EXECUTIVOS VEEM CONTEÚDO LOCAL E COMBATE À CORRUPÇÃO COMO QUESTÕES DETERMINANTES PARA 2017
Por Daniel Fraiha (daniel@petronoticias.com.br) –
A política de conteúdo local sofreu muitos ataques em 2016 e vem passando por uma série de rediscussões, mas nada está definido até agora. É com o foco nestas definições que a Abimaq, junto à Firjan e diversas outras entidades, está alinhando sua ação, já que as empresas fornecedoras nacionais têm tido menos voz do que as petroleiras – capitaneadas pelo IBP e a Petrobrás – nesta questão. O diretor executivo de petróleo, gás, bioenergia e petroquímica da Abimaq, Alberto Machado, critica as tentativas de enfraquecer o conteúdo local e ressalta que a proposta do movimento Produz Brasil, organizado por 14 entidades, traz muitas soluções para problemas apontados por outras partes e indica caminhos para se chegar ao um meio termo. Ele ainda faz um alerta para o caso de seguirem adiante com o projeto de enfraquecimento da política sem darem ouvidos aos fornecedores de bens e serviços: “vai ser o caos”.
Já o presidente da Embraer Systems, Daniel Moczydlower, concentrou seus comentários no cenário macro brasileiro e defendeu a importância de se repensar o tamanho do Estado brasileiro, mantendo como um dos focos o combate à corrupção. “Se não houver recuo no combate à corrupção e se for aproveitada a oportunidade de rediscutir o tamanho e o papel do Estado, então as perspectivas serão positivas”, diz.
Veja a seguir as opiniões dos dois convidados do Petronotícias, em mais uma edição da série Perspectivas 2017.
Alberto Machado – diretor executivo de petróleo, gás, bioenergia e petroquímica da Abimaq
1- Como analisa os acontecimentos de 2016 em seu setor?
Aconteceram muitas mudanças no ano. Foram acontecimentos complexos, com muitos fatores negativos, como a redução de investimentos, essa tentativa de redução do conteúdo local, tirando as perspectivas da indústria. A transferência de projetos par a China, o pedido de waiver da Petrobrás para o campo de Libra… Enfim, uma série de pontos que ensejaram a criação do movimento Produz Brasil. Precisamos nos coordenar para tentar minimizar os impactos negativos que aconteceram e estão acontecendo.
Vemos esses sinais nas declarações que estão sendo dadas pela Petrobrás, pelo IBP, pelo relatório do TCU – que considerou o conteúdo local reserva de mercado –, feito praticamente só com base nas informações da Petrobrás e do IBP. Era uma visão distorcida, porque só ouviu um lado dos envolvidos, sem ouvir a indústria. Isso foi um dos motivos da criação do movimento Produz Brasil, unindo sete federações e sete entidades de classe, para termos voz nessa discussão. Chegamos à conclusão de que precisávamos unir vozes para tentar mudar essa tendência de perda de empregos e projetos no Brasil.
Esse movimento leva ao governo também propostas para que as compras sejam viabilizadas no Brasil. Existe competitividade aqui. Para se ter ideia, a Abimaq hoje está exportando 44% da sua produção, então temos competitividade internacional. Mas não se pode comparar tudo com produtos da China, porque são questões muito complexas.
2- Quais seriam as soluções para os problemas que o país atravessa?
As petroleiras querem um conteúdo local global. Estamos pleiteando que existam cinco macro-segmentos. Porque se for global, pode ter só atividades de baixo valor agregado. Por exemplo, o projeto tem um peso muito pequeno no preço, mas isso precisa estar contemplado, porque tem uma importância fundamental. É um dos exemplos que estão no documento que entregamos ao governo. Os três tópicos principais são essa divisão do conteúdo local em cinco sessões; a regulamentação da concessão do waiver, para que a indústria consiga entender onde não está tendo a venda, para tomarmos ações corretivas; e a extensão do Repetro para outros elos da cadeia, já que hoje não chega aos fabricantes de bens e serviços.
O país precisa adotar medidas que promovam a viabilidade para a indústria crescer, porque é ela que faz o país se mover. É ela que tem solidez para isso.
3- Quais as perspectivas para 2017? Pessimistas ou otimistas?
