medida ideal seria o reforço do álcool, cuja produção no país já se reduziu muito.
Uma eventual diminuição do consumo de gasolina não conflitaria com os investimentos da Petrobrás na exploração do pré-sal?
Acredito que sim. Mas devemos levar em conta tudo o que envolve o pré-sal. Esse volume de petróleo tem que ser repensado para incluir outras coisas, como o gás, que hoje é importado e poderia ser mais usado nas usinas térmicas.
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