GALP VÊ POTENCIAL PARA NOVO FPSO EM SÉPIA E FALA DE SEU INTERESSE EM INVESTIR EM RENOVÁVEIS NO BRASIL
Vai muito além do idioma o laço que une a portuguesa Galp ao Brasil. A empresa tem uma posição bem sólida no mercado de óleo e gás no nosso país e já tem planos para expandir ainda mais sua presença por aqui. Mas, em tempos de transição energética, a petroleira também procura por oportunidades em novas energias. E o Brasil, com tantos recursos disponíveis, está no radar de possíveis investimentos da empresa no segmento de transição energética. Esses e outros temas foram discutidos durante um encontro entre o CEO da Galp, Andy Brown, e o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, na sede da empresa, em Lisboa. Nessa reunião, o ministro apresentou oportunidades de investimentos no Brasil tanto em petróleo e gás como em energias renováveis. O CEO da companhia portuguesa, por sua vez, antecipou alguns dos possíveis novos movimentos da petroleira. Como se sabe, a Galp detém uma participação minoritária no campo de Sépia, no pré-sal da Bacia de Santos, operado pela Petrobrás. Brown diz que vê chances da instalação de uma nova plataforma no campo – a primeira, o FPSO Carioca, entrou em operação em agosto do ano passado. Além disso, o executivo diz que os atuais 600 MW em projetos renováveis no Brasil “são apenas o começo”, e que a ideia é procurar por novas oportunidades de investimento em eólica e solar no país. O potencial de produção de hidrogênio também está no radar. Veja a seguir alguns dos principais trechos da entrevista coletiva concedida pelo ministro e o CEO da companhia:
Ministro, como o senhor vê o papel da Galp no mercado brasileiro?
Bento Albuquerque – A Galp é uma das empresas de energia com maior participação no mercado brasileiro. A empresa já é a terceira maior produtora de petróleo no Brasil, país que já é o sétimo maior produtor e exportador de petróleo do mundo e que nos próximos dez anos se tornará um dos cinco maiores produtores mundiais. A Galp já tem um papel importante nessa produção e terá um papel mais importante ainda nos próximos anos.
A Galp não é só uma empresa do setor de petróleo e gás, mas também do segmento de energias renováveis. O Brasil é um país que tem tido um desenvolvimento muito grande em novas fontes de energia, especialmente a solar e a eólica, que hoje já representam uma parcela importante da nossa matriz elétrica, de cerca de 20%. Essas fontes viverão um grande crescimento até o final desta década, passando a ter uma participação de aproximadamente 40% da nossa matriz elétrica. Nesse papel, a Galp também terá uma importante contribuição para o desenvolvimento da energia renovável no Brasil.
Tivemos a oportunidade de apresentar para a empresa o nosso planejamento energético para os próximos dez anos e trinta anos. No Brasil, nós trabalhamos com um planejamento que orienta o mercado de energia nos investimentos que serão feitos. Isso tem dado previsibilidade ao mercado de energia no Brasil.
Nos últimos três anos, realizamos 20 leilões de geração de energia elétrica e de transmissão, como também realizamos sete leilões de petróleo e gás no Brasil. Isso permitiu investimentos contratados de US$ 131 bilhões e cerca de US$ 40 bilhões em investimentos diretos de parceiras internacionais. A Galp é uma delas. Temos uma previsão de investimentos, para os próximos 10 anos, de US$ 620 bilhões no setor de energia no país.
Quais foram os principais pontos discutidos com o CEO da Galp?
Bento Albuquerque – A Galp é uma importante empresa de energia do Brasil. É uma companhia com sede em Lisboa e que está presente no nosso país há mais de 20 anos. É uma parceria de empresas brasileiras e também importante figura para a expansão energética do nosso país. Apresentamos os nossos planos de energia e fizemos uma revisão de tudo o que ocorreu nesses últimos três anos em termos de políticas públicas no setor de energia. O encontro serviu também para apresentar as oportunidades no mercado brasileiro de energia para os próximos anos. Com certeza, a Galp estará presente. Eu faço essa visita a caminho de Moscou, onde me encontrarei com o presidente Jair Bolsonaro nesta terça-feira.
Uma questão agora para o CEO da Galp. Qual tem sido até aqui a importância do Brasil para os negócios da empresa?
