FORMAS DE PRIVATIZAÇÕES E ESTILO DE LICITAÇÃO EM OBRAS DA PETROBRÁS TRAZEM PREOCUPAÇÕES PARA O MERCADO DE ÓLEO E GÁS
O Presidente Eleito Jair Bolsonaro segue fazendo reuniões diárias para fechar o novo ministério que assumirá o governo no dia 1º de janeiro. Ele continua recebendo diversas pessoas em sua casa na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro e amanhã (6) irá à Brasília onde se encontrará com autoridades do poder judiciário e algumas lideranças políticas. Na quarta-feira (7), estará pela primeira vez com o Presidente Michel Temer desde a eleição. Enquanto isso, espera conhecer os detalhes e os números dos projetos que estão sendo conduzidos pelo atual governo. Há uma possibilidade de investimentos de R$ 150 bilhões no primeiro ano em infraestrutura e em parcerias com empresas privadas. O mercado segue confiante nas suas escolhas e a cada dia recebe sinais de aprovação às políticas que quer implementar. O Petronotícias tem ouvido empresários de vários setores que acreditam num governo forte e empreendedor. Nós colhemos novas opiniões e queremos agora dividir com os nossos leitores. Nesta edição trazemos as opiniões do Presidente da Liderroll, Paulo Fernandes.
A Liderroll é uma das principais empresas de engenharia, especializadas em construção de gasodutos e suportação de dutos em ambientes confinados, túneis e píeres, com experiência no Brasil e no exterior. Paulo Fernandes acredita que o Brasil precisa buscar as reformas necessárias, mas acredita que o novo presidente da Petrobrás terá que ter muita cautela, sabedoria e, principalmente, a exata visão de para onde o país precisa que a empresa se direcione. Isto passa, inevitavelmente, pela questão estratégica de como tratar os seus ativos e agir rapidamente nas privatizações e venda dos empreendimentos que foram aprovados nos seus “EVTEs” (Estudo de Viabilidade Técnico e Econômica) por pressão meramente política e não técnica. “ Não, não se trata de procurar culpados, mas sim de exumar os cadáveres e colocá-los no cemitério certo,” diz o empresário.
– O que o senhor espera da Petrobrás no governo do presidente eleito ?
– As áreas de petróleo, gás e energia são fundamentais para o crescimento brasileiro e terá de dar sinais de combate eficaz ao desemprego. Os vultuosos investimentos nesta área abrem novas vagas no mercado de trabalho, reduzindo o desemprego. Deve formar parcerias que alavanquem novas obras e a confiança das companhias do setor. Mas é preciso ter cuidado nas privatizações. Não se pode privatizar tudo à Bangu, como se diz, e depois deixar a companhia de joelhos em setores estratégicos.
– O senhor que na participação das empresas privadas em empreendimentos da estatal?
– É salutar e muito importante a participação das grandes empresas privadas na construção de novos ativos e até polos de pequenas refinarias. É preciso acabar com a megalomania da Petrobrás. Podemos ter polos de pequenas e de muitas refinarias em regiões de grande consumo. Tudo isso como parceiras ou até mesmo empresas que construam as suas próprias refinarias, independentes da Petrobrás. É preciso incentivar e abrir mais este mercado. Os grandes, médios e pequenos produtores devem poder vender os combustíveis diretos para os postos. Eliminaríamos um, dois ou até três intermediários, acabando por vender os combustíveis ainda mais baratos lá na ponta.
– A Liderroll é uma empresa pioneira no uso de algumas tecnologias. Como o senhor vê o uso de tecnologias de ponta no setor?
– Lembre-se que deter tecnologia, ter capacidade de resposta e potencial instalado no país é muito bom e assusta. Sempre mantem o mercado internacional com a pulga atrás da orelha, como se diz. Força a concorrência a sentar a mesa para negociações positivas para o nosso país, ao invés de ficarmos reféns de suas vontades. Veja o clássico exemplo do gasoduto Brasil-Bolívia, o GASBOL. Quem não se lembra? Quando construímos, em tempo recorde, os terminais do PECEM, no Ceará, e o TAIC, na Baía de Guanabara para receber o Gás GNL, o presidente da Bolívia, Evo Morales, mudou sua posição e parou com a especulação contratual que nos colocava de joelhos. Ali demonstramos capacidade de recursos e potencial de planta de processo alternativa. Isso é a clara evidência que chamamos de setor estratégico, ou ativo estratégico. Isso vale para energia nuclear, armamentos, aviação, agricultura, saúde, vacinas e tudo mais que possa servir como regulador de mercado. Assim penso eu e assim, dentro de toda razoabilidade, deve ser desenhado. Ainda mais por um ex-militar que vai comandar o país. Ou seja, que já possui o DNA e a visão da estratégia, bem como da preservação das fronteiras do nosso País.
