GEÓLOGO DEFENDE QUE BRASIL AUMENTE INVESTIMENTOS EM EXPLORAÇÃO DE DIFERENTES BACIAS A PARTIR DE 2023
O ano de 2022 está perto do fim e o Petronotícias abre o noticiário desta sexta-feira (30), antevéspera de Ano Novo, conversando com o geólogo e consultor Luciano Seixas Chagas, dentro da nossa série especial Perspectivas 2023. O especialista sustenta que o Brasil precisa inventariar corretamente todos os recursos petrolíferos nas diferentes classificações, destacando as reservas provadas e prováveis. As atividades exploratórias, segundo Chagas, deveriam abraçar regiões como Sergipe-Alagoas, Margem Equatorial e até mesmo as bacias marítimas profundas do sul do Brasil. O entrevistado também faz críticas ao atual posicionamento da Petrobrás, que tem abandonado sua postura histórica de ousadia, deixando de lado boas oportunidades de investimentos em novas frentes. “Falta na direção da empresa pessoas com conhecimentos que orientem os bons investimentos que lhe garanta um futuro promissor, com uma matriz energética limpa com mais gás e outras fontes alternativas”, avaliou.
Como atuou em 2022? Os resultados foram positivos?
Fiz muitos pequenos trabalhos de consultoria, a maioria de orientação não remunerada por conta de algumas constatações que listo abaixo.
Na área de refino e dutos, o CADE que quase obrigou as vendas, para criar concorrência pressupondo uma diminuição de preços, e falhou absolutamente com o falso vaticínio, pois as refinarias com privatizações concluídas, a RELAN e a REMAN, atuam sozinhas nas respectivas regiões e os preços praticados são os maiores do Brasil, principalmente o diesel, o que afeta toda a economia. O que preconizou o receituário ultraliberal e a tese do CADE e dos dirigentes atuais da Petrobrás não ocorreu, acentuando quanto falaciosos e entreguistas são.
A venda da unidade SIX também foi um desastre, pois além de praticamente doarmos a tecnologia de extração de petróleo, retortando folhelhos (shale ou xisto), vendemos juntos as jazidas ricas em remineralizadores de potássio que existem no folhelho Irati. Esses recursos poderiam fertilizar de modo eficaz a nossa lavoura com baixos custos, principalmente nos tempos da guerra Rússia-Ucrânia, quando os preços dos fertilizantes solúveis atingem valores exorbitantes.
E especificamente na área de exploração de petróleo e gás? Como esse mercado se comportou?
Na área petrolífera, os sinais continuaram confusos. Alocamos poucos investimentos nas descobertas de novos ativos, que continuaram apenas como bons prospectos e recursos contingentes nas bacias Campos, Santos e Espírito Santo. Os anúncios da Petrobrás de novos investimentos foram pífios, mesmo nas áreas de aquisições sísmicas 4D, ou 5D via nodes (espécies de geofones fincados no fundo do mar com baterias de longa duração), que permitem tanto monitorar a produção dos reservatórios, todos, pré e do pós-sal, como melhorar e direcionar os processos de recuperação, tornando-os mais eficazes, com aumento dos volumes recuperáveis (EOR) e apropriação de novas reservas. São necessários maiores investimentos exploratórios e de produção capazes de descobrir e delimitar completamente os recursos e as descobertas, transformando-os em reservas capazes de repor a produção.
De bom, tivemos a descoberta de Aram e a comprovação em 2022, via poço, de boas reservas tanto ali, como no Campo de Sépia, sendo necessários mais investimentos para a delimitação e provavelmente em novos FPSOs e agregados, dada a pujança dos reservatórios. Ainda há muitas boas descobertas a serem feitas e novos investimentos precisam ser alocados para garantir pagamentos de bons dividendos no longo prazo, sem matar a galinha de ovos de ouro como hoje ocorre, e que torna a Petrobrás uma empresa sem futuro.
Nas outras províncias e fronteiras exploratórias promissoras, além das incluídas no polígono do pré-sal, pouco se fez. No mar de Sergipe onde se descobriu petróleo antes de Suriname, – este já com produção ativa -, pouco se investiu, além do poço seco perfurado pela Exxon, que usou algoritmos inadequados de IA para a discriminação dos hidrocarbonetos, confundindo-os com a água aprisionada em excelentes reservatórios. A falha foi da empresa campeã em Suriname e, pasmem, a Petrobrás, que descobriu em Sergipe, com algoritmo eficaz desenvolvido pelos seus bons técnicos, foi incapaz de direcionar a pesquisa nas áreas profundas próximas, na direção sul de Sergipe na foz do Rio Vaza-Barris e, na Bahia, Bacia de Jacuípe como também em Camamú, Jequitinhonha e, quiçá Cumuruxatiba, findando nas bacias de Campos, Santos e Espírito Santo.
