PERMANÊNCIA DE SERGIO MACHADO NA TRANSPETRO MOSTRA QUE FORÇA POLÍTICA AINDA IMPERA SOBRE A PETROBRÁS
A situação de Sergio Machado, numa licença do cargo de presidente da Transpetro que já parece interminável, é um sinal da força política que ainda impera no comando da Petrobrás. Quando a presidente Graça Foster assumiu o posto, em 2012, trocou quase todos os executivos em cargos de comando na estatal, mas Sergio Machado foi o único que ela não conseguiu destituir. A indicação dele, feita pelo PMDB, sob a alçada da ala dominada pelo Senador Renan Calheiros, tinha muita força para que Machado caísse. Ficou por ali então. O tempo passou, a Petrobrás entrou num processo de denúncias subsequentes, culminando com a Operação Lava Jato e as delações premiadas que estão trazendo à tona para todo o País práticas escusas que eram comuns há anos na companhia. Num desses depoimentos, mais precisamente em um dos prestados pelo ex-diretor Paulo Roberto Costa, o nome do presidente da Transpetro apareceu. Costa disse que entregou R$ 500 mil nas mãos de Machado em função de um contrato relativo à subsidiária da Petrobrás. Machado negou veementemente a acusação, mas foi o suficiente para criar uma crise interna na Petrobrás, que se estende até hoje.
Depois que a auditoria PWC se recusou a respaldar o balanço do terceiro trimestre de 2014 da estatal, por conta da assinatura de Machado constar nos documentos, o executivo se retirou do cargo. Não foi demitido, não foi exonerado, nada disso. Pediu licença por um mês. O balanço não ficou pronto à tempo, e ele renovou a licença por mais um mês. Chegou a data e nada do balanço. Mais umas semanas de licença. Pela terceira vez expira o prazo, enquanto ele está há meses oficialmente fora da empresa, e a empresa já anunciou que ele ficará mais um bom tempo longe. O conselho da Transpetro aprovou, no fim da noite de quinta (22), a extensão da licença para até 20 de março.
E a Petrobrás? Não se manifesta sobre o assunto. Ele fica meses fora, renovando as licenças, em meio a uma seríssima acusação, e a estatal não se mexe. A impressão que passa é que a mesma pressão política continua tendo um poder significativo sobre o comando da empresa. Mesmo com tudo isso, Graça Foster não consegue tirá-lo da presidência da Transpetro. A quem caberia tomar essa decisão além dela? Ao novo “xerife”, João Elek Júnior, que assumiu a recém-criada diretoria de governança da Petrobrás? A estatal não responde. Uma situação desta numa empresa privada é risível. Quase impossível. Mais de 80 dias para saber se o presidente merece confiança ou não? Agora mais dois meses para a ponderação continuar? Por outro lado, um presidente que fica afastado da companhia por tanto tempo e nada acontece à ela é sinal de que falta mesmo ele não está fazendo.
Enquanto isso, os funcionários da empresa, ainda atordoados com esta situação, continuam fazendo suas tarefas, encarando a rotina, sem saberem o rumo que será dado à companhia que os emprega. O conselho de administração da Petrobrás antecipou a reunião para análise do balanço do dia 27 para amanhã (23). Será que esse tema será tratado? Será que a renovação contínua de licenças dele não é um assunto de interesse do conselho? São perguntas importantes, que mais uma vez a Petrobrás não responde. Machado ocupou o cargo desde o primeiro mandato do governo Lula, em 2003, com apoio do Senador Renan Calheiros, que ainda era careca na época. Os cabelos foram implantados, cresceram e essa situação não se define. Enquanto isso, a Transpetro é presidida interinamente pelo diretor Cláudio Ribeiro Teixeira Campos, funcionário de carreira da Petrobrás, que continuará no comando até 20 de março, pelo menos.

publicada em 22 de janeiro de 2015 às 18:12 





