INB VAI EM BUSCA DE MAIS JAZIDAS DE URÂNIO E ALMEJA FATURAR ATÉ R$ 15 BILHÕES EM 15 ANOS COM NOVOS PROJETOS
A estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB) está em busca de novas oportunidades de mineração de urânio, com a perspectiva de elevar consideravelmente suas receitas nos próximos anos. Em entrevista exclusiva ao Petronotícias, o presidente da empresa, Adauto Seixas, prevê um faturamento de até R$ 15 bilhões ao longo de 15 anos com a exploração de novas minas. “Vamos colocar quatro áreas em oferta pública no primeiro semestre de 2025, dentro do escopo do nosso Programa de Parcerias em Prospecção e Lavra de Urânio (Pró-Urânio). O objetivo é selecionar parceiros para a retomada da pesquisa mineral em projetos exploratórios da empresa”, contou. Além disso, Seixas revela os planos para construir uma planta de conversão de urânio, bem como o projeto para ampliar a Usina de Enriquecimento do atual patamar de 10 cascatas de ultracentrífugas para até 46 unidades. “Com essa expansão, poderemos atender Angra 1, Angra 2, Angra 3 e, inclusive, exportar urânio enriquecido. Esse é um dos objetivos que estamos perseguindo na INB. Se tudo der certo, pretendemos não só exportar urânio, mas também urânio enriquecido”, concluiu.
Para começar, o senhor poderia falar um pouco sobre a parte de mineração, especialmente em relação ao mapeamento de novas jazidas de urânio? Como está esse movimento e quais são os objetivos que a INB espera alcançar?
Vamos colocar quatro áreas em oferta pública no primeiro semestre de 2025, dentro do escopo do nosso Programa de Parcerias em Prospecção e Lavra de Urânio (Pró-Urânio). O objetivo é selecionar parceiros para a retomada da pesquisa mineral em projetos exploratórios da empresa. Isso vai ser muito importante para o país. Digo isso porque todo o mundo está em busca de urânio, e nós somos os especialistas nessa área.
Ao colocarmos essas áreas em oferta pública, teremos empresas que vão investir um montante significativo de dinheiro para mapear essas quatro regiões. Porém, o grupo que realizar o mapeamento das áreas não terá automaticamente o direito de operá-las; haverá uma nova concorrência para isso. E, caso esse grupo não vença, nosso contrato garante que ele será ressarcido pelos custos incorridos no mapeamento. Esse tipo de postura da empresa representa o que chamamos de uma nova INB.
Ainda falando em mineração, como está a situação do projeto de Santa Quitéria (CE)?
Em Santa Quitéria, por exemplo, temos uma combinação interessante: o fosfato representa 99,8% e o urânio apenas 0,2%. Se tudo correr bem, a previsão é que, em 2028, comecemos a operar a mina em Santa Quitéria. Para você ter uma ideia, a produção anual será de 2.300 toneladas com esse projeto. Isso será suficiente para abastecer Angra 1, Angra 2 e, se Deus quiser, Angra 3. Somando as três usinas, precisaremos de aproximadamente 800 toneladas. O excedente será exportado. Esse projeto é fruto de uma parceria entre a Galvani e a INB.
Qual o peso desses projetos nas finanças da empresa no futuro?
Nos próximos 15 anos, com essas jazidas que serão transformadas em minas, estimamos uma arrecadação de aproximadamente R$ 15 bilhões.
O senhor poderia compartilhar com os nossos leitores alguns planos da INB para desenvolver a etapa de conversão?
Existem sete etapas na cadeia produtiva do urânio, e a única que ainda não realizamos na INB é a conversão. Esse é um ponto realmente importante. O nosso plano, com o dinheiro que projetamos arrecadar, é construir uma planta de conversão. Para você ter uma ideia da magnitude desse projeto, montar uma planta de conversão custa cerca de R$ 5 bilhões – talvez um pouco mais ou um pouco menos, mas essa é uma estimativa bem realista. Se tudo der certo, nosso objetivo é fechar essa cadeia completa, desde a extração do urânio até a geração de energia. Pouquíssimos países detêm todo esse conhecimento, e nós, brasileiros, devemos nos orgulhar muito do nosso setor nuclear, pois essa é uma meta que queremos alcançar.
Existe algum prazo ou plano específico para iniciar essa etapa de conversão? Algum investimento planejado?
Diria que nos próximos dez anos. Como mencionei, nos próximos 15 anos esperamos gerar receita para a INB, e uma parte desse dinheiro será direcionada para iniciar e executar o projeto de conversão. Adicionalmente, temos também o plano para a ampliação da etapa de enriquecimento.
Essa era justamente a minha próxima questão. Para atualizar nossos leitores, poderia falar sobre quais são as próximas etapas para o desenvolvimento da Unidade de Enriquecimento?
Hoje, contamos com dez cascatas de enriquecimento que atendem cerca de 60% das necessidades de Angra 1. Nosso objetivo é expandir essa capacidade para abastecer Angra 1, Angra 2 e Angra 3. Esse projeto de enriquecimento está avançando aos poucos.
A capacidade total futura da Unidade de Enriquecimento será realmente de 40 cascatas, mas temos potencial para chegar a 46. Com essa expansão, poderemos atender Angra 1, Angra 2, Angra 3 e, inclusive, exportar urânio enriquecido. Esse é um dos objetivos que estamos perseguindo na INB. Se tudo der certo, pretendemos não só exportar urânio, mas também urânio enriquecido.
Para encerrar, o senhor poderia fazer um balanço da recém criada Superintendência de Novos Negócios e Minerais Estratégicos da estatal?
Quando assumimos, tínhamos uma unidade em Buena, no estado do Rio de Janeiro, que estava programada para encerrar suas operações, com o descomissionamento previsto para o dia 31 de dezembro de 2023. A partir daí, fizemos uma oferta pública, e seis empresas se interessaram, com a ADL — uma empresa sul-coreana — vencendo o processo.
O contrato com a ADL nos trouxe uma importante garantia: 4% do faturamento deles será direcionado à INB, sendo 1,5% destinado ao descomissionamento. Atualmente, temos 24 funcionários na unidade e um gasto mensal de aproximadamente R$ 1,2 milhão. Com essa nova parceria, a partir de janeiro de 2025, projetamos que a unidade de Buena poderá gerar de R$ 3 milhões a R$ 4 milhões para os cofres da INB.
A ADL também implementou diversas melhorias na planta, que foi inaugurada no final da década de 1940. Eles instalaram internet em toda a área, criaram um restaurante, algo que nunca existiu, e estão investindo diretamente na economia local, comprando arroz, feijão e outros insumos no próprio mercado de Buena. Esse impacto positivo na cidade mostrou que estamos no caminho certo. Esse é o fruto da nova superintendência. Como gestores, precisamos focar na produção, mas sempre valorizando as pessoas. Se você tem o ser humano ao seu lado, as coisas fluem com mais facilidade. Hoje, a INB é uma potência, e isso é o resultado de um trabalho coletivo, de todos que estão ali, no chão de fábrica, fazendo a INB crescer.
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