INB FESTEJA SEUS 35 ANOS COM A CONQUISTA DE SUA INDEPENDÊNCIA FINANCEIRA E MIRANDO EM PARCERIAS NA MINERAÇÃO DE URÂNIO | Petronotícias




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INB FESTEJA SEUS 35 ANOS COM A CONQUISTA DE SUA INDEPENDÊNCIA FINANCEIRA E MIRANDO EM PARCERIAS NA MINERAÇÃO DE URÂNIO

Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) – 

Carlos_FreireO aniversário de 35 anos da estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB) tem contornos especiais. O fato de ganhar mais um ano de existência em sua bagagem já é um grande motivo de comemoração, mas a companhia tem ainda outras muitas boas razões para festejar esse momento. Em entrevista exclusiva ao Petronotícias, o presidente da empresa, Carlos Freire, conta que uma grandes metas da sua gestão foi conquistada: a independência da estatal de recursos do Tesouro Nacional. Segundo Freire, esse importante feito abre possibilidades para a companhia na hora de planejar e executar novos investimentos. Como se sabe, a INB atua na cadeia produtiva do urânio, que inclui a mineração, o beneficiamento, o enriquecimento, a fabricação de pó, pastilhas e do combustível que abastece as usinas nucleares brasileiras. Especificamente sobre a mineração, a INB planeja fechar 2023 com uma produção anual de 180 toneladas em sua mina no município de Caetité (BA). A atividade na área ficou paralisada entre 2015 e 2020 e ainda está em processo de ramp up. No médio prazo, de acordo com Freire, a produção local poderá chegar a 800 toneladas por ano. Em paralelo, a INB continua avançando no processo de licenciamento do projeto de mineração em Santa Quitéria (CE), em parceria com o Grupo Galvani, para explorar a jazida de Itataia – onde o urânio se encontra associado ao fosfato. Quando em operação, a mina produzirá anualmente 2.300 toneladas de concentrado de urânio. “Será um projeto que resgatará uma região muito pobre do Ceará. A geração de empregos será magistral, na faixa de 5 mil postos durante a implantação e 2.500 na fase de operação”, detalhou. Por fim, o presidente da INB comenta ainda sobre as novas possibilidades de parcerias com companhias privadas por conta da aprovação da Lei 14.514/22, que flexibilizou a mineração de urânio no Brasil. “O que eu posso adiantar é que são muitas as empresas interessadas em estabelecer parcerias conosco”, contou. Para celebrar os 35 anos de existência, a INB organiza hoje (31) um evento em sua sede, no Rio de Janeiro, onde também homenageará funcionários que fizeram parte da história da companhia.

Poderia começar falando sobre esse momento especial de celebração dos 35 anos? Como a empresa pretende comemorar esse marco?

2f949aba-c1d2-49ad-95c3-711e581c6ea6Em seus 35 anos de existência, apesar dos desafios, a INB sempre cumpriu com sua missão precípua de fornecer combustível para as usinas de Angra 1 e Angra 2. A empresa se preparou para comemorar esse marco olhando para o passado mas, sobretudo, vislumbrando o futuro. Nos últimos anos, graças a um esforço conjunto de seu pessoal, a INB conseguiu alçar um grande voo. Uma das metas do nosso planejamento estratégico era tornar a INB independente do orçamento federal. Nós conseguimos superar essa barreira no final do ano passado, graças a um esforço muito grande em duas vertentes: redução de despesas e renegociação de contratos. Esse importante feito foi alcançado também com um grande apoio do Ministério de Minas e Energia e a atuação decisiva da nossa empresa controladora, a ENBPar. Essa independência representa a possibilidade de planejar os investimentos, priorizá-los e, sobretudo, executá-los. 