– Como o senhor vê a questão dos gasodutos?
– Essa é uma outra questão. Veja só. A Petrobrás, na administração Pedro Parente, quis privatizar setores estratégicos como os gasodutos e várias
outras malhas. E efetivamente vendeu a NTS. Qual foi o resultado? A Petrobrás que desbravou, lutou contra os ambientalistas, teve todo o desgaste e investiu na construção, entregou tudo à terceiros a um preço que ninguém consegue afirmar se foi um ótimo, bom ou péssimo negócio. Não há como se valorar um item desta envergadura com exatidão e pode ter sido extremamente barato para quem comprou. O pior é que a Petrobrás agora passou a pagar para transportar o gás por este mesmo duto. Pagar não só para transportar, mas pagar ainda quando não trafega ou está em operação para seus produtos. Faz sentido isso? Qual a comida mais barata, a feita na sua casa ou a comprada no restaurante? Além disso, tem o erro da venda de poços promissores que também foram entregues a preços estimados. Quem consegue definir e valorar com exatidão o quanto temos lá embaixo? Podem usar tecnologia sísmica 2D, 3D, qual for, mas isso não pode acontecer de forma a tapar buracos econômicos de outras áreas do governo. Reservas de óleo bruto são estratégicas para uma companhia de petróleo. Todo petroleiro sabe disso. Por que vendeu? Já é uma perda irreparável. Seguindo nesta esteira, quantos pré-sais mais iremos descobrir e continuaremos sem nada e sendo brutalmente dilapidados?
– Mas o senhor defende a privatização de outras áreas da companhia?
– Com certeza. Tudo que não for estratégico e que não for o foco Petróleo e Gás, aliado ainda a servir de cabide de emprego para apadrinhados políticos, partidos, isso deve terminar. Não é preciso ir longe e nem pensar muito. Quem foi o gênio que idealizou transformar a Petrobrás em uma empresa de energia? Eu sou contra radicalmente.
Se querem desenvolver no país a energia Eólica, Maré-Motriz, Biogás, energia solar, Fertilizantes etc, que criem empresas específicas e com profissionais adequados e formados para aquele objetivo. Não pode é ficar criando um Frankenstein com Puxadinhos de técnicos e de salas dentro da Petrobrás para criar estes novos setores. Isso foi e está sendo um erro básico de quem estava no comando da empresa. É a velha história do Pato, a ave. O pato anda, nada, canta e voa. Mas faz tudo isso de forma horrivelmente mal. Voa baixo, canta rouco, nada raso e anda desengonçado. Esse é o modelo que querem impor à Petrobrás. Agora no novo governo seria uma ótima oportunidade para se fazer estas correções.
– Como resolver isso?
– Para quem conheceu e trabalhou na Petrobrás do passado ajudando a trazê-la até aqui, resolver isso nem precisaria de um estudo muito detalhado. Ao bom e conhecido estilo salutar do novo presidente da república, se resolve com meia dúzia de broncas. É óbvio que no estado que se encontrava a empresa seria leviano não sinalizar que era preciso atrair também o capital privado, mas não para serem sócios ou donos da empresa, mas sim como simples investidores. Isso se a companhia não tiver condições financeiras de seguir adiante sozinha com os planos e investimentos. Não sou radical ou estou dizendo aqui que ela não pode ter parceiros no desenvolvimento, mas isso não pode ser uma parceira do tipo “Caracu”, só danosa para um lado. Ou seja, todos bradam que a Petrobrás é detentora mundial da tecnologia de águas profundas, recebe prêmios etc, mas a que custo? As empresas internacionais chegam a rir. O que estas empresas estrangeiras não têm coragem de gastar e arriscar a fundo perdido, a Petrobrás vai lá e gasta em tentativas de erros e acertos. E pior, comprando, alugando e contratando os serviços destes próprios estrangeiros gringos que que ganham dinheiro e ficam à espreita só olhando e colhendo os resultados de alto custo sem gastar 1% do que a Petrobrás gastou. Este tipo de pareceria e desenvolvimento tecnológico não vejo como interessante para o país. Vide as águas profundas. Temos que deixar a vaidade técnica de lado e medir bem o que queremos. Produtividade e retorno financeiro ou holofotes em Houston a custo sem sentido?
