EPE APONTA RISCOS DE DANOS E REDUÇÃO DE EFICIÊNCIA EM INFRAESTRUTURAS DO SETOR ELÉTRICO POR CAUSA DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS
A semana começa com atenções voltadas ao Rio Grande do Sul, especialmente após as fortes chuvas que voltaram a cair no estado durante o final de semana. Segundo o último balanço do Ministério de Minas e Energia (MME), divulgado ainda na noite de ontem (12), 269 mil unidades consumidoras seguem sem suprimento energético no estado. Diante da situação dramática, projeções climáticas e seus potenciais impactos estão sendo discutidos e avaliados no planejamento de longo prazo do setor elétrico, auxiliando no desenvolvimento de um sistema capaz de manter suas funções em cenários adversos. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) divulgou nos últimos dias uma nota técnica que discute o fortalecimento da resiliência do setor elétrico em resposta às mudanças climáticas. De acordo com o documento, alguns dos potencias impactos no segmento incluem danos às infraestruturas que causam a interrupção ou falha no fornecimento de energia elétrica ou até mesmo redução da eficiência de equipamentos e estruturas dos sistemas elétricos.
“Os sistemas elétricos também são vulneráveis a ocorrência de eventos climáticos extremos, como, por exemplo, secas, ondas de calor, incêndios, tempestades, inundações e deslizamentos de terra, que podem levar a danos físicos às estruturas de geração e transmissão e reduzir a eficiência. De acordo com IEA (Agência Internacional de Energia) em diversos países o aumento da frequência e intensidade de eventos extremos são a causa dominante de grandes interrupções no fornecimento de energia elétrica”, diz a nota técnica elaborada pela estatal, que é presidida por Thiago Prado.
Em relação à demanda de energia elétrica ocorrerá um aumento no consumo de energia elétrica para refrigeração em resposta às mudanças climáticas, sobretudo em regiões quentes, reduzindo, por sua vez, a demanda para aquecimento. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), estudos recentes relatam impactos significativos, com os setores comercial e industrial e a penetração substancial de ar condicionado impulsionando esse aumento na demanda de energia. Ainda, espera-se um aumento na demanda para compensar as perdas de energia causadas pela redução da eficiência dos equipamentos citada no parágrafo anterior.
Além disso, a EPE afirma que do ponto de vista da oferta de energia, o aumento das temperaturas leva a uma diminuição na eficiência da geração. Isso é válido para uma série de tecnologias, incluindo usinas termelétricas e solares fotovoltaicas. Além disso, as altas temperaturas associadas a períodos de “calmaria de ventos” impactam diretamente na diminuição da condução de energia através dos cabos das linhas de transmissão.
“As mudanças climáticas e, sobretudo, os eventos climáticos extremos podem impactar estruturas ou componentes em uma escala de projeto. Entretanto, destaca-se que a combinação dos elementos deve ser capaz de contornar as perturbações e manter seu funcionamento de forma sistêmica. Assim, do ponto de vista do planejamento, busca-se traçar estratégias que tirem proveito da diversidade do sistema elétrico de maneira integrada”, afirma a EPE.
Assim, a empresa de planejamento aponta que a resiliência se apresenta não só como conceito, mas também como possibilidade metodológica para avaliar os riscos aos quais o Sistema Interligado Nacional (SIN) está exposto, diagnosticar suas vulnerabilidades e entender sua capacidade de resposta e adaptação frente às mudanças graduais do clima e ao aumento da incidência de eventos extremos. “Nesse sentido, torna se cada vez mais imprescindível que as projeções climáticas e seus potenciais impactos sejam discutidos e avaliados no planejamento de longo prazo do setor, auxiliando no desenvolvimento de um sistema capaz de manter suas funções em cenários adversos”, concluiu.
SITUAÇÃO NO RIO GRANDE DO SUL
Nos próximos dias, está programada a chegada de mais mil profissionais de todo o país para se juntarem aos 4 mil trabalhadores do estado, que estão envolvidos na manutenção da rede elétrica. O mais recente balanço do Ministério de Minas e Energia (MME) indica que outros 31 mil clientes tiveram o fornecimento de eletricidade restabelecido. Com isso, o número de unidades consumidoras que voltaram a ter energia elétrica neste fim de semana subiu para 112 mil. No momento, apenas o município de Boqueirão, com 6,5 mil unidades consumidoras, permanece completamente sem o serviço.
O sistema de alta tensão está sendo gradualmente restabelecido à operação, visto que ainda há danos em 40 ativos. Simultaneamente, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) está colaborando com o Procon-RS para avaliar os preços do gás de cozinha. Essa ação foi iniciada após um ofício enviado pelo MME em 10 de maio. Indústrias, hospitais e grandes estabelecimentos comerciais têm o fornecimento de gás natural garantido pela SulGás.
Além disso, foi autorizada, até 31 de maio, a cessão de espaço em tancagem entre distribuidores de combustíveis líquidos nos municípios de Canoas e Esteio. Até junho, está permitida a comercialização de etanol anidro fora das especificações no Oleoduto Paraná-Santa Catarina (OPASC).
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