INB LANÇARÁ NOVOS EQUIPAMENTOS PARA PRODUÇÃO DE COMBUSTÍVEL NUCLEAR E PREVÊ FORNECIMENTOS PARA SUBMARINO NUCLEAR
Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –
A parceria entre a Marinha do Brasil e a Indústrias Nucleares do Brasil (INB) tem gerado benefícios para o País que não se limitam apenas à geração de energia elétrica. Como se sabe, a INB opera uma Usina de Enriquecimento de Urânio na Fábrica de Combustível Nuclear, em Resende (RJ), visando à produção de combustível para as usinas nucleares Angra 1 e Angra 2. A Usina de Enriquecimento de Urânio possui 6 cascatas de ultracentrífugas em plena operação. A cascata 7 iniciará os testes finais de operação em meado de julho e a cascata 8 também entrará em operação ainda em 2018. Até 2021, deverão entrar em operação as cascatas 9 e 10. Assim, terá sido concluída a Fase 1 do empreendimento de implantação da Usina de Enriquecimento de Urânio na INB, segundo o Diretor Técnico de Enriquecimento Isotópico da INB, o Contra-Almirante da Marinha do Brasil Álvaro Luís de Souza Alves Pinto. O militar detalha, ainda, que a Fase 2 desse empreendimento já foi iniciada e prevê a instalação de mais 30 cascatas de ultracentrífugas, o que dará autossuficiência para o Brasil produzir todo o urânio enriquecido necessário para suprir a necessidade de combustível nuclear das usinas Angra 1, Angra 2 e Angra 3, e, também, do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB). Ele também revela quais serão os próximos passos da exitosa relação entre Marinha e a INB. “A Usina de Enriquecimento de Urânio está licenciada para produzir urânio enriquecido até 5%, adequado para a aplicação em reatores para geração de energia elétrica, mas insuficiente para um reator de um submarino com propulsão nuclear. Contudo, esse urânio com baixo enriquecimento poderá ser matéria prima para as cascatas de ultracentrífugas instaladas no Centro Industrial Nuclear de Aramar, onde será produzido o combustível para o reator do submarino com propulsão nuclear”, contou.
O senhor poderia começar explicando um pouco sobre as funções da diretoria?
A organização da INB, de modo simplificado, apresenta suas atividades distribuídas em quatro diretorias, subordinadas à Presidência da empresa: a Diretoria de Recursos Minerais (DRM), a Diretoria de Produção de Combustível Nuclear (DPN), a Diretoria de Finanças e Administração (DFA) e a Diretoria Técnica de Enriquecimento Isotópico (DTE) – da qual eu sou responsável. Esta diretoria foi criada por volta de 2003, em face da necessidade de ser dada uma atenção especial às atividades associadas à implantação da Usina de Enriquecimento de Urânio na Fábrica de Combustível Nuclear (FCN), em Resende (RJ). Até então, na FCN, só havia uma Diretoria industrial responsável por três etapas do ciclo do combustível nuclear: reconversão, fabricação de pastilhas e montagem do elemento combustível. A DTE é responsável pelas atividades técnicas relacionadas ao Enriquecimento Isotópico de Urânio.
E quais são os trabalhos mais recentes da diretoria?
O domínio da tecnologia de enriquecimento de urânio no Brasil, pela Marinha do Brasil, completou 30 anos em 2018. O empreendimento de implantação da Usina de Enriquecimento de Urânio, iniciado em 2000, é relativamente recente. Há muitas novidades e o pioneirismo é inerente a muitas atividades. De uma maneira geral, a implantação da Usina de Enriquecimento Isotópico atende a dois aspectos principais: aplicar a tecnologia desenvolvida de modo autóctone pela Marinha do Brasil em escala industrial e suprir a INB da etapa mais complexa, sensível e estratégica do ciclo do combustível nuclear, contribuindo para a autossuficiência do País. Em relação ao primeiro aspecto, a Usina de Enriquecimento de Urânio proporciona importantes informações aos especialistas da Marinha do Brasil. Graças a esse “feedback” e ao continuado esforço da Marinha do Brasil, foi possível o aprimoramento das ultracentrífugas e das cascatas. Diversas linhas de pesquisa foram fomentadas por esse empreendimento. Estamos, agora, na Fase 1 do empreendimento, que prevê a instalação de dez cascatas. Nesta etapa, não conseguiremos a autossuficiência em termos de produção de urânio enriquecido. Mas o empreendimento é muito maior. Após a conclusão da Fase 2, a INB terá condições de produzir urânio enriquecido suficiente para abastecer Angra 1, Angra 2, Angra 3 e o Reator Multipropósito Brasileiro. A importância desse empreendimento é tão relevante que, a despeito de qualquer consideração tecnológica e estratégica, a INB o considera vital para sua “saúde financeira”, conforme expresso em seu Planejamento Estratégico. Na semana passada, dia 5 de junho, estivemos no IBAMA para apresentar, preliminarmente, o Relatório de Análise Simplificado da Fase 2 do empreendimento, que deverá ser entregue em julho, visando à obtenção da Licença de Instalação, necessária para início das obras.
E quais outras atividades que a INB tem feito dentro do âmbito das cascatas de ultracentrífugas?