Em paralelo, conseguimos também homologar a INB como uma Empresa Estratégica de Defesa, em razão das parcerias desenvolvidas com a Marinha. Como todos sabem, a Marinha está trabalhando para desenvolver o submarino convencional de propulsão nuclear e precisa de uma empresa que forneça o combustível. Numa primeira etapa, vamos fornecer o combustível para o Laboratório de Geração de Energia Nucleoelétrica (LABGENE), que será o protótipo em tamanho real do submarino. É um projeto muito importante. Já fabricamos as pastilhas de urânio e, muito em breve, vamos assinar o contrato para a fabricação dos elementos combustíveis. 

Os 35 anos da INB se descortinam com essas e outras visões muito positivas. A celebração desse aniversário começa hoje (31), com um evento em nossa sede, onde serão reconhecidos os funcionários pelo tempo de serviço. Nada melhor do que a companhia reconhecer a permanência dessas pessoas ao longo de tantos anos nessa empresa estratégica. Haverá ainda a cerimônia de entrega do Prêmio de Inovação da INB. 

Falando agora sobre mineração, poderia fazer um balanço das operações de Caetité, desde a retomada da mineração nessa área em 2020?

Mina do Engenho, em Caetité

Mina do Engenho, em Caetité

O site de Caetité é bastante promissor. Nele são realizadas as duas primeiras etapas do ciclo do combustível nuclear: a mineração e o beneficiamento do minério. A primeira mina, chamada Cachoeira, já se exauriu a partir da extração a céu aberto. Essa mina tem o potencial de ser explorada como uma mina subterrânea. Isso ainda está sendo avaliado. No momento, estamos explorando uma segunda mina, a do Engenho.

A INB ficou um tempo significativo sem produzir urânio, de 2015 a 2020. Mas graças a um esforço muito grande de todos e numa colaboração muito positiva com os órgãos controladores, conseguimos reiniciar a produção no final de 2020. As nossas instalações ficaram paradas por muito tempo e isso trouxe um desafio adicional. O ramp up da produção foi bastante sofrido. Até o final deste ano, estaremos atingindo o patamar de 180 toneladas produzidas, o que será um grande feito. 

Por fim, importante mencionar que estamos trabalhando em um projeto para ampliar, dentro de três ou quatro anos, a produção de Caetité – que poderá chegar ao patamar de 800 toneladas por ano. Se nós somarmos essa produção de Caetité com a futura produção de Santa Quitéria, o Brasil se tornará exportador de urânio. 

Poderia também nos atualizar a respeito dos avanços no projeto de Santa Quitéria?

Santa Quitéria

Santa Quitéria

A mina de Santa Quitéria também é muito promissora, com potencial para produzir 1 milhão e 220 mil toneladas de fosfato e 2.300 toneladas de urânio por ano. Será um projeto que resgatará uma região muito pobre do Ceará. A geração de empregos será magistral, na faixa de 5 mil postos durante a implantação e 2.500 na fase de operação. O investimento será de cerca de US$ 2,3 milhões. É uma enorme janela de oportunidade. Esse projeto vai colocar a INB e o Brasil em outro patamar em termos de produção de urânio. 

Neste momento, esse projeto já está recebendo o sinal verde da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) para o licenciamento nuclear. E estamos trabalhando também no atendimento às demandas que o Ibama fez para o licenciamento ambiental. 

Quanto ao enriquecimento, a INB deu um importante passo recentemente com a contratação do projeto básico da segunda fase da Usina de Enriquecimento Isotópico de Urânio. Quais serão os próximos passos?

1b13b025-c664-49c1-be2b-5944d31845c5A implantação da Usina de Enriquecimento Isotópico de Urânio da Fábrica de Combustível Nuclear, em Resende (RJ), está sendo realizada de forma modular, dividida em duas fases. A primeira etapa foi concluída no ano passado, com a inauguração da décima cascata de ultracentrífugas. É um trabalho belíssimo que vem sendo feito em parceria com a Marinha do Brasil, que é detentora da tecnologia. Poucos países no mundo detêm essa tecnologia, desenvolvida pela Marinha em uma parceria com o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN). 