– Muitos reclamam que a empresa está mais lenta em suas decisões do que antes da operação Lava Jato. Como o senhor vê?
– É natural que isso fosse ocorrer. Acredito que isso se ajustará. O que não pode é a empresa, em nome do compliance, abrir concorrências específicas com 30, 40, 50 empresas participando em busca de preço menor. Convidar empresas estrangeiras misturadas com empresas nacionais, não há como se equalizar de forma segura qual a melhor proposta e aí acabam se jogando, de novo, no precipício do risco jurídico culposo que pode acabar sendo interpretado pelos juízes de plantão como erros dolosos, quando na verdade não o são. São somente uma mistura de falta de experiência, insegurança e medo. Até mesmo gerado pela própria operação lava jato. Não é qualquer empresa que se ajusta a trabalhar para a Petrobrás. É preciso experiência, dadas as exigências de qualidade que a companhia faz, as multas pesadas que ela submete seus fornecedores por situações técnicas, que acabam até por quebrar empresas e deixando a Petrobrás sem o serviço que ela contrata para executar. É preciso selecionar as empresas que tenham condições técnicas para realizar as empreitadas. É preciso também que Petrobrás nunca mais caia novamente em seu pior e recorrente erro de colocar licitações na rua com projetos básicos, tendo duvidas até em suas próprias perguntas, e ainda por cima com projetos básicos muito insipientes. Isso só traz desgastes para ambos os lados e todo tipo de incerteza técnica, executiva, de prazos, custos e qualidade das instalações.
Isso empurra os seus próprios gerentes a se virar nos 30 e ao empresário ter que gerar inúmeros aditivos. Eu, pessoalmente, tive uma reunião na engenharia da Petrobrás certa vez e discutimos que essa prática não poderia continuar, pois o dano é grande para todos. Muitos empresários quebraram ou foram presos e envolvidos na lava jato por esta maneira de se licitar e levar obras para execução sem saber o seu escopo real. Seu custo real e seu preço de venda justo, imputando a mensuração de riscos e custos incógnitos, principalmente para quem precisava manter as suas empresas vivas. Para se ter uma ideia, neste modelo errôneo de se licitar com projetos básicos, nem a própria Petrobrás tinha como fazer uma estimativa real do seu custo. Suas obras começavam com 9 dígitos e terminavam com 10. Triste ver um TCU, uma CGU, afirmarem que os preços foram “superfaturados”. Como chegam a está conclusões só analisando planilhas? Não viveram a obra, não sentiram as dificuldades, sequer sabem o que foi decidido no calor da obra e da emergência decisória lá no campo. A culpa disso não foi exclusiva da Petrobrás, mas sim da pressão política de governo para se tentar copiar e repetir um modelo de governo do tipo Juscelino Kubitschek: fazer 50 anos em 5 e colocar
licitações na rua sem os projetos detalhados e os projetos de execução.
– Acredita que a Petrobrás já tenha estudado esse assunto?
– Espero que o novo governo Bolsonaro não recaia neste mesmo erro e pressione a Petrobrás e seus técnicos para não repetirem esta mesma prática licitatória e de engenharia do passado. Todos sabem que engenharia se faz na prancheta e não dentro da burocracia dos contratos, leia-se aditivos, e muito menos nos barracões dos canteiros das obras. Fica minha observação e contribuição para quem for o novo presidente da empresa. Se não quiserem uma “Lava jato II: O resgate”, que só licitem novas obras ou investimentos com os projetos detalhados e projetos executivos já dentro dos editais, pois desta forma todos terão o mesmo grau de informação e nivelamento de competitividade, pelo qual a Petrobrás saberá, sem chicanas, o quanto vai gastar e em que exato prazo vai receber a sua obra. E melhor: dentro de sua estimativa de preços e sem aquela chuva de aditivos. Desejo toda sorte e sucesso ao novo Presidente e tenho certeza absoluta que no que ele depender, todos os empresários estenderão seus braços para ajudá-lo.
Até que em fim alguém entendeu como se devem fazer os projetos de engenharia.
Prezado Luiz; Pois é, você tem toda razão, contudo no País temos excelentes e grandes Engenheiros, várias empresas conceituadas que sabem fazer uma boa engenharia e um bom projeto, o problema e que todos sabem diss. A única diferença é que todos querem verbalizar, falar e mostrar essa infame realidade que ocorria e colocava todos do mercado de petróleo e gás com reféns da Petrobras, a diferença desta entrevista acima é que este empresário foi autêntico e teve a coragem de falar a fala contida de todos e por todos. Tudo que foi levantado e mostrado faz muito sentido e… Read more »