GE INVESTE EM AQUISIÇÕES E PESQUISA PARA CRESCER NO SETOR DE ÓLEO E GÁS
No balanço da General Electric, o setor de óleo e gás ainda não é o mais representativo em termos de volume de receitas, já que no último trimestre, dos US$ 36,3 bilhões recebidos pela empresa, apenas US$ 3,65 bilhões eram do segmento de petróleo. No entanto, a companhia está ampliando sua atuação no setor e firmando cada vez mais sua presença no mercado brasileiro, onde planeja crescer investindo em aquisições e em Pesquisa e Desenvolvimento. Dentre os destaques, estão a aquisição da Wellstream e o fechamento de um contrato recorde com a Petrobrás, sob valor de R$ 2,28 bilhões, para entregar 380 cabeças de poço nos próximos quatro anos. O presidente da GE Oil & Gas para a América Latina, João Geraldo Ferreira, conversou com o repórter Daniel Fraiha e contou que as aquisições se estenderam por toda região, mas não devem parar por aí. “A expectativa é muito alta”, afirmou. Além da compra de novas empresas, a GE está investindo R$ 500 milhões em um novo Centro Tecnológico que será instalado na Ilha do Fundão, no Rio de Janeiro.
Quanto o setor de óleo e gás brasileiro representa no faturamento da GE?
A gente não formaliza as informações a respeito de quanto determinado setor ou determinado país ou região representa no volume total. Temos um faturamento mundial de cerca de US$ 160 bilhões, sendo que aproximadamente 10% disso é referente a óleo e gás. Diante dos investimentos que foram feitos em aquisição, não só o Brasil, mas a América Latina vem tendo uma representatividade maior, porque as empresas que foram compradas têm operação na região.
Onde foram feitas as aquisições?
Elas ocorreram em países como Colômbia, Venezuela, Argentina, Trinidad e Tobago, Brasil… então a região se beneficiou muito. E um segundo ponto é que obviamente o Brasil, através das aquisições, acabou se tornando mais relevante. Então estamos crescendo no Brasil de duas formas, orgânica e inorgânica. Em paralelo, os investimentos, além das aquisições, que vêm aumentando a capacidade produtiva, também tornam o Brasil mais relevante. Então o que eu posso dizer é que não é só mais relevante, como vem se tornando mais relevante, em uma velocidade superior a outros países em que operamos no setor de óleo e gás.
Além da Petrobrás, vocês têm formado parcerias comerciais com outras empresas?
Sim, não tenha dúvida. Temos parceiros como PDVSA, na Venezuela, Pemex, no México.
Digo no Brasil…
Também. Outras organizações, como as IOCs (International Oil Companies), também estão presentes, o próprio grupo EBX, com as subsidiárias OGX e OSX, entre outras. O que queremos é atender ao mercado.
A unidade de óleo e gás atua no Brasil desde quando?
Em 1994, fizemos a primeira aquisição mundial no setor, da Nuovo Pignone, que fica em Florença, na Itália. De lá para cá nós viemos crescendo, e essas aquisições impactaram recentemente a América Latina e o Brasil também. Mas desde a primeira aquisição já atuávamos globalmente.
Você acredita que a parada nos leilões, em função da questão dos royalties, afetou a demanda no setor?
Acho que sim, por um lado, e acho que não, por outro. Naturalmente surgiriam mais contratos, mais negócios e oportunidades em função de novos leilões. Isto é fato. É oportunidade de explorar e produzir. No entanto, hoje há uma demanda muito grande para os contratos em vigor, referente aos leilões já definidos. Então, eventualmente, haveria mais oportunidades de negócios com novos leilões, é fato, mas por outro lado ainda há muita coisa a ser feita em relação aos blocos em desenvolvimento atualmente.
Vocês adquiriram algumas unidades no Brasil, como uma em Macaé, e a Wellstream, em Niterói, mais voltadas para offshore. Vocês também têm planos para onshore?
A gente investe onde existe oportunidade de negócio. Então essas aquisições vieram ao encontro da oportunidade de aumentar o nosso portfólio, complementá-lo e atender a uma demanda latente dos nossos clientes. Claro que quando compramos novas unidades, isso aumenta as possibilidades de negócio. Então seja onshore, seja offshore, a GE está bem posicionada. Com essas aquisições, a gente passa a ter participação em todas as fases da cadeia, desde a exploração, passando pela produção e pelo desenvolvimento, até o posto de gasolina – a partir de uma aquisição de uma empresa chamada Wayne, que fica em Bonsucesso. Parte dessas aquisições foi feita com foco onshore, então compramos uma empresa chamada Wood Group, que trabalha com o que a gente chama de artificial lift. Ela auxilia no aumento da eficiência de produção de um poço que já está em fase muito madura (para onshore).