No final de julho, assinamos com a Amazul o contrato para o desenvolvimento do projeto básico da segunda fase de implantação da Usina de Enriquecimento, que prevê mais 30 cascatas de ultracentrífugas. Isso garantirá ao Brasil a autossuficiência no enriquecimento de urânio. 

Estamos fazendo um trabalho ao lado da Marinha para o fornecimento das centrífugas. Estamos discutindo como antecipar o prazo para conclusão dessa segunda fase. Já fizemos algumas reuniões muito interessantes nesse sentido com a Marinha e tudo está caminhando muito bem. O cronograma antigo apontava para a conclusão dessa segunda fase em 2039. A INB, alinhada com a Marinha, vai envidar esforços para conseguir abreviar esse prazo. 

Como estão os planos para implantação das etapas de conversão na Fábrica de Combustível Nuclear?

Visão geral Fábrica de Combustível Nuclear, em Resende (RJ)

Visão geral Fábrica de Combustível Nuclear, em Resende (RJ)

A disponibilidade do serviço de conversão, que transforma o yellow cake em hexafluoreto de urânio (UF6), reduziu significativamente no mundo. Esse problema já estava aparecendo no radar das grandes empresas desde 2019 e foi agravado pelo fechamento de usinas na Rússia e pela Guerra na Ucrânia. As estimativas no mercado apontam que o setor nuclear mundial poderá ter problemas sérios de disponibilidade de serviços de conversão entre 2030 e 2035.  Tendo em vista a análise desse cenário, a INB retomou a implantação da usina de conversão dentro do seu planejamento estratégico. Não é um tema que será resolvido no curto prazo, mas estamos já pensando sobre isso. É preciso ter uma visão estratégica sobre essa questão da conversão.

A INB planeja fazer novas parcerias para ampliar ainda mais sua capacidade de atuação no setor nuclear?

653a5b35-b046-4841-a111-221adab10cf8Desde a promulgação da Lei 14.514/22, que flexibilizou a mineração de urânio, a INB está sendo procurada por vários parceiros, que estão tentando buscar formas para participar desse novo momento. Agora, há essa possibilidade de estabelecer parcerias em áreas de mineração de urânio nas quais a INB detém o direito. A moldura jurídica anterior só nos permitia fazer parcerias em áreas como Santa Quitéria, onde o recurso principal é o fosfato (que representa mais de 90% do volume de minério). 

Essa questão das parcerias é extremamente importante e vai permitir um novo salto para a INB. Estamos, inclusive, discutindo a reestruturação de setores dentro da empresa diante desse contexto. A INB precisará de equipes com habilidades comerciais para estruturar parcerias, por exemplo. O que eu posso adiantar é que são muitas as empresas interessadas em estabelecer parcerias conosco. 

O senhor está à frente da INB há pouco mais de quatro anos e sete meses. Poderia citar alguns dos principais avanços conquistados pela empresa nesse período?

4454943f-e336-49eb-b2a4-6d065cf73794Durante esses quatro anos e sete meses, procuramos conduzir a empresa de uma forma muito objetiva, com respeito aos regramentos e uma visão muito pragmática sobre o futuro. Quando assumimos a direção da INB, recebemos algumas missões: retomar a mineração de urânio no Brasil; conquistar a independência da INB e tirar a empresa do orçamento da União; incentivar as parcerias e trabalhar pela flexibilização. O nosso time cumpriu essas missões.

Além disso, melhoramos muito a governança da empresa. Hoje, temos uma governança muito forte na INB, como determina a Lei 13.303/2016 (Lei das Estatais) e seu decreto regulador. Eu fico muito feliz com o resultado alcançado, porque a estrutura atualmente que nós temos em termos de governança está perfeitamente alinhada com as melhores práticas de governança das empresas estatais. 

A atual diretoria e o pessoal da empresa também se dedicaram muito para entregar as recargas de combustível nuclear para as usinas de Angra em plena pandemia. Não perdemos um funcionário durante a pandemia. Montamos um comitê sobre a covid-19, que trabalhou noite e dia em prol da saúde e segurança dos nossos funcionários.  

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