FEIRA DE CIÊNCIAS E ENGENHARIA DA USP INVESTE EM ALUNOS QUE DESENVOLVEM PROJETOS CIENTÍFICOS
Termina hoje a 10ª Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (FEBRACE) que acontece na Escola Politécnica da USP onde são apresentados 325 projetos desenvolvidos por alunos de escolas públicas e privadas. A Feira reúne diversos patrocinadores como a Petrobrás e o SEBRAE, que realizam palestras e premiam os alunos que revelam soluções inovadoras. Entre as premiações deste ano, os alunos contam com bolsas do CNPq e a participação na Feira Internacional de Ciências e Engenharia da Intel nos Estados Unidos, entre 13 e 18 de maio. A coordenadora do projeto, Roseli de Deus Lopes, conversou com o repórter Estephano Sant’Anna e falou sobre como o projeto trabalha para formar os profissionais de amanhã.
Como foram os primeiros dias de Feira?
Foram ótimos. Considerando a primeira edição que aconteceu em 2003, vemos que crescemos bastante e que a cada ano tem aumentado um pouquinho. Os classificados apresentaram trabalhos desenvolvidos para os avaliadores desde o primeiro dia. A Feira durou sempre até às 19 horas e foi aberta para o público em geral. Estamos recebemos a imprensa e avaliadores durante os três dias. Não só para conversar com os realizadores, mas também com os jovens que acabam contagiando outros professores e estudantes, para que transformem a escola em espaços mais criativos. Apesar da FEBRACE ter abrangência nacional, não esperamos um público gigante porque não faz parte do projeto.
Esta é a décima edição da FEBRACE. Como foi o trabalho de vocês até aqui?
É de muito orgulho para todos nós. Hoje, recebemos profissionais que apresentaram seus projetos nas primeiras edições da FEBRACE e que já tem suas próprias empresas. O mais importante é ouví-los dizer que todo o estímulo veio com o nosso evento, que acabaram descobrindo potencial depois que perceberam que alguém acredita neles. De lá pra cá o trabalho tem crescido muito. Já estamos abraçando outras feiras de caráter investigativo, onde os alunos precisam contribuir trazendo conhecimento científico. Na primeira feira, contamos com 93 projetos. Hoje contamos com 150 finalistas de mais de 300 projetos apresentados.
Como nasceu a ideia?
Eu e minha equipe criamos a FEBRACE depois de muito, muito tempo de trabalho. Trabalhamos intensamente para que fossem criados mecanismos de apoio não só a FEBRACE, mas a outras feiras ao redor do Brasil. Lembro que íamos a Brasília todos os anos com a proposta de mostrar talentos do país, alunos que precisavam de maior valor. Nossa intenção era conseguir bolsas que intensificassem as parcerias das escolas com centros de pesquisa para que os alunos tivessem a chance de desenvolver projetos e abrir novos horizontes.
Os alunos dependem de um orientador para a construção dos projetos?
De certa forma, sim. É obrigatório que esse orientador seja maior de 21 anos, mas não precisa necessariamente ser um professor da escola… por exemplo, se o aluno conhece um vizinho que é pesquisador, já vale. A presença do orientador é necessária porque o aluno precisa de alguém que confira estratégias, verifique se o aluno vai mexer com alguma substância perigosa, etc. O orientador nunca faz o trabalho de pesquisa para o estudante, só que existe uma série de cuidados do ponto de vista ético e fundamental que implicam a existência de alguém capacitado para orientar esse aluno curioso.
Os finalistas ganham algum prêmio?
Sim. Além da própria FEBRACE, temos a participação de empresas, instituições e sociedades cientificas que colaboram com a entrega de prêmios e bolsas. Esse ano, dos 750 alunos inscritos, 70 alunos receberão bolsas do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Há premiações para os três primeiros lugares, divididos entre categorias. Cada categoria terá três vencedores com melhor desempenho. Além disso, 14 alunos serão selecionados para representar o Brasil numa feira internacional. Isso equivale a um total de nove projetos que serão apresentados em maio, na Pensilvânia.
Quem são as parcerias do evento e como elas atuam?
Temos o apoio do CNPq, do MEC, do CAPES, SEBRAE, PETROBRAS, Intel Educação, UNESCO, TVE Escola, entre outros. No primeiro dia, contamos com a participação de uma palestra da Petrobrás de repercussão excelente! Com muita técnica e entusiasmo, a empresa mostrou as oportunidades que a empresa tem. A gente pensa que é só em engenharia, mas não. Há muitas oportunidades no setor do óleo e gás e eu senti que, falar disso, ampliou os horizontes destes alunos. Também tivemos uma palestra do Instituto Votorantim.
As parcerias ajudam ao trazer profissionais das empresas para fazer avaliação nos prêmios gerais ou oferecendo prêmios especiais. A Marinha, por exemplo, sempre escolhe três projetos a ver com ambientabilidade marítima enquanto o Votorantim opina na classificação dos candidatos. Isso varia durante os anos.
É mais fácil pesquisar agora do que a 10 anos atrás (quando o projeto iniciou)?
Conforme o mundo se desenvolve, cada vez mais, os alunos ganham acesso a novas descobertas. A curiosidade é nata e, se alunos forem estimulados a um processo de descoberta, podem até mesmo fazer perguntas que os próprios orientadores não consigam responder. E isso é importante porque caracteriza um processo de troca de saberes, onde o orientador acaba aprendendo com o aluno que faz projeto de verdade! O aluno que faz um projeto de verdade precisa dominar várias disciplinas. Se ele vai fazer um projeto de engenharia, por exemplo, vai precisar de conhecimentos dentro dessa área. E encontra.
Apesar de tudo, o Brasil ainda está muito atrás na área da educação…
É verdade. Os alunos de hoje, precisam, mais do que nunca, fomentar o gosto pelo aprender. Eu acredito que a evasão dos alunos no ensino médio tem acontecido principalmente pela falta de motivação. O FEBRACE foi criado para que as escolas ganhassem visibilidade e apoio que incentive os alunos a fazerem projetos de verdade. Projetos desse tipo fazem com que os alunos se engajem com o ensino e tenham vontade de aprender.
Que tipo de projeto os alunos apresentam?
Temos projetos excelentes na área de educação onde os alunos encontram problemas de verdade, dentro e fora da escola que é objeto de estudo. Eles elaboram alternativas, reivindicam detalhes e apontam inovações que existem fora do Brasil. Os alunos sempre tem alguma coisa diferente dentro de conhecimentos científicos e tecnológicos. Quando você trabalha com alunos entre 13 e 20 anos, que é a faixa etária que recomendamos para esse tipo de abordagem, pode esperar que sempre vai haver um pequeno incremento capaz de fazer toda a diferença! Temos vários exemplos disso na área de acessibilidade, área ambiental e outros identificados fora da escola.
Que lições você tira da FEBRACE?
Que precisamos investir muito mais em educação, precisamos dar conhecimento sobre ciência fundamental em todas as áreas de atuação profissional. As crianças já nascem cientistas, só precisamos dar estímulo a elas! Estamos criando nossos futuros engenheiros.
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