FALTA DE EXPERIÊNCIA EM OBRAS DO SETOR NUCLEAR, PREÇO 16% ABAIXO DA META E O COMPLIANCE PODEM COLOCAR EM RISCO VENCEDOR DA LICITAÇÃO DE ANGRA 3
A Eletronuclear precisará de toda atenção para que as obras de Angra 3 não engasguem novamente. Nesta segunda-feira (26), começará a avaliação dos possíveis recursos do resultado da licitação que escolheu o consórcio de empresas que retomará as obras da usina, dentro do Plano de Aceleração do Caminho Crítico. Mas precisa acelerar mesmo. O Consórcio vencedor, formado pela Ferreira Guedes, Matricial e Adtranz, parece ter zero experiência em obras do setor nuclear. A Ferreira Guedes e Adtranz, inclusive, são empresas de um mesmo grupo econômico, o Grupo Agis.
A Ferreira Guedes diz atuar em obras ferroviárias, rodoviárias, portuárias, hidráulicas, saneamento, Industriais e edificações. A Construtora Ferreira Guedes teve alguns apontamentos na Lava Jato, como na Operação Abismo, quando estava associada à Construcap em uma obra no Cenpes, o Centro de Pesquisa da Petrobrás. (Aliás, a Construcap deu um preço muito próximo da Ferreira Guedes, e ficou em segundo lugar). Erasto Messias Júnior, então sócio da Ferreira Guedes, chegou a ser preso mas, ao fim do processo, acabou absolvido. A Ferreira Guedes foi responsável também pelas obras de um viaduto que desabou em Fortaleza em 2016 e integrou com a Queiroz Galvão o consórcio responsável pelas obras de mobilidade urbana no entorno da Arena das Dunas em Natal. A ADtranz é especializada em sistemas de energia, telecomunicações, automação, ventilação, com ênfase no segmento metro ferroviário. O Petronoticias procurou falar com Patrícia Moreira, Diretora de Compliance do Grupo Agis, mas não conseguiu. A Matricial, é uma empresa de construções capixaba, do Município de Serra é especializada em Construção e Manutenção Civil; Tratamento anticorrosivo; Recuperação de concreto e Tapamentos Metálicos, segundo a própria empresa.
Além da falta de experiência em obras do setor nuclear o consórcio vencedor apresentou um preço 16% abaixo do levantamento feito pela própria Eletronuclear. É uma prática que acaba saindo mais caro. Muito se viu na Petrobrás. Com a obra em andamento, eram solicitados aditivos que acabam encarecendo as obras sobremaneira. E Angra 3 não poderá admitir um equívoco desta natureza. Veja os preços apresentados pelos concorrentes:
1º Lugar – Ferreira Guedes/Matricial/Adtranz – R$ 292 milhões;
2º Lugar – Construcap – R$293, 4 milhões;
3º Lugar – NKT Angra 3- ( Engevix/KPE/Toyo Setal)- R$ 309 milhões;
4º Lugar – Conenge/SC/Archel – R$ 343 milhões;
5º Lugar – ECB/ MPE Engenharia – R$ 447,5 Milhões;
6º Lugar – CEJEN/Rio Vivo/IC Supply – 448,5 Milhões;
7º Lugar – OECI S/A – R$ 455 Milhões
Para lembrar, o Plano de Aceleração do Caminho Crítico de Angra 3 contempla uma série de atividades que visam acelerar a construção da usina, garantindo que a planta entre em operação dentro do prazo previsto –novembro de 2026. Entre as medidas previstas no plano, estão a conclusão da superestrutura de concreto do edifício do reator de Angra 3. Além disso, será feita uma parte importante da montagem eletromecânica, que inclui o fechamento da esfera de aço da contenção e a instalação da piscina de combustíveis usados, da ponte polar e do guindaste do semipórtico. O índice atual de conclusão da construção de Angra 3 é de 65%. A partir da próxima segunda, os licitantes que manifestaram a intenção de recorrer do resultado poderão apresentar as razões dos recursos dentro um prazo de até cinco dias úteis. A partir de então, a Eletronuclear terá dez dias úteis para fazer a análise dos recursos e contrarrazões apresentados. O consórcio vencedor será submetido a uma avaliação de compliance, antes de o processo ser encaminhado à autoridade competente para homologação.
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