GUERRA PROLONGADA NA UCRÂNIA PROVOCARIA CRISE DE GÁS NA EUROPA E RECESSÃO GLOBAL, DIZ WOOD MACKENZIE

kateryna_filippenko_2_webO mundo despertou nessa quinta-feira (24) sob tensão. Após semanas de ameaças, o presidente russo Vladmir Putin concretizou aquilo que todos temiam: um confronto com a Ucrânia. O início da operação russa na madrugada de hoje já trouxe imagens impressionantes e preocupantes de explosões na cidade de Kharkiv. O mercado vive o temor em relação aos possíveis desdobramentos econômicos que podem ser causados pelo conflito. Olhando para as consequências dentro do setor de energia mundial, a Europa parece ser a que mais deve sentir os efeitos. No curto prazo, o continente pode conseguir atender toda a sua a demanda de gás, mesmo diante da escalada das tensões entre Ucrânia e Rússia. No entanto, as perspectivas de longo prazo são incertas, segundo uma nova análise da consultoria global de energia Wood Mackenzie. No momento, a Europa não está em uma situação tão crítica, já que seus estoques de GNL garantem um alívio temporário. “O clima ameno e o aumento do fornecimento de gás natural liquefeito (GNL) suavizaram o impacto dos fluxos russos continuamente baixos e resultaram em maiores volumes de armazenamento de gás”, disse a analista da consultoria, Kateryna Filippenko. “De baixas recordes no início do inverno, os níveis de armazenamento voltaram a entrar em sua faixa de cinco anos, embora no lado mais baixo, e estão a caminho de estar em uma posição mais confortável até o final de março”, acrescentou.

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Explosão na Ucrânia na madrugada de hoje (24)

Kateryna disse que a análise da Wood Mackenzie aponta que, em janeiro e fevereiro deste ano, havia mais GNL no sistema de gás da Europa do que gás russo. Os altos preços europeus ajudaram, mas isso é resultado principalmente da Ásia começar o ano com altos níveis de estoque, juntamente com temperaturas locais amenas que liberaram algumas cargas de GNL para a Europa. Os altos preços do gás provavelmente devem permanecer até 2022 e incentivarão a Noruega a continuar com fortes exportações para a Europa, atraindo mais cargas de GNL para o Velho Continente.

Isso reduzirá a necessidade de gás russo até 2022. Mesmo fluxos relativamente baixos nos níveis contratuais atuais – com as rotas de trânsito da Polônia e da Ucrânia funcionando abaixo da capacidade total – resultarão em uma posição de armazenamento confortável antes do próximo inverno. Esperamos que os níveis atinjam cerca de 85% até o final de outubro, em contraste com 74% no início do inverno atual”, disse a analista. “No geral, a situação atual de fornecimento e armazenamento significa que a Europa está em melhor posição para navegar em 2022 sem o Nord Stream 2 e se preparar para o próximo inverno”, acrescentou. Para lembrar, a Alemanha suspendeu nessa semana a autorização para operação do gasoduto Nord Stream 2 após as ações da Rússia na Ucrânia.

O Presidente da Rússia, Vladimir Putin após a segunda sessão de trabalho da reunião do BRICS (José Cruz/Agência Brasil)No entanto, a Wood Mackenzie não vê o cenário no médio ou longo prazo com bons olhos. O declínio contínuo da produção nativa e a menor disponibilidade de fornecimento de GNL para a Europa poderá complicar o mercado em 2023. Kateryna disse que a Europa pode ter dificuldades para reabastecer seu armazenamento a um nível confortável até o verão de 2023 e se preparar para o inverno.

Sob condições climáticas médias, os fluxos russos limitados a níveis contratados resultariam em níveis de armazenamento em 75% antes do inverno de 2023/24 – semelhantes aos níveis antes do inverno de 2021/22. Se nenhum gás adicional for disponibilizado da Rússia, a Europa ficaria exposta à dinâmica climática durante o próximo inverno, semelhante a este inverno, com os preços permanecendo altos e voláteis. Somente com o aumento dos fluxos da Rússia, a situação pode melhorar”, analisou.

nordA depender do desenrolar do confronto no leste da Ucrânia, a Europa pode viver um drama em seu abastecimento de gás. “Se as exportações russas para a Europa forem interrompidas, as coisas obviamente podem piorar muito. A Europa pode ser capaz de lidar se as interrupções no fornecimento forem limitadas ao trânsito da Ucrânia. Teria que puxar todas as alavancas do sistema de energia para manter as luzes acesas – reduzindo a queima de gás e acionando usinas nucleares e de carvão desativadas”, alertou Kateryna .

A analista destaca ainda se todo o gás russo for cortado, a Europa não teria chance de lidar com isso. “Se todos os fluxos de gás parassem hoje, a Europa poderia se atrapalhar no curto prazo, devido aos estoques de armazenamento mais altos e à baixa demanda de verão”, previu. “Mas no caso de interrupção prolongada, o estoque de gás não poderia ser reconstruído durante o verão. Estaríamos diante de uma situação catastrófica de armazenamento de gás próximo de zero para o próximo inverno. Os preços seriam altíssimos. As indústrias precisariam fechar. A inflação entraria em espiral. A crise energética europeia pode muito bem desencadear uma recessão global”, concluiu.

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