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FALTA DE INTERESSE DO GOVERNO EM ANGRA 3 LEVA SETOR NUCLEAR A DUVIDAR QUE GESTÃO DE LULA CONSEGUIRÁ RETOMAR A OBRA

celso-cunha (3)O momento atual do setor nuclear pode ser descrito pela lógica do “copo meio cheio e meio vazio”. De um lado, o segmento ainda celebra a aprovação dos diretores que irão compor a Autoridade Nacional de Segurança Nuclear (ANSN). A criação da nova autarquia regulatória era uma pendência de quase três décadas e finalmente saiu do papel na última semana. Por outro lado, apesar do avanço representado pela ANSN, o setor nuclear sente os efeitos do desalento do governo em relação à obra de Angra 3. Sem perspectivas de retomada da construção, o presidente da Associação Brasileira para Desenvolvimento das Atividades Nucleares (ABDAN), Celso Cunha, fez críticas contundentes ao governo federal. “Acredito que é o momento agora de preparar o setor para o próximo governo, porque neste governo já não se dá mais partida em nada, na nossa opinião. Não acreditamos que o governo Lula tenha capacidade de reiniciar essa obra”, declarou. O dirigente da associação classifica como “uma vergonha total” que um empreendimento desse porte permaneça paralisado por décadas e destaca que, embora a troca de gestores no setor possa abrir espaço para mudanças, ainda é incerto se a retomada ocorrerá de forma eficaz. “O presidente Lula lançou a pedra fundamental de Angra 3, mas deixará um pedestal da ineficiência brasileira ao não concluir uma usina desse porte, que já está 65% pronta”, opinou.

Poderia começando com uma leitura sobre esse marco importante da aprovação dos diretores para a Autoridade Nacional de Segurança Nuclear? O que isso representa para o setor?

Alessandro Facure é o diretor-geral da recém-criada ANSN

Alessandro Facure é o diretor-geral da recém-criada ANSN

Essa foi uma boa notícia que o setor recebeu na semana passada, com a aprovação de Alessandro Facure, Lorena Posso e Ailton Dias para a diretoria da ANSN. Depois de quase 30 anos de discussão, finalmente temos uma autoridade nuclear no Brasil. No entanto, ela ainda está longe de estar estruturada. Ela nasce sem orçamento, precisa aguardar a migração de funcionários da CNEN e requer sede, cadeiras, mesas — enfim, toda a estrutura básica. Ainda assim, representa um ponto de partida relevante. Depois de 30 anos de luta, conseguimos efetivamente estabelecer uma autoridade, e isso será um marco importante.

A diretoria técnica sabe o que é necessário e está comprometida com a instituição. Enxergamos isso de forma muito positiva, especialmente considerando que a própria Diretoria de Radioproteção e Segurança Nuclear (DRS) da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) está discutindo os marcos regulatórios para os reatores de usinas nucleares, incluindo os SMRs. Essa discussão encontra-se em consulta pública, e acreditamos que a norma será publicada até novembro. A partir daí, a área regulatória do Brasil terá um crescimento significativo. Essa separação é desejada e recomendada pela Agência Internacional de Energia Atômica, portanto só vejo aspectos positivos nesse processo.

A ABDAN realizou nesta segunda-feira um seminário importante sobre a comunicação do setor nuclear. Qual foi o balanço do evento?

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Evento da ABDAN no Rio de Janeiro também reuniu executivos e representantes dos funcionários da Eletronuclear

Foi bastante positivo, com a participação de numerosos jornalistas. Contamos com painéis de debate político e a participação da Agência Internacional de Energia Atômica na área de comunicação. O debate foi muito enriquecedor, pois uma das vertentes importantes a ser desenvolvida no setor é a comunicação. Precisamos organizar, estruturar e colocar essas ações em prática para que as pessoas compreendam os temas corretamente, evitando a disseminação de informações incorretas.

É fundamental o trabalho dos jornalistas, que levam a verdade, explicam os assuntos e apresentam uma linguagem acessível, considerando que são temas muitas vezes complexos. O Nuclear Communication foi um sucesso; tivemos mais de 300 inscritos e o auditório completamente lotado. Fomos prestigiados por dois deputados federais, Júlio Lopes e Reimont, que possuem visões políticas distintas, o que contribuiu para enriquecer o debate.

A usina de Angra 3 acabou sendo mencionada em vários momentos do evento. Poderia nos atualizar sobre como o senhor está acompanhando as discussões (ou a falta delas) a respeito da retomada do projeto?

lulaEu acho que você colocou bem. Estamos em um momento de escassez de debate e de ausência de avanços. O governo não tem avançado nessa definição, e isso é uma situação lamentável. O presidente Lula lançou a pedra fundamental de Angra 3, mas deixará um pedestal da ineficiência brasileira ao não concluir uma usina desse porte, que já está 65% pronta. É uma vergonha total.

Estamos passando por um período de troca de gestores no setor, e esperamos que isso possa trazer algum progresso. Estou em Brasília para conversar com o novo presidente da ENBPar, Marlos Costa de Andrade. Já tive uma primeira reunião, e ele é uma pessoa muito motivada, que deseja implementar diversas ações.

Ao seu ver, há chance da obra ser retomada ainda no atual governo?

Angra 3

Angra 3

Acredito que é o momento agora de preparar o setor para o próximo governo, porque neste governo já não se dá mais partida em nada, na nossa opinião. Não acreditamos que o governo Lula tenha capacidade de reiniciar essa obra.

Mas tenho esperança de que pelo menos os problemas políticos e burocráticos sejam resolvidos. Tecnicamente e economicamente, já está mais que provado a viabilidade de Angra 3, mas há um grande problema que envolve a Eletrobras, que detém 70% das ações da Eletronuclear e não quer mais ficar no setor. Se o acionista majoritário não quer avançar com o projeto, como é que faz? Esse acionista é privado, e a privatização complicou muito o projeto. Essa é a verdade.

 

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