ESPECIALISTAS AFIRMAM QUE FIM DO MONOPÓLIO AUMENTARIA O ACESSO DOS BRASILEIROS AOS SERVIÇOS DE MEDICINA NUCLEAR | Petronotícias




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ESPECIALISTAS AFIRMAM QUE FIM DO MONOPÓLIO AUMENTARIA O ACESSO DOS BRASILEIROS AOS SERVIÇOS DE MEDICINA NUCLEAR

Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –

WhatsApp-Image-2020-07-01-at-19.58.54O Brasil não é chamado de um país continental à toa. Cada uma de nossas regiões vive realidades sociais e econômicas diferentes, com uma heterogeneidade que passeia de Norte a Sul. Quando o assunto é o acesso aos serviços de medicina nuclear, a situação não é diferente. No ano passado, por exemplo, 45% dos procedimentos dessa especialidade ficaram concentrados no Sudeste, enquanto outros cantos do Brasil tiveram números bem menores. O caminho necessário para descentralizar a medicina nuclear para a população brasileira foi um dos temas do terceiro webinar da série Nuclear Trade and Technology Exchange, promovido pela Associação Brasileira para Desenvolvimento das Atividades Nucleares (ABDAN) em parceria com o Sebrae. A alternativa apontada pelos especialistas que participaram do encontro foi o fim do monopólio estatal na produção de radiofármacos, o que poderia pulverizar a produção de radiofármacos no Brasil de uma forma mais racional.

A CEO da UDDO Diagnósticos Médicos, Beatriz Leme, foi uma das palestrantes do webinar e apresentou alguns números que ajudam a mapear o cenário atual da medicina nuclear no país. “Dos procedimentos de medicina nuclear realizados no Brasil no ano de 2019, 45% foram na região Sudeste, que concentra 37% da população brasileira. Já no Nordeste, onde está 30% da população brasileira, vimos 24% dos procedimentos realizados no mesmo ano. Esses dados continuam mostrando que existe uma tendência maior desses atendimentos realizados na região Sul/Sudeste”, afirmou.

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Beatriz Leme

Outra região com uma quantidade reduzida de procedimentos é a Norte, que possui 9% dos habitantes do país e apenas 6% do total dos atendimentos. “Nós temos uma comprometida distribuição do serviço e um número reduzido de procedimentos ofertados à população. Além de dificuldade na distribuição dos radiofármacos e no acesso às novas tecnologias”, pontuou.

Na visão da executiva, existem três áreas cruciais que devem ser alvo de melhorias e avanços para destravar o setor, o que poderia ajudar a levar a medicina nuclear de forma mais homogênea a todas as regiões brasileiras. A primeira delas é a regulação, onde Beatriz acredita que é preciso fazer o monitoramento das políticas públicas, bem como promover a redução das cargas tributárias e adequação dos requisitos regulatórios.

O segundo setor citado pela CEO da UDDO é o de capacitação, onde ela entende ser necessário um aumento na oferta de cientistas, médicos e profissionais da área, diante da escassez de pessoal. Beatriz também pede um incentivo maior à pesquisa e aos estudos científicos. O terceiro e último aspecto apontado é o de mercado, onde a executiva acredita ser preciso o desenvolvimento e transferência de tecnologia, melhor distribuição dos insumos e mais opções de fornecedores para o setor.

Segundo estimativas, o Brasil teve 2 milhões de procedimentos de medicina nuclear no ano passado. Esse volume corresponde a um faturamento anual de US$ 280 milhões. Com esses números, o nosso país corresponde a uma fatia de 3% do mercado global de medicina nuclear. A título de comparação, os Estados Unidos possuem uma parcela de 53% do setor, enquanto a Europa detém 12%.

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Guilherme Rossi

Para o médico onconuclear na Oncostar, Dr. Guilherme Rossi, que foi o mediador do webinar, o setor no país não cresce como poderia pois está parado em seu modelo. “Não temos uma distribuição racional de radiofármacos. Nossa distribuição é localizada [no Sudeste]. Precisamos ter o material radioativo disponível localmente nos estados. Do contrário, não temos como crescer. Existe uma desigualdade muito grande”, declarou.

O médico afirmou que para descentralizar os atendimentos de medicina nuclear no Brasil, é preciso apoiar a iniciativa privada. Ele ainda acrescentou que os órgãos governamentais atenderam às demandas do país como podiam nos últimos 20 anos, mas que chegou a hora de uma “nova visão”. Atualmente, a produção de radiofármacos é monopólio da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), tendo o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), em São Paulo, como principal unidade produtora.

O IPEN é um instituto fantástico. Eu tenho a maior admiração por toda a cadeia governamental que apoia a medicina nuclear. Mas precisamos da iniciativa privada e da concorrência. O que precisamos é descentralização”, completou.

PARCERIA COM INICIATIVA PRIVADA AMPLIOU A MEDICINA NUCLEAR EM SÃO PAULO

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Paulo Quintaes

O webinar da ABDAN também apresentou uma experiência do estado de São Paulo, que conseguiu aumentar o número de serviços de medicina nuclear a partir de uma parceria com a iniciativa privada. O modelo foi detalhado pelo médico Paulo Quintaes, que é Superintendente da Organização Social Seconci. A entidade é responsável pelo gerenciamento de unidades estaduais de saúde em São Paulo.

A Seconci assumiu o controle do Ambulatório Médico de Especialidades (AME Barradas) em 2008, quando também começou uma reforma estrutural na unidade. Naquele mesmo período, surgiu a possibilidade de instalação do serviço de medicina nuclear no ambulatório. O modelo proposto pelo então secretário de saúde do estado, Dr. Luiz Roberto Barradas Barata (1953-2010), foi através de custeio. Isto é, ao invés de comprar o equipamento de medicina nuclear, a ideia era custear esse serviço. A empresa escolhida para desenvolver essa parceria foi a UDDO.

Conversamos com a equipe da UDDO. E algo que para nós parecia ser inviável, começou a se tornar viável. Conseguimos viabilizar dentro do AME Barradas a implantação da primeira gama câmara [equipamento usado na medicina nuclear] no Estado de São Paulo em um ambulatório de gestão de uma Organização Social de Saúde”, contou.

celso cunha

Celso Cunha

Em 2020, o AME Barradas está com quase 10 anos de serviço de medicina nuclear, com um saldo muito positivo: “Realizamos quase 400 exames por mês por meio desse modelo de parceria. O equipamento foi adquirido e colocado dentro da unidade pelo parceiro. Acabamos de realizar a troca da nossa gama câmara e todo esse investimento é feito pela parceria”, disse. “Foram quase 50 mil exames no decorrer desses anoa”, concluiu.

Este foi o terceiro webinar da série Nuclear Trade and Technology Exchange (NT2E), realizada pela ABDAN em parceria com o Sebrae, em preparação da NT2E – evento previsto para abril de 2021. Ao final do evento, o presidente da Abdan, Celso Cunha, agradeceu a presença de todos os participantes e revelou que a associação realizará nas próximas semanas um novo webinar para tratar mais uma vez do mercado de medicina nuclear no Brasil.

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