A Petrobrás anunciou este ano um programa para aumentar a eficiência na Bacia de Campos. Vocês têm tecnologias para auxiliá-la nisso?
Temos. E o que não temos, a gente desenvolve. Vamos investir R$ 500 milhões no Centro Mundial de pesquisa que vamos instalar na Ilha do Fundão, e, além disso, temos US$ 20 milhões focados somente em óleo e gás.
Quais serão os focos de pesquisa do Centro Tecnológico?
Inicialmente, as pesquisas acontecerão em quatro frentes: Subsea, Sistemas Inteligentes, Integração de Sistemas e Biocombustíveis. Teremos 200 funcionários na inauguração do Centro.
Quando será inaugurado?
O início da construção será em 2013, com previsão de terminar no início de 2014.
A fábrica adquirida da Wellstream é para dutos flexíveis. Ela já produz dutos para operação em grandes profundidades?
Já. A gente trabalha não só em águas profundas, mas também em águas rasas. Então o nosso portfólio hoje tem a ver com a necessidade do mercado. E esse investimento, que está sendo feito na Wellstream, de US$ 200 milhões, tem como objetivo aumentar a capacidade de produção.
Esse valor será gasto com a expansão da fábrica ou serão modificações internas?
Será investido no aumento da estrutura física, no aumento da capacidade fabril, praticamente dobrando esse potencial. Sairemos de 270 km de linhas flexíveis atualmente para 510 km por ano. Além disso, temos um investimento focado na construção de uma base logística para atender à Petrobrás. São investimentos de grande porte. Além dos US$ 200 milhões da Wellstream, temos outros US$ 32 milhões em Macaé, mais os US$ 30 milhões investidos na planta de Jandira (SP).
Qual o foco da unidade de Macaé?
São dois grandes focos. Um deles – o principal – é a manutenção de árvores de natal, ou seja, é uma planta de serviços. Mas também temos uma pequena parte que faz a produção do que chamamos de tubulares.
Quais são os maiores gargalos que vocês têm encontrado?
Acho que a mão de obra qualificada, diante do crescimento do Brasil, e sobretudo da indústria de óleo e gás, é um gargalo. Mas não é que o país não tenha a mão de obra qualificada, o que acontece é que não tem em quantidade suficiente e disponível para atender a necessidade do mercado. Houve um grande boom na década de 80 e depois houve um hiato, com o surgimento de uma demanda muito grande de uma hora para outra, que o mercado não consegue atender. Então você tem desde desenvolvimentos agressivos e acelerados em universidades, alteração e sugestão de currículos voltados para óleo e gás, além da busca por pessoas que haviam se aposentado, mas têm interesse, saúde e vontade para voltar ao mercado de trabalho.
Vocês tem algum programa de qualificação?
Temos um programa em Macaé, junto com o Senai, com o objetivo de desenvolver, treinar e capacitar mão de obra. Temos turmas de cerca de 20 pessoas e absorvemos aproximadamente 80% dos que se formam para o nosso quadro de funcionários. Estamos nos preocupando cada dia mais com a capacitação da mão de obra. Nosso compromisso é também com o Brasil, além do cliente.
Como vê a questão do conteúdo local?
Eu vejo como sendo um fato. Então vamos trabalhar para atender este tipo de demanda. É a regra, então vamos segui-la.
Quais são as expectativas para os próximos anos em óleo e gás?
As expectativas são altas e o Brasil é um mercado muito promissor. Eu vejo o crescimento das oportunidades no país, a necessidade de se trabalhar com novas tecnologias, com um investimento forte em inovação. Para nós, da GE, é um mercado muito interessante, porque inovação e tecnologia é o nosso DNA. É o que a gente faz e a gente faz muito bem. Investimos US$ 10 bilhões em aquisições e organizações com o objetivo de entrar forte no setor de óleo e gás. Então, quando você junta a necessidade do Brasil, de se trabalhar fortemente inovação e novas tecnologias, com nosso portfólio e com a nossa dinâmica de compra e de interesse de trabalhar com a indústria de óleo e gás, existe um perfeito alinhamento. Então a expectativa é muito alta.
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