EXPLORAÇÃO EM OFFSHORE AINDA NÃO ABRIU OS OLHOS PARA RISCOS DE TEMPESTADES
Por Daniel Fraiha / Petronotícias
A queda de raios na rede de transmissão da Eletrobrás Amazonas Energia fez com que o sistema elétrico de Manaus e mais dois municípios amazonenses fosse desligado na última semana, deixando as cidades sem energia por algumas horas. O Sistema Meteorológico do Paraná (Simepar), que atua para o governo, mas também tem um perfil privado, é especializado no monitoramento de situações como a que ocorreu no Norte do país, e um de seus meteorologistas, Marco Jusevicius, revela que além do mercado de energia elétrica, a área de óleo e gás tem demandado cada vez mais os serviços da instituição. Jusevicius contou que estão tentando mostrar às empresas de exploração que em offshore também há vulnerabilidades em relação ao clima, mas ainda não houve o retorno esperado.
O Simepar tem um vínculo com a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Estado do Paraná, mas é uma entidade de perfil privado, com a maior parte de seus clientes no setor elétrico. “Prestamos serviços para as áreas do governo sem custo, mas nossa sustentação vem da prestação de serviços para terceiros, como empresas do setor elétrico, a Petrobrás, entre outras”, afirmou Jusevicius.
O início dos trabalhos da instituição era exclusivamente voltado para o setor elétrico, com monitoramento de linhas de transmissão e sistemas ligados à geração e distribuição da energia. No entanto, a partir de 2002 a Petrobrás começou a conversar com os representantes do Simepar, abrindo portas para utilizar os serviços de monitoramento climático nas refinarias, que eram pontos onde já haviam ocorrido acidentes.
Em 2003 foi fechado o primeiro acordo. A estatal queria que o Simepar monitorasse a incidência de raios em quatro refinarias: Refinaria de Paulínia (Replan), Refinaria Presidente Bernardes – Cubatão (RPBC), Refinaria Duque de Caxias (Reduc) e Refinaria Presidente Getúlio Vargas – Araucária (Repar). “A Petrobrás viu que havia a necessidade de proteger os funcionários que trabalhavam em locais externos das refinarias, mas não bastavam serviços de previsão do tempo, era preciso um sistema de alerta para momentos críticos. Então formatamos um serviço de análise de todas as informações meteorológicas das áreas específicas das refinarias escolhidas e criamos um sistema de alerta para a chegada de tempestades”, contou o meteorologista.
Expansão para os canteiros de obras
O início dos trabalhos era focado nas refinarias, sem que houvesse um monitoramento de raios ou tempestades nos canteiros de obras da Petrobrás em outras locações. O serviço caminhava para se tornar exigência na área de Qualidade, Segurança, Meio Ambiente e Saúde (QSMS) da estatal, mas a extensão da cobertura se restringia a outras refinarias. Até que uma fatalidade abriu os olhos de todos para a necessidade do monitoramento em outros casos.
Entre 2005 e 2006, quando funcionários da empresa trabalhavam em uma obra do gasoduto Paulínia-Japeri, a seis quilômetros da Replan, o alerta para que trabalhadores deixassem as atividades e se protegessem foi dado dentro da refinaria. Como os operários eram da parte de engenharia, e não estavam dentro da planta de refino, não receberam o aviso. Perto de onde estavam, havia uma única árvore que projetava sombra no local, justamente onde o motorista do ônibus responsável pelo transporte de todos estacionou o veículo. Sem o aviso com antecedência, os trabalhadores só se deslocaram das obras para o interior do automóvel quando o tempo já havia virado, sem saber que andavam em direção ao exato ponto em que um raio cairia. Quando um dos homens se apoiou na porta do ônibus para entrar, a descarga elétrica desceu dos céus tirando-lhe a vida e ferindo outro que vinha logo atrás. Foi o ponto-chave para que a Petrobrás passasse a exigir o serviço como norma de segurança também em seus canteiros de obras e nas atividades de suas subcontratadas.
