YGN BRASIL VAI AJUDAR NA TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO ENTRE DIFERENTES GERAÇÕES DA INDÚSTRIA NUCLEAR
A indústria de energia nuclear vive há alguns anos sob o risco da perda de conhecimento tecnológico, adquirido ao longo de décadas, que pode acabar não encontrando novos representantes do setor, já que muitos dos profissionais mais experientes estão se aposentando e há poucas perspectivas para os jovens ingressantes no cenário nacional. A Associação Brasileira para Desenvolvimento das Atividades Nucleares (ABDAN) aponta essa preocupação constantemente e sempre está buscando formas de incentivar as novas gerações a se envolverem com a indústria, sendo que agora os próprios jovens profissionais trouxeram ideias positivas para esse processo.
Duas jovens estudantes de engenharia nuclear, Domênica Dalvi e Larissa Paizante, conheceram no exterior a organização internacional Young Generation Network, que atua em todo o mundo com este propósito, e foram atrás do grupo em busca de criar uma unidade nacional. No caminho, pediram auxílio ao presidente da ABDAN, Antonio Müller, que colocou a associação à disposição delas para apoiar a iniciativa. A YGN Global também se entusiasmou e já realizou inclusive uma missão oficial ao Brasil, com representantes de diversos países, como EUA, Rússia, Índia e Reino Unido, entre outros.
O gerente de comunicação da YGN Global, Lubomir Mitev, que esteve presente na visita, contou, em entrevista conjunta com a estudante Domênica Dalvi, que a delegação ficou impressionada com o que viu no país e sugeriu que algumas das experiências brasileiras fossem apresentadas no próximo Congresso Nuclear Internacional da Juventude (IYNC, na sigla em inglês), que vai acontecer na cidade de Hangzhou, na China, entre os dias 24 e 30 de julho deste ano. Domênica agora vem se empenhando para estruturar a YGN nacional e tem grandes expectativas com o evento na China.
Como será a atuação da YGN no Brasil?
Domênica Dalvi – A atuação da YGN no Brasil buscará divulgar e expandir os conhecimentos sobre a área nuclear em todos os seus aspectos – energético, médico, radioproteção, ambiental etc. Também buscará aproximar os profissionais recém-formados das empresas e companhias que trabalham neste setor.
A fim de divulgar informações e conhecimento, a YGN terá projetos que alcançarão toda a população, de crianças a idosos, em uma linguagem de fácil entendimento e de forma dinâmica. Além de proporcionar o compartilhamento de experiências entre os membros da YGN Brasil e entre a YGN e os novos na área.
Como surgiu a ideia de criar uma delegação da YGN no Brasil?
Domênica Dalvi – Ainda não existia no Brasil e nós buscamos trazê-la para cá, para trocar e passar conhecimento de quem está se aposentando para quem está se formando, como os profissionais da CNEN e da Eletronuclear. Além disso, para procurar todo tipo de contato e informação para passar a escolas e locais importantes, para promover a energia nuclear.
Lubomir Mitev – O Congresso Nuclear Internacional da Juventude (International Youth Nuclear Congress – IYNC) foi criado em 1998, por jovens profissionais da indústria nuclear. Eles reconheceram o ganho que poderia ser gerado com uma rede de networking internacional formada por jovens, com o intuito de promover e divulgar os benefícios da tecnologia nuclear, compartilhando conhecimento para além das fronteiras de gerações e de países.
O primeiro encontro foi realizado em abril de 2000, com representantes de 30 países. O Congresso vem sendo organizado de dois em dois anos desde então, sendo que o próximo será em Hangzhou, na China, entre os dias 24 e 30 de julho deste ano.
Como foi a visita ao Brasil e quem fez parte dela?
Lubomir Mitev – Uma delegação do IYNC com representantes dos Estados Unidos, da Alemanha, do Reino Unido, da Índia, da Rússia e da Espanha viajou à América Latina entre os dias 2 e 10 de janeiro deste ano, para encontrar jovens profissionais do setor nuclear representando o Brasil, a Argentina, o Equador, a Bolívia e o Peru, para o desenvolvimento de atividades da YGN na região.
Domênica Dalvi – Vieram uma das fundadoras da YGN, August Fern, o Tesoureiro da IYNC, Daniel O’ Connor, a Presidente da IYNC, Melissa Crawford, o Gerente de Comunicação da IYNC, Lubomir Mitev, a vice-presidente da IYNC, Ekaterina Ryabikovskaya, assim como representantes da organização na Argentina, na Europa, no Equador e nós duas, do Brasil.
Quando a YGN passou a ter representações a região?
Lubomir Mitev – A unidade LA YGN iniciou suas atividades em 2014, na Argentina, com um forte compromisso de ampliar as atividades na região, promovendo os usos pacíficos da energia nuclear e buscando levar uma mensagem clara, objetiva e fundamental para o público não-técnico sobre o que é a energia nuclear. Pretendemos buscar o maior número possível de jovens profissionais nas indústrias e nos centros de pesquisas locais.
Quais são os objetivos da YGN no Brasil e quais atividades pretende promover?
Lubomir Mitev – O objetivo é buscar novas formas de comunicar os benefícios da energia nuclear como parte de uma matriz energética balanceada, promover os usos pacíficos da tecnologia nuclear para o bem estar da humanidade, e para transferir conhecimento da geração de líderes atuais para as próximas gerações, cruzando as fronteiras geográficas.
O foco da nossa missão à América Latina neste mês foi dar suporte aos jovens profissionais interessados em buscar mais integração no setor nuclear.
