INB QUER SUPRIR TODA DEMANDA DE URÂNIO ENRIQUECIDO DA ARGENTINA NO LONGO PRAZO
Por Daniel Fraiha (daniel@petronoticias.com.br) –
A estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB) está empenhada no trabalho de ampliar os horizontes da produção de urânio no Brasil e uma das metas para além das fronteiras é tornar a Argentina um cliente fiel a longo prazo. Depois de entregar uma primeira carga de pó de UO2 para o país vizinho em 2016, a empresa já negocia uma segunda exportação com os argentinos, o que faz parte de um trabalho para tentar suprir toda a demanda de urânio enriquecido da nação comandada por Maurício Macri. “Não faz muito sentido importar pó de UO2 enriquecido da Europa quando temos produção na América do Sul”, diz o presidente da INB, João Carlos Tupinambá, em entrevista exclusiva ao Petronotícias. O executivo conta ainda que a empresa vem negociando novas parcerias com o setor privado e trava diálogos com a China, que já demonstrou interesse em investir no segmento de mineração de urânio no Brasil. “A INB trabalha para dobrar a produção de urânio em Caetité, de 400 toneladas para 800 t/ano. A outra ação em que a INB está empenhada é a de colocar em operação a Mina de Itataia, no Ceará, cuja capacidade de produção é de 1.200 t/ano”, destaca Tupinambá.
– Em dezembro, a INB anunciou que iniciou as atividades em Caetité para “retomada da produção de urânio no Brasil”. Gostaria de esclarecer melhor esse ponto. Houve algum tipo de paralisação ou referiam-se a uma retomada do crescimento?
Houve sim. Em períodos anteriores à atual gestão, não houve produção de urânio em Caetité, por questões técnicas e de licenciamento. Desde que a atual gestão assumiu, colocou como meta prioritária a retomada da produção de urânio em Caetité, com a abertura de uma nova mina: a Mina do Engenho, com capacidade de produzir aproximadamente 300 toneladas/ano de urânio.
– Qual é a produção média de urânio no Brasil hoje e quais as metas para os próximos anos?
Hoje a demanda brasileira é de 400 toneladas/ano para abastecer as duas usinas em operação, Angra 1 e 2. A meta da INB para os próximos anos é de dobrar essa produção, considerando a entrada em operação de Angra 3.
– Outra questão mencionada em dezembro pela empresa foi a necessidade de ampliar a exploração do urânio para conduzir o País à autossuficiência, sem a necessidade de importação. Neste caso, como a INB está exportando urânio se ainda há a necessidade de importação?
A INB está exportando para a Argentina urânio enriquecido na forma de pó de UO2, ou seja, material com valor agregado e não fazendo apenas um repasse de material importado.
No momento, as quantidades exportadas são pequenas, logo, o volume de material exportado não tem impacto sobre as necessidades de importação da INB.
– Como a queda da cotação internacional do urânio tem afetado a INB e seus projetos?
O nível de preços do urânio no mercado “spot” está baixo, mas segundo os analistas de mercado esta situação não vai perdurar por muito tempo, pois os grandes produtores não têm condições de operar neste nível de preços por prazos muito longos.
Assim, a tendência a longo prazo indica uma recuperação dos preços do urânio. No caso da INB, esta situação atual não nos afeta muito, pois trabalhamos com contratos de longo prazo.
– Em que passo está o processo de negociação com a Argentina para a exportação de uma nova carga de urânio brasileiro?
A Argentina tem um consumo de pó de UO2 enriquecido que pode vir a ser, a longo prazo, atendido pela INB.
No momento, estamos na fase inicial de discussão de um novo lote de exportação, em bases semelhantes à primeira exportação.
– Quais as metas e expectativas do plano de exportações da INB?
Com relação à Argentina, a INB tem como meta ser capaz de fidelizar a Argentina como nosso cliente a longo prazo. Não faz muito sentido importar pó de UO2 enriquecido da Europa quando temos produção na América do Sul.
– Que tipo de parcerias a empresa está buscando atualmente e com quais fins?
No momento, a INB está avaliando parcerias na área de mineração de urânio com o objetivo de aumentar as reservas de urânio brasileiras, aumentar a produção para atender ao mercado nacional e gerar excedentes exportáveis.
– Como a iniciativa privada pode se unir à INB? Quais os benefícios e contrapartidas propostos para cada uma das partes?
Dentro da estrutura atual, a INB tem possibilidades de cooperar com empresas privadas na área de produção de urânio, especialmente nos minérios contendo urânio associado, onde haja predominância do mineral principal. Benefícios e contrapartidas serão definidos caso a caso.
– Como estão as conversas com a China em busca de uma parceria? Quais seriam as condições deles para entrarem com investimentos em projetos da INB? E quais seriam os projetos envolvidos?
As discussões com a China estão ainda em fase exploratória para conhecimento da capacidade técnica de cada parte e avaliação de potenciais áreas de interesse. Ainda não temos, no momento, alvos finais definidos, mas estamos discutindo várias possibilidades.
– Quais são as ações fundamentais para ampliar a exploração de urânio no Brasil?
A INB trabalha para dobrar a produção de urânio em Caetité, de 400 t para 800 t/ano. A outra ação em que a INB está empenhada é a de colocar em operação a Mina de Itataia, no Ceará, cuja capacidade de produção é de 1.200 t/ano. Esse empreendimento é resultado de uma parceria com a Galvani Mineração. Nessa mina, o urânio está associado ao fosfato, um produto de interesse da nossa parceira.
– Quais os principais projetos voltados ao desenvolvimento de combustível nuclear em andamento atualmente com participação da INB? Quais as metas deles?
Com relação à produção do combustível nuclear para geração de energia elétrica, via usinas nucleares, o projeto da INB é manter a produção das recargas de Angra 1 e 2. A cada ano a INB fábrica uma recarga para cada usina, que representa 1/3 do reator.
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