“O risco de alguém morrer por queda de raio é pequeno, mas se você tem um canteiro de obras com duas mil pessoas, com uma estrutura de aço de 100 metros de altura, como guindastes, gruas etc, aquilo vira um pára-raio, e há muita gente vulnerável. Precisamos mostrar para as pessoas que é uma coisa importante. A Petrobrás viu primeiro, e muitas empresas olham para o serviço se espelhando nela”, afirmou Jusevicius.
Nordeste sem raios
O Simepar conta com informações de uma rede de detecção de raios (Rindat – rede integrada nacional de detecção de descargas atmosféricas) para emitir alertas e realizar o monitoramento, mas o sistema, que é uma parceria com Furnas, Cemig e Inpe, está concentrado nas regiões sul, sudeste e centro-oeste. “No nordeste eles têm uma percepção de que lá há pouca incidência de raios, então ainda não houve esse investimento”, afirmou o meteorologista.
Ele conta que chegaram a apresentar um plano para empreiteiras na região, mas não houve retorno. Segundo Jusevicius, Pernambuco, onde está sendo construída a Refinaria Abreu e Lima (Rnest), é o estado da região em que caem menos raios, por isso as empresas não se movimentaram muito.
Offshore
O monitoramento de tempestades e raios em offshore ainda não foi alavancado, segundo o funcionário do Simepar, mas ele afirma que as Bacias de Campos e Santos apresentam uma atividade elétrica forte. “Não tanto como no continente, mas também não é pequena como a que vemos em áreas oceânicas”, afirma Jusevicius, que vê no pré-sal uma oportunidade maior por movimentar a cadeia interna do que por gerar novos negócios em mar.
Na visão dele, ainda não houve a atenção necessária das empresas de exploração para os riscos de tempestades e descargas elétricas em navios e plataformas, mas conta que já receberam uma chamada para apresentar o trabalho. “Uma vez fomos convidados para fazer uma apresentação sobre os riscos de tempestades e raios em offshore e mostramos que também se trata de uma área vulnerável, mas ainda não tivemos retorno”, informou.
A influência da área de óleo e gás vem aumentando nas atividades do Simepar, e já chega a representar entre 25% e 30% dos serviços prestados pela instituição. Jusevicius conta que esse número vem crescendo nos últimos anos e deve continuar neste caminho daqui para frente. “Estamos prestando serviços de alerta meteorológico para as obras do Super Porto do Açu, da OSX, em São João da Barra-RJ; estamos com um serviço de alerta de rajadas de vento para a UTC, em uma obra deles na Refap; já atendemos também a Odebrecht; a Schahin, entre outras empresas”, explicou.
A instituição está de olho nos novos negócios que o setor de óleo e gás promete para os próximos anos, e espera que seus serviços entrem na conta dos novos empreendimentos. “Com a crise de 2008, algumas empresas relaxaram suas próprias exigências para obras, mas a área de óleo e gás promete bastante”, afirmou Jusevicius, que assegura não terem ocorrido mais acidentes em refinarias por causa de raios depois que os serviços de monitoramento passaram a fazer parte das exigências para se trabalhar nas plantas.
Excelente matéria e muita oportuna face à ocorrência de tantos acidentes que poderiam ter sido evitados ou pelo menos minimizados caso os alertas dos especilistas fossem avaliados com seriedade e competência para tomada de decisões preventivas ao invés de reativas ou corretivas.
O problema não é a existência de riscos pois isso é inerente a qualquer tipo atividade, mas a forma como esses eles tratados .
Agredeço ao seu pertinente comentário e concordo com o seu ponto de vista sobre os riscos: eles existem e cabe a nós geri-los da maneira mais adequada possível.
No caso específico de nosso trabalho (alerta de tempestades) a informação é crítica e as ações de proteção devem ser tomadas em um curto espaço de tempo. Para o bom resultado desta abordagem são necessárias ferramentas de monitoramento e análise adequadas, pessoal técnico (meteorologistas) altamente capacitados e um ambiente operacional que permita a esses profissionais trabalhar mesmo sob severas contingências, pois são nesses momentos que essas informações são fundamentais. Abraço.