GEÓLOGO APONTA QUE SETOR DE EXPLORAÇÃO NO BRASIL TEM DESAFIOS EM 2024, MAS TAMBÉM MUITAS OPORTUNIDADES DE NOVAS DESCOBERTAS
O Projeto Perspectivas 2024 entra em sua reta final e, nesta segunda-feira (15), traz uma extensa análise sobre o cenário exploratório no setor de óleo e gás brasileiro. O entrevistado de hoje é o geólogo e consultor Luciano Seixas Chagas. Ele faz uma reflexão sobre a polêmica envolvendo a exploração na Margem Equatorial, lembrando que outros poços na região já foram perfurados no passado, sem registro de problemas ambientais. Chagas também defende que o Brasil invista na perfuração em outras fronteiras, incluindo áreas no Nordeste. O geólogo também acredita que se o Brasil gerenciar adequadamente os recursos contingentes e potenciais, poderá presenciar excelentes negócios e descobertas de reservas em 2024. Vejamos então as opiniões e projeções de Luciano Seixas Chagas:
Como foi o ano de 2023 dentro do seu segmento de negócios?
Foi um ano relativamente tranquilo e o negócio de exploração óleo e gás onshore se tornou mais atraente com novas ofertas de blocos. Porém, o leilão permanente precisa realmente cumprir a sua finalidade de ser ininterrupto, ou seja, todos os blocos não proprietários ou em litígio devem ser ofertados continuamente tanto em terra como no mar.
As guerras iniciadas e muito conflagradas por motivos absolutamente geopolíticos alteraram substantivamente os preços da energia, principalmente os de gás, que, de muito baratos nas áreas norte-americanas de folhelhos (shale), tornaram-se valorizados e exportados como criogênicos para a Europa, que pagou caro pela guerra da Ucrânia. A guerra da faixa de Gaza não é diferente e os assets potenciais que existem no mar devem ser o verdadeiro motivo da barbárie, pouco importando a vida dos cidadãos comuns. Infelizmente, assim funcionam os negócios e a janela é oportuna para avaliarmos nosso potencial gaseifico terrestre, por ora muito especulativo apesar de sempre citado como muito promissor.
Também se tornou intensa a “guerra” entre os propagadores do efeito estufa, por causa antrópica, e os defensores da exploração nas margens Equatorial, Leste e da Bacia de Pelotas.
Em primeiro lugar acho ridículo que uma discussão que deveria ser intramuros chegar ao público como ocorreu. E assim começaram as disputas de poder, onde vale tudo, menos ciências e o real desenvolvimento do Brasil. Desde que o homem deixou de ser caçador coletor e irrompeu com a revolução agrícola, a diversidade foi sacrificada, para saciar a fome dos homens e mulheres agora aglomerados e plantadores de culturas específicas (milho, trigo, batata, feijão etc.). Com a concentração populacional ocorreram perdas, com propagação de doença, e ganhos, como a mitigação da fome. Na revolução industrial também os bens produzidos, tipo roupas apropriadas para as intempéries, protegeram a vida. Ao mesmo tempo, propiciou a criação das armadas para garantir monopólios e capitanias via novas descobertas que há muito sabiam existir, para garantir exclusividade no consumo das indústrias, principalmente a inglesa.
E mesmo agora ocorre com o dacentrismo. A Petrobrás financiou um excelente trabalho identificando os danos potenciais que a atividade de exploração causaria na Margem Equatorial, com o Projeto Piatã. Isso de pouco valeu. Pior! Custou caro com movimentações infrutíferas de sonda, justo para não se perfurarem áreas semelhantes, onde já foram perfurados muitos poços. Eu mesmo, em 1974, acompanhei 2 deles sem quaisquer perturbações ambientais ou territoriais significativas, mesmo com uma plataforma que adernou no ido 1974, e com as fortes correntes das Guianas, respectivamente, que ajudadas pela força inercial de Coriolis levou lama descartada para áreas fronteiriças.
E o que ganhou o Brasil com tais polemicas? Apenas fakes, pois agora tratam o Amapá como se lá já existisse grandes descobertas semelhantes às de Suriname e Guianas. Ambas são premissas absolutamente falsas. Não há descobertas de porte nem no Amapá e nem na Guiana Francesa vizinha, e o sistema petrolífero Suriname-Guiana, em todos os seus aspectos, são absolutamente diferentes, o que torna a margem equatorial uma área de muito maior risco exploratório. O que se tenta saber é se o prospecto Amapá ou quaisquer outros da Margem Equatorial tem petróleo em abundância, como está mostrado nas linhas sísmicas, que por hora só exibe petróleo virtual. Virtual, repito, pois eleição e mineração só valem depois da apuração e, no caso, o registro do poço que precisa ser perfurado para aferição.