As perspectivas vão depender muito desses pontos, porque se o conteúdo local global for implantado, realmente vamos ficar bastante preocupados com o que pode acontecer.
Além disso, tem a questão dos leilões passados, com carteiras grandes de investimentos a serem feitos, como os campos de Cessão Onerosa, as concessões do pré-sal e o de partilha (Libra), além dos ativos de outras operadoras. As contas totais estimam que haja 30 bilhões de barris nas reservas de todas essas áreas, então é importante termos uma sinalização em relação ao conteúdo local, para sabermos como a indústria vai se posicionar.
Então, se houver uma sinalização positiva, com a retomada das encomendas, acreditamos numa recuperação gradual. É importante inverter a tendência de paralisação e essas nossas propostas vão neste sentido, de reanimar a indústria. Caso contrário, vai ser o caos.
Daniel Moczydlower – Presidente da Embraer Systems
1- Como analisa os acontecimentos de 2016 em seu setor?
Houve uma reversão de expectativas bastante clara no setor de petróleo & gás no Brasil em 2016 a partir da mudança de governo, criando um ambiente em princípio mais propício para destravar os investimentos e viabilizar uma retomada a médio/longo prazo. São destaques positivos a acolhida de diversos itens da agenda da Indústria, que vinha sendo defendida por entidades como o IBP, e também o trabalho que vem sendo conduzido com muita seriedade pela nova gestão da Petrobrás.
No cenário mundial, a estabilização do preço do barril na faixa dos US$ 40-50 vem criando uma nova realidade para os players desta indústria, cujas respostas têm sido rápidas na repriorização dos investimentos e, principalmente, na busca de soluções para o aumento de eficiência e de confiabilidade nas suas operações, o que também cria oportunidades para maior colaboração entre empresas e entre indústrias, e tem fomentado a inovação e adoção de novas tecnologias e modelos de negócio.
2- Quais seriam as soluções para os problemas que o país atravessa?
É preciso que reconheçamos como cidadãos que há limites para a atuação do Estado na promoção do bem estar social e que a trajetória de aumento de despesas do Governo em descasamento com as receitas há muito se tornou insustentável no Brasil, pois praticamente não há mais espaço para aumento de carga tributária. A maneira como se estruturou o gasto público acabou criando distorções entre trabalhadores do setor público e do privado em termos de remuneração, estabilidade e seguridade social. Se estas questões não forem enfrentadas de frente pela boa política, com uma discussão ampla, transparente e consequente a respeito de prioridades e de medidas que não podem mais ser adiadas, podemos ter um aprofundamento da crise. Isso geraria o espalhamento de situações como as que já vivem infelizmente os cidadãos e servidores dos estados do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais.
3- Quais as perspectivas para 2017? Pessimistas ou otimistas?
Para o Brasil, tudo vai depender das decisões que o país tomar na encruzilhada em que se encontra. Se não houver recuo no combate à corrupção e se for aproveitada a oportunidade de rediscutir o tamanho e o papel do Estado, então as perspectivas serão positivas, mesmo que a retomada da atividade econômica ainda leve mais alguns anos e não se concretize inteiramente em 2017. Já no setor mundial de petróleo, vemos uma boa perspectiva de adaptação da indústria ao novo cenário de preços e percebemos uma necessidade de gradual retomada dos investimentos em exploração e produção para fazer frente à demanda de um horizonte de 5-10 anos. Mesmo que o crescimento da demanda mundial tenha ocorrido e continue ocorrendo a taxas cada vez menores, ainda assim o decaimento natural da produção vai criar um gap relevante entre oferta e demanda na ausência destes novos investimentos.
Duas questões a meu ver basilares devem ser discutidas mais amiúde segundo enxergo o negócio petróleo. A primeira, abordada pelo senhor Aberto, versa sobre a preservação ou não do conteúdo local e por conseguinte da sobreviv?ncia e desenvolvimento da empresa nacional. Óbvio que há grandes problemas que precisam ser resolvidos mas a preservação do conteúdo nacional e a renovação do Repetro devem ser a política primordial, alëm de grandes e necessária discussões entre as federações da indústria e associados, onde a Petrobrás e IBP deveriam ter papel preponderante na proposições de soluções para os gargalos atuais, que depõem contra o… Read more »