Além disso, o plano é levar mais conhecimento sobre o segmento ao público em geral, abrir canais de comunicação entre jovens pesquisadores e realizar conferências com especialistas.
Como são financiadas essas atividades e a instituição em si?
Lubomir Mitev – Todas as atividades são planejadas, coordenadas e executadas por jovens profissionais voluntários, sem o recebimento de pagamentos. As organizações são lideradas de forma independente por essas pessoas, que vêm de empresas e universidades. Há empresas que fornecem apoio financeiro por reconhecerem a lacuna de conhecimento existente entre as gerações novas e antigas. Ainda assim, mesmo que tenhamos um espaço aberto para o patrocínio a eventos, é importante enfatizar que nenhuma companhia, órgão regulador ou associação direciona as atividades da organização.
Qual a impressão da delegação em relação à indústria nuclear brasileira?
Lubomir Mitev – Foi incrível ver o progresso que o Brasil fez em relação ao desenvolvimento de sua indústria nuclear, além de ouvir os planos de crescimento na área para o futuro. Tivemos a oportunidade de visitar a usina angra 2 e presenciar o estágio avançado da construção de Angra 3. Foi muito bom saber sobre o alto nível de integração da usina e de seus trabalhadores com a comunidade local.
Também notamos vários desafios similares aos que percebemos em outros países, como o encorajamento de jovens profissionais talentosos a buscarem carreiras na área de tecnologia nuclear, assim como a transferência de conhecimento da indústria para as novas gerações.
Como os jovens profissionais interessados em participar das atividades da YGN podem se envolver com o projeto?
Lubomir Mitev – Através das mídias sociais, claro! Além de páginas no Facebook e no Twitter, também temos um website global – www.iync.org –, uma página para a América Latina – http://ajnucleares.wix.com/ajnl – e em breve teremos uma para a YGN Brasil. Eles podem se envolver, participar de reuniões, se associarem a comitês, enviar estudos, ou até e-mails com suas ideias. Inclusive estamos aceitando resumos técnicos de apresentações de jovens profissionais da América Latina até o final de janeiro para o próximo congresso.
Pretendem buscar novas parcerias para o projeto?
Domênica Dalvi – Com certeza. Empresas parceiras são sempre bem vindas, e é muito importante termos o apoio delas, tanto estatais quanto privadas, da área nuclear. São elas que nos permitirão estar nos congressos e reuniões nacionais e internacionais, e serão elas que nos darão suporte quanto à questão financeira para recebermos os mesmos aqui no país.
Como o Brasil poderia incentivar mais jovens a procurarem essa indústria?
Lubomir Mitev – Essa é uma questão que afeta muitos países e não é simples. Uma das formas é a identificação e criação de incentivos para o público jovem se engajar com a indústria nuclear, o que é uma de nossas principais tarefas. É claro que um governo que promove o estudo de engenharia e de matérias científicas nas escolas também contribui para isso, mas é preciso mais do que isso para mostrar aos jovens que o trabalho dele na indústria nuclear não trará apenas vantagens pessoais, mas sim muitos benefícios para toda a sociedade. O trabalho de integração com a comunidade local visto em Angra é um ótimo exemplo disso e definitivamente pode ser compartilhado durante o congresso.
Como analisa o grau de informação sobre o setor nuclear? O que pode ser feito para melhorar esse cenário?
Lubomir Mitev – Essa questão é uma das principais motivações para a existência da YGN. Queremos nos comunicar com o público não-técnico sobre os benefícios da energia nuclear e mostrar que essa indústria é uma solução da engenharia para um grande problema global, que é o suprimento de energia. O ser humano precisa viver e se desenvolver, e a energia nuclear ajuda nesse processo. É uma tecnologia que, como qualquer solução de engenharia, tem lados bons e lados ruins, mas consideramos a transparência fundamental. Nós não escondemos os problemas para mostrar apenas os benefícios. Ao contrário, nos esforçamos para mostrar todos os aspectos de forma clara, responsável e acessível para todos.
Como vê as perspectivas no Brasil para os jovens profissionais do setor nuclear?
Lubomir Mitev – As perspectivas para os jovens no setor nuclear brasileiro não poderiam ser melhores. O Brasil é um país incrível, com uma mão de obra jovem, eficiente e trabalhadora. A América Latina deve começar a trabalhar mais fortemente para o desenvolvimento da indústria nuclear na região, e como o Brasil e a Argentina são os únicos países com indústria nucleares já estabelecidas, devem tomar a dianteira nesse processo.
No Brasil, parece que é necessária uma forte decisão política para confirmar o apoio do governo à energia nuclear. O país tem recursos humanos e infraestrutura para estar entre os maiores desenvolvedores, pesquisadores e capacitores do setor nuclear. Esse será um dos desafios para a unidade YGN Brasil.
Quais devem ser os primeiros projetos em vista? Algum já em 2016?
Domênica Dalvi – Nosso primeiro projeto é estruturar a YGN brasileira, e é nisso em que estamos trabalhando agora. Depois, junto com a Argentina e outros países da América Latina vamos organizar a LA YGN – YGN Latino Americana.
Em julho deste ano acontecerá na China a 9ª edição da IYNC – Internacional Youth Nuclear Congress. Este evento bianual é organizado, conjuntamente, por todas as YGN, representando os seis continentes, e tem o propósito de compartilhar conhecimento e experiência em um congresso culturalmente diverso. Esperamos fazer parte deste grande evento também.
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