Pessoalmente, prefiro o petróleo virtual, exibido nas sísmicas da Margem Leste. Em Alagoas, na foz do Rio Japaratinga o lead de lá é uma beleza, justo na continuidade de onde já houve a descoberta de petróleo, em reservatórios depletivos do poço 1-ALS-3 nominado Campo de Cavala. Como em Sergipe, as águas profundas alagoanas têm feições sísmicas similares às das descobertas nas águas profundas sergipanas.
Também o litoral baiano é rico em leads nas bacias de Jequitinhonha, Camamú-Almada e Jacuípe. Curiosamente, também nestas há restrições ambientais, por serem áreas com substratos vulcânicos, onde há proliferação de vida a oligotrofia da diversidade. Pior é que as nossas maiores reservas petrolíferas também estão em substratos vulcânicos, justo no Platô de São Paulo onde residem nossas ora maiores descobertas e onde há muito a descobrir. O litoral carioca, aí incluído, é área de ressurgência comprovada, onde se concentram os alimentos da grande cadeia alimentar da biota, com boas “pastagens” (flora e explosão de alimentos) , justo a área mais sensível para a sustentabilidade desejadas no seu famoso tripé. E alguém por acaso sabe de um acidente ecológico de grande, médio e pequeno porte, todos de risco e não adequadamente mitigado? Eu desconheço.
Ainda há outras questões incompreensíveis. Há mais de 60 anos fraturamos (fracking) arenitos, rocha rúptil, em todas as bacias brasileiras sem registros de danos ambientais. Agora há comissão nas câmaras estudando o assunto, para proibir o fraturamento dos folhelhos dúcteis, e há municípios do Paraná com proibições, com edis e deputados propagando que estão salvando o meio ambiente. Assisti uma audiência pública e fiquei horrorizado com os ditos com base em puro falseamento científico ou meias verdades. Em outras palavras permitimos, o fraturamento de arenitos que são os grandes aquíferos como o Guarani e Alter do Chão e não permitimos o fraturamento dos folhelhos onde só existe água estrutural e não produzível. E, por serem dúcteis, o fraturamento induzido tem dificuldade de propagação e de contaminação dos aquíferos. Ou seja, há muito fraturamos os verdadeiros aquíferos sem registros significativos de danos. Pasmem! Alguns ainda elogiaram o uso de um aquífero de mui menor porte para produzir cerveja de capital alhures, justo nos aquíferos pequenos da Bacia do Recôncavo, na Bahia, o São Sebastião. Aí não há problemas, segundo edis e deputados, pois geram emprego. Suponho que petróleo não deve gerar.
Não há desenvolvimento que não altere o meio ambiente. O segredo é mitigar como a Petrobras já fez no Amazonas.
Quais sugestões gostaria de passar para o governo ou para o mercado com o objetivo de melhorar as condições de negócios no Brasil?
Nas diversas diferentes bacias terrestres ainda restam leads com bons potenciais exploratórios. Entre as maiores, em área, apenas na Bacia do Parnaíba houve mais que uma descoberta. As bacias do Amazonas (em todos os seus compartimentos) e a do Paraná permanecem quase inexploradas, com uma descoberta no Amazonas. Diversos fatores contribuem para tais fatos.
Para os técnicos otimistas há tanto óleo nestas bacias como nas bacias dos USA e Eurásia, estas prolíficas em hidrocarbonetos, bastante pesquisadas e ainda com montantes expressivos produzíveis e em produção, algo da ordem de bilhões de barris/ano, além das maiores reservas e produção de gás do mundo. Para outros, mais calcados nas análises entre os quais me incluo, as bacias brasileiras, apesar de atraentes, têm muito menor potencial por lhes faltar rochas geradoras em quantidade (há 6 geradoras nas bacias alhures e apenas 1 ou 2 nas brasileiras), razão pela qual, só nos USA, há mais de 4 milhões de poços perfurados, dos quais pouco mais que 1 milhão são produtores. Dispomos aqui de apenas 30,31 mil poços dos quais menos que 12,5 mil são produtores. Na vizinha Argentina há mais de 60 mil poços perfurados, apesar das reservas de Neuquén, de diferente geologia das bacias brasileiras. A diferença abissal nos montantes de poços entre os hemisférios norte e sul tem razões geológicas, sendo as do Norte muito mais beneficiadas pela natureza geológica.