Na Margem Equatorial, onde há promessas de bons resultados, erroneamente chamada de “novo pré-sal”, o novo plano da Petrobras contempla investimentos no pós-sal, principalmente na Foz de Amazonas e adjacências ao Norte. É uma província absolutamente sedutora e pouco conhecida, bem delineada por sísmica com bons prospectos e promessas de descobertas, segundo alguns estudos técnicos divulgados. Os ativos exploratórios estão próximos à província produtora das Guianas, exceto a Francesa, adjacente ao Amapá. A área pode encerrar grandes volumes, mas ainda com muitas incertezas que precisam sem bem dirimidas. São, portanto, de bom alvitre as promessas de investimentos em toda a área. Na minha ótica, eu priorizaria a Bacia marítima e profunda do PA-MA.
Como novíssima fronteira exploratória, destaco as bacias marítimas profundas do sul do Brasil. Com novas descobertas na Namíbia e estudos conjuntos de P&D da Petrobras e UFF/Niterói-RJ, há indicações de presença de hidrocarbonetos, segundo análises sísmicas da Bacia de Pelotas, que podem ser excelentes sítios para gás livre e quiçá associado. Tais estudos são coordenados pelo professor Marco Cutalle, com detalhamento sísmico feitos pelo geólogo Marcos Fetter. Tais prospectos ou indicações precisam ser amostrados por poços a exemplo da Namíbia. Aí podem residir novos e excelentes ativos exploratórios, que inexplicavelmente a Petrobrás não teve a ousadia de inovar com bons investimentos como era a sua melhor característica. Falta na direção da empresa pessoas com conhecimentos que orientem os bons investimentos que lhe garanta um futuro promissor, com uma matriz energética limpa com mais gás e outras fontes alternativas.
O que espera para 2023 com um novo governo? Quais são as perspectivas para o ano vindouro?
Após a eleição, fora algumas insanidades que persistem, o Brasil parece mais calmo no final de 2022. Por enquanto dominam as especulações principalmente no mercado financeiro, com investidores maiores tentando direcionar o novo governo de acordo com os seus propósitos intestinos e em desfavor do povo, sempre esquecido no âmago dos questionamentos e de projetos sustentáveis.
Se continuar a tendência atual, e segundo programa de governo eleito e a conjuntura global, haverá uma atenuação no preço dos combustíveis para o consumidor do petróleo. A guerra Rússia-Ucrânia se avizinha do fim, pois os europeus finalmente compreenderam que o alinhamento com a OTAN trouxe prejuízos apenas para o continente europeu, aí incluídos principalmente os protagonistas da guerra, onde todos perdem exceto quem vende armas e é autossuficiente em energia. A falta de energia, aumento dos preços das commodities agrícolas e fertilizantes afeta a economia mundial, gerando inflação global inimaginável, e penúria energética para os europeus que usam agasalhos pois não podem pagar pela energia cara, alertando aos seus dirigentes atitudes mais proativas na negociação do fim da indesejada guerra. Como os preços de petróleo tem razões absolutamente geopolíticas, os que mandam no mundo sabem que é necessária uma normalização ou pelo menos atenuação da situação. Como há torneiras produtoras de petróleos fechadas e novas grandes descobertas como Namíbia, Suriname, Moçambique etc., essas serão facilmente disponibilizadas. Também o excesso de oferta se dará, como consequência dos usos de energias não fósseis principalmente na Europa, na China, nos EUA e no Brasil.
No Brasil, creio que se adotará outra política de preços e abandono da PPI, que parece indesejada pelo governo eleito. Também a medida de que forem feitas mudanças na diretoria e Conselho de Administração da Petrobras, a política de investimentos será acentuada com foco em Exploração e Produção e Refino, e reestatização de alguns ativos vendidos se houver disponibilidade de dinheiro e possibilidades jurídicas para distratos.
Quais as sugestões que daria aos governantes para que os negócios prosperem ainda mais?
As mesmas do ano findo, ou seja:
1 – Inventariar corretamente todos os recursos petrolíferos nas diferentes classificações, destacando as reservas provadas e prováveis;
2 – Idem para área de mineração, focando nos estratégicos e principalmente os mais usados como geradores e armazenadores de energia e fertilizantes, que faltam num Brasil de forte agricultura e quase sem insumos próprios, apesar da abundância de alguns nos jazimentos energéticos e de volumes de rochas para recuperação dos solos, seguindo as diretrizes da EMBRAPA;
3 – Criar comitês adocráticos e estratégicos para pensar onde alocar os recursos visando suprir as necessidades estratégicas atuais e futuras do Brasil, com base no conceito real da sustentabilidade, com o seu tripé formulador. Estes devem ter eficácia e prazos determinados;
4 – Acabar com práticas autocráticas atuais que permeia nos cargos públicos. O Estado laico deve prevalecer;
5 – Tornar as metas e objetivos comuns e transparentes definindo claramente o papel de cada ministério;
6 – Priorizar, fomentar e até subsidiar as atividades básicas.
Só lembrando que a produção atual de petróleo na faixa equatorial se dá na Guiana com 360.000 barris diários advindo de dois FPSO no campo Lisa a 200 km de Georgetown.
O Suriname ainda não produz nada.