A INB e a Marinha do Brasil trabalham de modo coordenado e complementar, sempre, é importante lembrar, em atendimento a requisitos estabelecidos pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), que nos acompanha e certifica os resultados alcançados, como autoridade nacional, reconhecida internacionalmente, na área nuclear. A implantação e a operação da Usina é a parte mais visível do trabalho realizado. Há, também, um incessante esforço de evolução tecnológica, que começa nas instalações da Marinha do Brasil, no Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP), permeando universidades e institutos de pesquisa, como a USP e o IPEN, e é continuado nas instalações da INB. Além das ultracentrífugas, aprimora-se a arquitetura das cascatas, desenvolve-se válvulas especiais, softwares de controle e monitoração, etc. Tudo isso é testado, inicialmente, no Centro Industrial Nuclear de Aramar (CINA) e, depois de aprovado, é instalado na Usina da INB, que fica responsável pelas manutenção em primeiro nível, operação e produção. O empreendimento da Usina de Enriquecimento de Urânio na INB é, segundo meu entendimento, uma versão bem sucedida do modelo da Hélice Tríplice de incentivo à inovação. Neste momento, por exemplo, os modelos de ultracentrífugas que serão instaladas na Fase 2 do empreendimento, provavelmente daqui há 5 ou 6 anos, já se encontram em teste no CINA. Ou seja, estamos pensando no presente e olhando, sempre, para o futuro.
O senhor mencionou sobre a sétima cascata. Quando ela deve ser lançada?
A cascata 7 já está instalada. Estamos executando uma etapa de preparação para a realização dos testes operacionais e ajustes finais. A Agência Internacional de Energia Atômica liberou, recentemente, a instalação para início dos testes com hexafluoreto de urânio (UF6). A nossa previsão é iniciar a operação com UF6 na segunda quinzena de julho. Após os ajustes necessários na etapa que chamamos de comissionamento, a cascata estará liberada para operação plena. Antes do final de 2018, a cascata 8 também deverá entrar em operação plena.
Almirante, o senhor também mencionou que as máquinas da segunda fase estão entrando em fase de testes. Fale um pouco sobre os objetivos dessa nova etapa.
A Fase 1 demonstrou a competência tecnológica, já comprovada anteriormente em laboratório, em escala industrial. Serviu, também, para que fosse criada uma “cultura operacional”: procedimentos foram definidos e, sempre que necessário, são aprimorados e operadores e mantenedores foram treinados. Demonstramos a competência nacional para desenvolver, implantar e operar cascatas de ultracentrífugas, em escala industrial, com segurança e eficiência. Tudo regulado e certificado, é importante lembrar, pela CNEN. A Fase 1 abrange dez cascatas de ultracentrífugas. É insuficiente para suprir a necessidade de Angra 1 e Angra 2. A Fase 2, superada a fase inicial de demonstração e maturação tecnológica, pretende alcançar a autossuficiência na produção de urânio enriquecido. A previsão é instalar mais 30 cascatas de ultracentrífugas. Com isso, atingiremos uma capacidade instalada suficiente para produzir urânio enriquecido para Angra 1, Angra 2, Angra 3, para o RMB e, ainda poderá haver um pequeno excedente que a ser aproveitado pela INB para atender demandas adicionais. Por exemplo, a INB já efetuou uma venda de dióxido de urânio para a estatal argentina Combustibles Nucleares Argentinos S.A. (Conuar) e há outra venda do mesmo material cuja licença de exportação foi obtida há poucos dias e está próxima de ser efetivada.
O senhor poderia citar quais serão os próximos passos da parceria da Marinha com a INB?
Tudo o que ocorre na parceria entre a INB e a Marinha do Brasil contribui para o Programa Nuclear da Marinha (PNM), direta o indiretamente. O desenvolvimento das ultracentrífugas, das cascatas, dos componentes e materiais associados é aplicado diretamente nas atividades do PNM. Portanto, o ganho é imediato. Como nós temos o licenciamento para produzir urânio enriquecido até 5%, que é o nível necessário para produção de eletricidade, mas insuficiente para o reator de um submarino com propulsão nuclear, poderemos ser fornecedores desse material para a Marinha do Brasil, que fará o enriquecimento final até o valor adequado. Mas a relação da INB com o PNM não se limita ao enriquecimento de urânio. A INB fornecerá o concentrado de urânio, produzido em sua unidade mineradora situada em Caetité, para ser convertido em UF6 na USEXA, Usina de Conversão situada no CINA. Além disso, em face da experiência industrial da INB nas áreas de reconversão, fabricação de pastilhas e montagem do elemento combustível, costuma haver intercâmbio de informações e apoio técnico recíproco.
Além do fornecimento de urânio pré-enriquecido, existem novos planos da INB em sua relação com a Marinha?
A parceria entre a INB e a Marinha do Brasil não se limita e nem cessará após a conclusão do empreendimento da Usina de Enriquecimento de Urânio. É essencial que isso seja conhecido. Para manutenção e substituição de ultracentrífugas e apoio técnico especializado a INB continuará a depender da parceria com a Marinha do Brasil. Não obstante, a mineração e a consequente produção de concentrado de urânio são atividades de fundamental importância para o PNM. A Marinha do Brasil domina o ciclo do combustível nuclear a partir da conversão de concentrado de urânio em UF6. Caberá à INB fornecer concentrado de urânio à Marinha do Brasil. Por tudo isso, e pelo grande intercâmbio que existe entre os especialistas da INB e da Marinha do Brasil, fica evidente que a INB tem uma importância estratégica para o PNM, conforme tem sido possível verificar nas discussões que ora ocorrem, sob a coordenação do Gabinete de Segurança Institucional, no âmbito do Comitê de Desenvolvimento do Programa Nuclear Brasileiro.
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