Ao olharmos as nossas bacias é chocante a inexistência de cobertura sísmica densa, mesmo em 2D. Assim, sobra-nos decidir como devemos incrementar a exploração. Adquirir sísmica é fundamental para avaliarmos o real potencial das nossas bacias. Adquirir sísmica em terra, é caro, vis-à-vis as expectativas de volumes produzíveis/poço, de vazões substantivamente menores que as dos poços do pré-sal. Urge conhecer tais bacias, justo nas partes mais profundas, onde há maiores probabilidades de novas descobertas, principalmente de gás. Assim, nos resta oferecer bons incentivos a potenciais adquirentes de sísmica, cabendo ao governo bancar ou incentivar verdadeiramente a aquisição sísmica e, após, a perfuração de poços. A ANP e EPE poderiam estruturar um programa exequível, que permita tal intento. Não há janela mais adequada que a atual, com 2 guerras em andamento que impactam os preços do gás, viabilizando um maior Capex de sísmica e poços.
Nas bacias de idade mais nova, principalmente o Recôncavo e Tucano, que são uma única bacia, o problema é semelhante. No Baixo de Camaçari tem muito gás potencialmente produtor e o verdadeiro gás de centro de bacia, ainda não descoberto no Brasil. Esse só precisa ter gerador eficiente em profundidades superiores a 4500m. Como o modelo é diferente do da geração convencional e não precisa de rocha selante nem de armadilhas, os fatores probabilísticos são menores em quantidade e geração nunca foi problema no Recôncavo.
Em Tucano, o problema é o mesmo. Apesar de produzirmos gás em profundidades relativamente rasas na bacia, nunca potencializamos identificar e produzir nas partes profundas. Cabe lembrar que em Tucano há aquíferos excelentes numa região inóspita, onde um programa sinérgico de governo é desejável: o de aproveitar os poços porventura secos para a produção de água.
Quais são as suas perspectivas de negócios dentro do setor de óleo e gás para este novo ano que está para começar e quais as perspectivas da nossa economia para 2024?
Se gerenciarmos adequadamente nossos recursos contingentes e potenciais podemos ter excelentes negócios em 2024. Os órgãos governamentais devem agir em consonância e sem exposições deletérias. Basta se munir de assessorias adequadas que entendam verdadeiramente do assunto. Ouço e leio muitas inverdades nos encontros e na mídia de todos os portes, sem quaisquer contestações sérias como as que tento aqui expor.
Vejo com bons olhos o retorno ao conteúdo local, que a exemplo da PPSA, poderá gerar imensos recursos para serem aplicados no País através da empresa absolutamente estatal. Ninguém fala do sucesso econômico e financeiro da PPSA. Por quê? Não é real? E queriam liquidá-la há pouco.
Na área naval, os estaleiros precisam gerar empregos. Como bem diz Guilherme Estrella, precisamos de menos lucro na Petrobrás e gasolina e diesel mais baratos, alavancando a economia que só se aquece com investimentos e incentivos, como os feitos nos países ditos desenvolvidos. Tem alguns diretores da Petrobras de viés absolutamente financeiro, que só querem distribuir lucro para os acionistas e beneficiar os “minoritários”, os mesmos que são os donos de 5 a 10% de todas as empresas ocidentais. Disse todas. Ou seja, sempre beneficiamos os verdadeiros donos do mundo e formuladores de geopolíticas que amam o mandar, o nababesco, mesmo que isso ceife vidas e aumente as desigualdades econômicas e a estupida concentração de renda. É só ligar a televisão e observar os valores repassados. Posso ser desmentido? Tais pessoas precisam ser destituídas e deixarem de ocupar cargos privados, pós Petrobrás, para gerenciar ativos que eles liquidaram numa grandiosa e Black Friday no passado recente.
Como dito, basta fazer o dever de casa e os resultados serão promissores.
Muitas opiniões disfarçadas de fatos por este sr. engenheiro. Sugere acabar com a paridade de preços sem pensar em quem paga a conta. Esquece que quando uma estatal dá prejuízo, quem paga é o povo! Minha opinião é que ele quer populismo clássico da era de corrupção institucionalizada e a falsa estabilidade dos governos lulopetista, onde só quem ganham são a classe política e empresários amigos do governo. Nessa invenção e narrativas, escondem o atraso que o país está tendo nesse desgoverno.
Balela…..a terra é plana e as estrelas estão ammarradas com fios no céu….. E as viúvas continuam babando, gizus!
Parabéns Geólogo Luciano, por seus comentários apresentados com conhecimento estritamente técnico, isentos da nociva tendência à frivolidade político-partidária amplamente implantada em nossos dias.
E o abastecimento (diesel, gás natural, nitrogenados, QAV, GAV,nafta…) a preços pressal, ou seja 30% do Brent????