ESTUDO APONTA PARA FATORES QUE COLOCAM SERGIPE COMO POTENCIAL DESTINO DE NOVA CENTRAL NUCLEAR DO PAÍS

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Adelia Sahyun

O novo Plano Nacional de Energia (PNE 2050) foi lançado oficialmente pelo governo federal há pouco mais de um mês, trazendo a indicação que o Brasil pode receber até 10 GW de novas centrais nucleares no decorrer dos próximos 30 anos. Com essa orientação em mãos, o país já começa a pensar nos possíveis sítios que podem receber novos empreendimentos do tipo. Atualmente, a geração nuclear brasileira se concentra no Sudeste, em Angra dos Reis (RJ). Mas existe um potencial de levar a fonte para outras regiões do país. É o que indica um estudo feito pelos especialistas Adelia Sahyun e Gian Maria Sordi, da área técnica da Atomo Radioproteção e Segurança. O trabalho conduzido pelos pesquisadores apontou que Sergipe é um dos locais que reúne boas condições para ser destino de uma planta nuclear. Um dos principais pontos a favor do estado é sua posição geográfica, possibilitando a instalação de linhas de transmissão que não seriam excessivamente grandes. Os especialistas também mencionam o impacto social e econômico gerado a partir do desenvolvimento de um projeto nuclear na região: “A construção da infraestrutura, bem como o funcionamento do reator nuclear, exigirá um apreciável número de técnicos de grau médio e superior que imporão um nível de qualidade de vida bem superior àquele existente anteriormente à instalação do reator. Portanto, a vida social, comercial e industrial deverão se desenvolver e crescer muito”.

Gostaria de começar perguntando sobre as características que tornam Sergipe em um possível destino de uma nova usina nuclear. Poderia enumerar os pontos principais?

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Gian Maria Sordi

Para o Nordeste, escolhemos Sergipe em virtude dos dados populacionais, superfície territorial e densidade favoráveis. Analisando os dados citados, observamos que Alagoas é o estado de maior densidade populacional, seguido por Sergipe em segundo lugar, o que poderia levar a pensar que o primeiro seria o preferível.

Entretanto, por outro lado, devemos lembrar que o custo de proteção é proporcional à dose coletiva recebida pelos indivíduos. Portanto, considerando a população do estado, sem dúvida Sergipe é o estado preferencial. Outra particularidade de Sergipe é que o estado dista 1.159 km de Fortaleza, 1.415 km de Vitória e 1.645 km de Palmas de Tocantins, englobando uma área com raio de 1500 km, facilitando desta maneira as linhas de transmissão a distâncias não excessivamente grandes.

O trabalho aponta para quais possíveis sítios nucleares dentro do estado?

No Rio São Francisco, o reator poderia ser instalado próximo à cidade de Poço Redondo, uma cidade de 25.000 a 50.000 habitantes. Ou Canindé de São Francisco, com população de 10.000 a 25.000 habitantes. Ambas estão em plena caatinga. O empreendimento favoreceria também a zona de caatinga de Alagoas.

Porém, além do Rio São Francisco, a usina poderia ser instalada em um dos múltiplos rios da bacia hidrográfica do estado, entre os quais citamos Arauá, Piautinga, Vasa Barris, Piauí, Sergipe, Japaratuba, Poxim, Gararu, Mão Esqueda, Jacorá e Capivara.

O PNE 2050 aponta para a previsão de até 10 GW em novas centrais nucleares no Brasil. Nesse contexto do PNE, Sergipe despontará como uma opção viável?

angra 3Sem dúvida, uma vez que não se pode obter 10 GW com um único reator. Os maiores reatores não chegam a 2 GW, portanto, são necessários múltiplos reatores distribuídos no país, uma vez que a tendência atual é ter muitos reatores com pequenas potências.

O STF decidiu que era inconstitucional o artigo da Constituição de Sergipe que proibia a instalação de usinas nucleares em seu território. Essa era a última grande barreira que impedia o desenvolvimento de projetos do tipo no estado? Ou ainda existem outros desafios?

Existem outros fatores. Consideraremos como um dos principais a opinião pública que, influenciada pelas grandes potências nucleares, é contra a energia nuclear. Essas potências não desejam que os demais países desenvolvam este tipo de tecnologia. Se fizermos um plebiscito popular, provavelmente o reator nuclear não será aceito. A resposta será que “ele pode ser instalado em qualquer município, menos no meu”.

Como superar essa resistência?

A nossa sugestão é instalar o reator na faixa litorânea, dessalinizando a água, que seria jogada no continente para irrigação. Ou mesmo alojá-lo sobre algum rio, para seu resfriamento, trazendo assim economia financeira. No caso do desafio por nós exposto na resposta anterior, uma sugestão seria que o Governo Federal adquirisse o terreno para a instalação nuclear, declarando-o de “Utilidade Pública”.

A chegada de empreendimentos nucleares ao Nordeste trará novas perspectivas sociais e econômicas para a população local?

nuclearSem dúvida, em povoados de pequeno número de habitantes, precisarão ser construídas estradas que deverão ser muito bem asfaltadas, uma vez que por elas deverão ser transportadas cargas muito pesadas. A construção da infraestrutura, bem como o funcionamento do reator nuclear, exigirá um apreciável número de técnicos de grau médio e superior que imporão um nível de qualidade de vida bem superior àquele existente anteriormente à instalação do reator. Portanto, a vida social, comercial e industrial deverão se desenvolver e crescer muito.

Também será exigido a implantação de escolas de pelo menos até o nível secundário e a necessidade de estabelecimento de estrutura de saúde médica hospitalar e ambulatorial. Existem casos em que essas vilas (pequenos povoados) se tornaram maiores e mais importantes do que a própria sede do município.

Com relação ao Bioma do Estado de Sergipe, temos uma faixa de restinga e manguezais na faixa litorânea, seguida pela Mata Atlântica e por fim pela caatinga a oeste e noroeste do estado. É um estado pobre e a principal atividade industrial resume-se a têxtil, vestuário e couro, com um pequeno centro industrial.

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