Andy Brown – Esse é um grande dia para a Galp. É uma verdadeira honra para nós podermos receber o ministro e sua delegação. O Brasil é muito importante para a Galp. Estamos no país há duas décadas e, na última década, investimos algo em torno de US$ 5 bilhões para crescer nossa posição de destaque em águas ultraprofundas em parceria com a Petrobrás. O óleo que produzimos no Brasil tem a metade de pegada de CO2 em relação à média da indústria.
O Brasil representa pelo menos metade da Galp em termos financeiros, em termos de capital que gastamos, em termos de fluxos de caixa que geramos e em termos de CAPEX em curso. Por isso, esse é um dia no qual podemos festejar não só o sucesso financeiro da nossa parceria com o Brasil, mas também a estabilidade dessa parceria. A abertura do mercado de gás natural e a abertura de novas licenças de energias renováveis garante à Galp uma enorme oportunidade para o futuro.
Continuamos a investir em upstream. No ano passado, chegamos à decisão final de investimento do projeto de Bacalhau, que para nós envolverá um investimento de US$ 1,5 bilhão [Nota da redação: a empresa detém 20% de participação no empreendimento]. Nós também apresentamos um novo plano de desenvolvimento para Tupi e Iracema. Iniciamos ainda a operação do FPSO de Sépia, que é operado pela Petrobrás. Enquanto isso, estamos perfurando atualmente o prospecto de Bob (bloco C-M-791, operado pela Shell), na Bacia de Campos.
Mas eu friso também que o ministro e o ministério de Minas e Energia nos deram a oportunidade de ir muito além do upstream. Nas últimas 6 semanas começamos a comercializar gás, tanto o gás que nós produzimos como também o gás de outros produtores. Já fizemos seis acordos individuais no Brasil para a compra e marketing de gás. A Galp se posiciona também no mercado de renováveis, com 600 megawatts em projetos no Brasil. Então, estamos ansiosos para o crescimento em renováveis e no mercado de gás, além do mercado de óleo e gás.
Quais são as novas oportunidades de investimento da Galp no Brasil?
Andy Brown – O Brasil é um país enorme, com 220 milhões de habitantes. Mas também é uma nação enorme em termos de recursos. Em primeiro lugar, nossos investimentos serão voltados ao crescimento da produção de petróleo. O campo de Bacalhau, que eu mencionei anteriormente, está em desenvolvimento nesse momento. Nós temos também planos para novas unidades de produção. Em Sépia, nós temos um FPSO em operação. E nós acreditamos que teremos um segundo FPSO [para o campo].
Além disso, claramente queremos assumir a posição no mercado de gás, tanto no fornecimento de gás quanto na produção desse insumo no pré-sal. Também estamos olhando para GNL. E claramente, queremos marcar nossa presença em renováveis. Nossa capacidade atual de 600 MW é apenas o começo. Estamos procurando por uma plataforma de oportunidades em diferentes locais do país. Nosso foco será em solar e eólica, visando a oportunidade de criar soluções híbridas entre essas duas fontes.
O Brasil também é um lugar muito atraente para o hidrogênio competitivo. Essa é uma área que a Galp vai considerar em tempo oportuno, enquanto constrói sua posição em renováveis. O Brasil é um país rico em oportunidades e um lugar onde nos sentimos muito bem-vindos.
Para encerrar, uma última pergunta para o ministro. Como vê as perspectivas futuras da relação entre a Galp e o Brasil?
Bento Albuquerque – As oportunidades para a Galp no Brasil são muito grandes. O próprio CEO já mencionou que a Galp tem investimentos no setor de petróleo e gás e em energias renováveis no Brasil. Isso é muito importante. O Brasil possui, talvez, a matriz mais limpa e renovável entre as grandes economias do mundo. A Galp tem uma importante participação nisso, principalmente na geração de energia solar e na participação em futuros leilões de energia.
Eu mencionei aqui que a geração de energia solar e eólica no Brasil já representa 20% da nossa capacidade instalada na matriz elétrica. E crescerá para algo próximo de 50% nos próximos dez anos. Isso é fundamental para a transição energética, mas também para o desenvolvimento de tecnologias paralelas às energias renováveis, como o próprio hidrogênio.
Discutimos a questão de pesquisa e desenvolvimento e dos objetivos que o Brasil procura alcançar nessas novas tecnologias. Nesse aspecto, a Galp será um dos atores e parceiros importantes das empresas brasileiras nesses novos desenvolvimentos.
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