CENTRO DE PESQUISA EM GÁS DESENVOLVE PROJETO DE CAVERNAS NO PRÉ-SAL PARA CAPTURA DE CO2
Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –
Pesquisadores brasileiros estão trabalhando em um novo programa que visa a construção de cavernas na camada de sal do pré-sal que poderão ser usadas para armazenar dióxido de carbono (CO2), um dos gases do efeito estufa. O projeto é do Research Centre for Gas Innovation (RCGI), que é financiado com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e da Shell. “Esse novo programa de captura e abatimento de CO2 é exatamente para produzir energia a partir de combustíveis fósseis sem emitir gases, ou capturando esses gases. Um deles é o dióxido de carbono. Podemos falar assim: [a meta é] produzir energia limpa a partir de energia fóssil”, afirmou o diretor científico do RCGI, Julio Meneghini. O centro de pesquisas, dentro da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), pretende apresentar os resultados deste e de outros projetos dentro do médio prazo. “Nós esperamos que a partir do próximo ano comecem a ter concepções preliminares daquilo que, eventualmente, daqui a dois ou três anos nós venhamos a construir. Inclusive construir cavernas numa escala piloto”, concluiu Meneghini.
O senhor poderia detalhar esse novo programa com projetos sobre captura e armazenamento de carbono?
Esse novo programa do Fapesp-Shell Research Centre for Gas Innovation terá 16 novos projetos. Eles envolvem, entre vários pontos, a parte de catalisadores, fotossíntese artificial, projetos visando otimização de compressores de CO2 em estado super crítico, projeto de captura e armazenamento de carbono. Dentro deste último, serão dois projetos – um deles envolve uma caverna na camada de sal do pré-sal. Temos outro projeto que envolve o separador supersônico compacto de gases, para separar CO2 de CH4 e outros gases. Temos também um outro projeto de construção de um laboratório para ensaios com os separadores supersônicos. Esse laboratório ficaria na USP.
Poderia detalhar um pouco sobre este projeto das cavernas na camada de sal?
O projeto consiste em ter, na camada do pré-sal, cavernas que armazenariam CO2 ou metano. A ideia de ter cavernas estratégicas para reservatórios de gás natural é uma coisa que já existe há algum tempo. Mas nós estamos pensando além: de ter cavernas para captura e armazenagem de CO2. E aí tem um projeto que envolve a parte técnica e científica, porque o CO2 nessa pressão e temperatura está em um estado chamado super crítico. Ele tem uma série de características que são especiais. Inclusive, temos um projeto também de um laboratório para caracterizar metano e CO2 no estado sub super crítico.
Ainda em relação a essas cavernas no pré-sal, que vantagens elas poderiam trazer à indústria?
Você poderia produzir eletricidade, através da combustão do gás natural em turbinas, e o CO2 gerado na geração química da combustão seria capturado ao invés de ser liberado na atmosfera. Você produziria energia elétrica a partir de combustível fóssil sem emissão.
O CO2 ficaria numa caverna na camada de sal do pré-sal, que chega a ter 2 km de profundidade. Você pode fazer cavernas enormes. O sal tem uma condição especial, ainda mais em alta pressão: qualquer trinca que ocorra na caverna se “auto cura”. Então, você pode ter aquele gás capturado por centena de anos e depois ele acaba virando uma rocha carbonática. Deixa de ser um gás no estado super crítico para se tornar um sólido.
O senhor mencionou anteriormente a questão do separador supersônico? Como funciona esta tecnologia?
Imagine um tubo que tem uma contração, uma área menor e depois uma expansão. Se a compressão é supersônica, vai chegar na garganta, na área onde tem a contração propriamente dita, e lá teremos o número de Mach igual a 1. A velocidade do escoamento vai ser igual a velocidade de propagação do som naquela condição. Quando começo a ter a expansão, por ser um escoamento compressível, a velocidade começa a aumentar e pode chegar a uma velocidade de número de Mach de 1,2, que para uma dada temperatura e pressão, o CO2 muda de fase diretamente da fase gasosa para a sólida. Se torna gelo seco, muito mais denso que o restante da mistura. Neste caso, se tiver a rotação de gás, o gelo seco vai para a região da parede. E conseguimos retirar o CO2 e o metano permanece.
Quais são os objetivos centrais com o lançamento deste novo programa de captura de carbono?
O primeiro é conseguir produzir energia. Você sabe que a demanda por energia está crescendo. Existem muitos países em desenvolvimento que estão demandando uma quantidade de energia per capita maior, em termos mundiais. Ao mesmo tempo, temos a questão de mudanças climáticas. As emissões de gases que contribuem para o efeito estufa são um ponto chave. Esse novo programa de captura e abatimento de CO2 é exatamente para produzir energia a partir de combustíveis fósseis sem emitir gases, ou capturando esses gases. Um deles é o dióxido de carbono. Podemos falar assim: [a meta é] produzir energia limpa a partir de energia fóssil.
Quando esse programa apresentará os primeiros resultados?
Nós esperamos que a partir do próximo ano comecem a ter concepções preliminares daquilo que, eventualmente, daqui a dois ou três anos nós venhamos a construir. Inclusive construir cavernas numa escala piloto. Então, é um objetivo no qual se nós conseguirmos chegar a concepções, tanto do separador supersônico, quanto do compressor em estado super crítico e também a caverna, nós vamos construir em escala piloto.
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