GOVERNO DIZ QUE GÁS DO PRÉ-SAL NÃO REPRESENTA UM NOVO “ELDORADO”

Por Luigi Mazza (luigi@petronoticias.com.br) – 

O potencial de exploração de gás natural em reservas do pré-sal é grande, mas não trará a redenção do mercado de gás no Brasil. A afirmação é da Diretora do Departamento de Gás Natural do Ministério de Minas e Energia, Symone Christine de Santana Araújo (foto), que ministrou nesta quarta-feira (10) uma palestra, durante o Gas Summit, sobre o segmento e as expectativas do governo brasileiro. Segundo Araújo, as perspectivas da produção do combustível em campos do pré-sal não constituem o “Eldorado” esperado por grande parte do mercado.

Em sua apresentação, a diretora enfatizou diversas vezes a incerteza que ainda domina o futuro da produção gás no pré-sal, a começar pela indefinição do volume do combustível presente nesses campos. Um dos principais empecilhos é o valor elevado desse gás, que exige grande quantidade de investimentos em seu processo produtivo. O gás associado do pré-sal é estimado em até US$ 7,70 após seu processamento, valor ao qual devem ainda ser somados os custos de transporte e distribuição. Dessa forma, o combustível pode não gerar a movimentação esperada no mercado. “Nós continuaremos vinculados à produção de óleo”, ressaltou Araújo.

Apesar dos números positivos na produção e na demanda de gás ao longo dos últimos anos, a tendência é de que aumente a quantidade de importações por parte do governo brasileiro para o setor. “Teremos um mercado cada vez mais importador”, afirmou a diretora, apontando para o momento favorável à importação, consequência das quedas no preço do petróleo em âmbito global.

A palestrante ressaltou, porém, o crescimento do mercado de gás natural atualmente no País, informando que a oferta de gás nacional cresceu 72,2% no período de 2010 a 2014, intervalo em que o combustível aumentou sua participação na matriz energética do país em 7,7%. Além disso, a demanda total do mercado brasileiro chegou à média de 100 milhões de m³ diários no ano passado.

Segundo Araújo, o crescimento do setor depende do fomento à competitividade, sem que se imponham, no entanto, mudanças na condição de dominância da Petrobrás. Atualmente, de acordo com ela, a produção é pouco atrativa para operadores, que preferem produzir óleo no país. O governo não deve, no entanto, impor preços mais baixos para estimular a oferta do combustível. “Não consideramos razoável a ideia de fazer algo artificial”, enfatizou, afirmando que uma medida como esse acabaria por desestimular a produção.

Ao analisar a malha dutoviária brasileira, a representante do ministério fez uma comparação com a extensão dos gasodutos norte-americanos, muito mais disseminados pelo território dos Estados Unidos do que as estruturas do nosso País. Enquanto no Brasil somam-se 9,4 mil km de gasodutos de transporte e 27,3 mil km de distribuição, a quantidade nos Estados Unidos é de 349,7 mil km de transporte e 142,7 mil km de distribuição. O Plano de Expansão da Malha de Transporte (Pemat) foi apontado pela diretora como um projeto que visa elevar a quantidade “ínfima” exposta no comparativo. No entanto, apesar dessa expectativa da representante do governo, atualmente o Pemat prevê apenas a construção do gasoduto Itaboraí-Guapimirim, com 11 km de extensão.

Frente aos desafios do crescimento de consumo e oferta de gás natural no Brasil, a palestrante apresentou possíveis caminhos a serem tomados pelo governo. Entre eles, a harmonização regulatória do setor, visando uma maior atratividade para investidores, e o estudo do aproveitamento de gás metano em depósitos de carvão. “Continuamos um país extremamente atrativo”, concluiu Araújo, antes de completar: “Teremos que ampliar a oferta interna. Não apenas pelo pré-sal, mas também por ele”.