EXPERIÊNCIA OFFSHORE E POTENCIAL DE PRODUÇÃO ELEVAM O BRASIL A PAPEL DE PROTAGONISTA EM HIDROGÊNIO, DIZ PWC

Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –

Adriano Correia (27)A corrida mundial pela transição energética está agora em marcha alta, especialmente pelos recentes movimentos feitos na Europa – que está em um esforço para reduzir sua dependência de energia da Rússia. Além disso, os países estão preocupados com a questão climática e, para tanto, diminuir o uso de fontes fósseis é vital para cumprir as metas globais ambientais. É dentro desse cenário que o Brasil pode assumir um papel de protagonista na transição energética mundial, conforme afirma o sócio da consultoria PwC Brasil, Adriano Correia, nosso entrevistado desta quinta-feira (25). Ele aponta a oportunidade para produção de hidrogênio (H2) no país, lembrando que o Nordeste tem um grande potencial para gerar energia eólica offshore que pode ser usada na produção de H2. “O Brasil já parte nesse tema muito bem posicionado para ter protagonismo e liderar a transição energética, sendo um dos países líderes no comércio internacional de hidrogênio verde”, avaliou. Contudo, Correia também alerta que o nosso país precisa endereçar questões regulatórias, além de impulsionar ainda mais o recém-lançado Programa Nacional do Hidrogênio. “Resolvido isso, o Brasil estará posicionado como um dos principais players para exportação de hidrogênio no mundo”, projetou. Por fim, o entrevistado afirmou que a experiência brasileira em produção de óleo e gás no ambiente offshore certamente será um diferencial na geração de energia eólica em alto-mar. “Essa capacitação técnica e experiência são ativos muito importantes no desenvolvimento de projetos offshore. Eu acho que isso tende a dar mais segurança em termos técnicos e tende a acelerar alguns desses projetos”, concluiu.

Para começar nossa entrevista, gostaria que fizesse uma leitura sobre como está o processo de transição energética no Brasil e no mundo.

cop26A discussão sobre descarbonização já vem de algum tempo, não é uma novidade. O que mudou nos últimos meses é que, depois da COP-26, ficou muito evidente que todas as ações tomadas até aquela altura não eram suficientes para atingir as metas e limitar o aumento da temperatura a 1,5 °C até o final do século. Isso ficou claríssimo. Os efeitos do aquecimento acima desse patamar seriam imprevisíveis.

Veja os exemplos do verão no hemisfério Norte, os níveis de chuva fora do normal no Nordeste, e a crise hídrica no Brasil em 2021. Estamos vendo algumas amostras importantes de que o tema clima é urgente. A boa notícia é que os países intensificaram suas ações e têm levado o assunto muito a sério. Muito a sério mesmo. De fato, tem muita gente série trabalhando e investindo na mudança de modelo de negócio e no desenvolvimento de novas fontes energéticas.

Contudo, não basta pensar só “no que deve ser feito”. Agora vem a parte mais complexa, que é “como fazer”. A preocupação é como vamos implementar essas medidas e planos climáticos que foram assumidos. As siderúrgicas, por exemplo, representam 8% das emissões de CO2 no mundo. Alguns apontam que o uso de hidrogênio verde nesse setor resolveria o problema das emissões. Mas existem alguns componentes que são super complexos e muitos deles ainda precisam ser testados. Por exemplo: imagine a quantidade de energia necessária para fazer eletrólise do hidrogênio verde e suprir uma planta siderúrgica. O volume de energia seria absurdamente alto.

Falando especificamente do Brasil, quais são os principais desafios em termos de descarbonização?

O-que-falta-para-eolica-offshore-participar-dos-leiloes-de-energia-no-Brasil-2Um desafio para esse tema, em particular, é ter um pouco mais de clareza em relação à regulamentação. Aqui, dois tópicos são super relevantes. O primeiro deles é o mercado de carbono. Houve uma evolução importante com o decreto publicado em maio (Decreto nº 11.075/2022). Foi um começo, mas esse decreto precisa ser regulamentado. Agora precisamos começar a, de fato, tomar os benefícios que um mercado de carbono pode trazer.

O segundo tema que precisa de regulamentação é a fonte eólica offshore. Eu, particularmente, acredito muito nas eólicas offshore para a produção de hidrogênio verde no Nordeste do país. Acho que temos um potencial incrível. As condições daquela região são perfeitas para isso. Temos todas as condições e potencial para sermos protagonistas no hidrogênio verde, mas para isso é preciso ter a regulamentação clara para que os investidores tenham segurança.

Superados esses desafios, qual papel o Brasil poderia assumir no mercado global de energia?

hidrogenioEu sou um entusiasta do Brasil na Economia Verde. O Brasil já parte nesse tema muito bem posicionado para ter protagonismo e liderar a transição energética, sendo um dos países líderes no comércio internacional de hidrogênio verde. Temos um potencial enorme de produção e poderíamos produzir não só para o mercado local, mas para exportar também.

Inclusive, a PwC tem um estudo que analisa os principais players do mundo em termos de potencial de hidrogênio verde. Atualmente, o Brasil só não está melhor ranqueado nesse mapa em função de questões estruturais. Ainda falta dar celeridade a algumas questões, como o Programa Nacional do Hidrogênio. Resolvido isso, o Brasil estará posicionado como um dos principais players para exportação de hidrogênio no mundo.

A nossa experiência em produzir óleo e gás no offshore pode ajudar também na geração de energia eólica em alto-mar?

O Brasil tem bastante experiência em operar em alto-mar. Essa capacitação técnica e experiência são ativos muito importantes no desenvolvimento de projetos offshore. Eu acho que isso tende a dar mais segurança em termos técnicos e tende a acelerar alguns desses projetos. Essa experiência que o Brasil adquiriu ao longo dos anos, especialmente com a exploração de petróleo em alto-mar, pode ajudar a acelerar o desenho de cenários para que decisões de investimentos possam ser tomadas.

Seria interessante se pudesse compartilhar conosco algumas previsões sobre como será a demanda de hidrogênio verde no futuro.

Hidrogenio-VerdeA PwC tem também um estudo sobre a demanda do hidrogênio verde. Nós percebemos que a demanda, de fato, vai começar a ter um crescimento importante a partir de 2030. Até lá, podemos ter um crescimento, mas que não será exponencial. 

Esse cenário talvez mude em virtude do conflito da Ucrânia. Havia muito receio de que a guerra no Leste Europeu pudesse criar algum tipo de retrocesso na transição energética, especialmente no momento em que a Europa precisa ter mais segurança energética e voltou a usar carvão. Mas eu vejo que o conflito na Ucrânia vai acelerar muito o desenvolvimento de novas fontes energéticas, em função da necessidade de reduzir a dependência do gás e do petróleo russo.

A Europa precisa desenvolver o mais rápido possível uma alternativa energética e o hidrogênio é uma delas. Por isso, o cenário que traçamos de um aumento de demanda por hidrogênio pode ser antecipado, em função desses investimentos mais pesados no desenvolvimento das fontes alternativas.

Para encerrar nossa conversa, quais são as novidades que a PwC pretende apresentar ao mercado brasileiro?

Estamos trabalhando bastante na nossa operação para influenciar em questões importantes para a nossa sociedade. Isso parte do nosso propósito de resolver problemas complexos. A PwC tem trabalhado em diversas frentes. Vamos lançar muitos conteúdos nos próximos 12 meses, em termos de estudos, provocações e novas tecnologias para auxiliar na interação com os nossos clientes e com o mercado, de uma forma geral. Nos próximos meses, a PwC deve lançar um material sobre hidrogênio verde no Brasil.

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