INDÚSTRIA ESPERA INDEPENDÊNCIA POLÍTICA E BOA RELAÇÃO COM O MERCADO FINANCEIRO DA NOVA GESTÃO DA PETROBRÁS
Por Daniel Fraiha (daniel@petronoticias.com.br) –
A saída de Graça Foster e de seus cinco principais diretores da Petrobrás não foi uma surpresa para o mercado, mas os passos finais acabaram acontecendo de forma diferente do que se imaginava. Depois da tentativa frustrada da presidente Dilma Rousseff de manter a diretoria até a publicação do balanço auditado, a estatal ficou numa encruzilhada. Não tem mais ninguém à frente de sua gestão, depois de um longo tempo de desgaste e uma mudança há muito esperada pela indústria de engenharia e pelo mercado de ações, mas precisa encontrar alguém que reúna diversas qualidades raras, com a ainda mais difícil tarefa de convencer essa pessoa a assumir a Petrobrás em meio a maior crise de sua história. Desde o início da semana o Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, vem sondando nomes de executivos pelo país, sendo os mais cotados Paulo Leme, Luciano Coutinho, Rodolfo Landim, Antonio Maciel e Henrique Meirelles, mas só nesta sexta-feira (6) será definido o sucessor, após a reunião do Conselho de Administração.
O Petronotícias procurou empresários e executivos do setor de óleo e gás para ouvir opiniões sobre o perfil que a indústria espera da nova gestão da Petrobrás. Há detalhes que variam de um depoimento para outro, mas algumas características ficam claras como unanimidade: independência de influências políticas e que tenha boa interlocução com o mercado. Veja as opiniões de Miguel Calmon, Gerente Geral da Varo Engineers no Brasil, Renato Abreu, Presidente do Conselho do Grupo MPE, Marcio Balthazar, Presidente da Nat Gas, Hideo Hama, Presidente da Fluxo Solutions, Julio Sampaio, Presidente do Grupo IFM, José Almeida, diretor da Frigstad Offshore no Brasil, e Osmari de Castilho Ribas, diretor-superintendente da Portonave.
Miguel Calmon – Gerente Geral da Varo Engineers no Brasil
“Acho que foi uma ótima resposta da Petrobrás para o mercado. Porque chegou-se a uma situação em que eles estavam mais importantes do que a própria empresa. A saída deles despersonaliza essa situação. A gente para de falar na presidente e começa a falar na Petrobrás, na empresa que interessa a todo mundo. A própria reação do mercado de ações mostra que havia uma ansiedade pela mudança.
Acredito que vá ser uma pessoa com perfil menos engajado politicamente, e com um viés de gestão de empresa privada, mais moderno. Porque com o potencial de reservas e recursos que a Petrobrás tem, ela precisa de um acerto de rumo com um grupo de pessoas com uma visão mais de gestão, uma perspectiva mais para frente, em vez de ficar andando nesse modelo em que várias empresas estatais mergulharam nos últimos anos. O mercado vai estar bastante receptivo a essas mudanças, inclusive cobrando mais eficiência das empresas fornecedoras. A Petrobrás vai fazer a parte dela e o mercado vai responder da mesma forma, tendo mais eficiência e competitividade, com custos mais assertivos.
O modelo anterior permitia empresas muito inchadas e agora vai exigir um modelo de empresas mais enxutas, com custos operacionais menores.
Os primeiros passos vão ser passar um discurso para o mercado tranquilizando e mostrando que a vida continua. As pessoas envolvidas nesse mercado precisam se unir. É a hora de parar de reclamar e criticar, buscando uma postura positiva de todos para fazer um novo mercado”.
Renato Abreu –Presidente do Conselho do Grupo MPE
“O mais correto a meu ver seria uma pessoa que conheça bem o mercado financeiro, com credibilidade e bom relacionamento com os investidores. Quem ocupar o cargo precisará usar sua influência para resgatar a credibilidade da empresa em todos os setores, buscando reconstruir a imagem e fortalecer novamente esta que é a maior e mais importante empresa do Brasil.
É preciso que apoie também uma mudança no Marco Regulatório, para tirar de cima da Petrobrás o peso da participação obrigatória em todos os campos do pré-sal. É claro que a companhia vai continuar sendo o motor fundamental do desenvolvimento das novas descobertas e de tudo que elas trazem a reboque, mas ela não pode mais ser obrigada a investir em tudo o que for feito sem que os números sejam analisados detalhadamente. Ou então a consequência será um freio na abertura de novas frentes exploratórias do pré-sal. Seria uma perda para o País e para toda a indústria”.
Marcio Balthazar – Presidente da Nat Gas
“É importante que o nome a ser escolhido seja alguém de fora da Petrobrás, para oxigenar a empresa. Alguém com uma indiscutível reputação de administrador, com grande competência para ser o CEO de uma corporação como a Petrobrás, com o condão de desarmar, reunir e liderar a companhia para uma nova fase. Hoje a empresa está de joelhos, ninguém assina nada, ninguém faz nada, então o novo CEO tem que ser alguém com indiscutível liderança e competência, com autoridade e autonomia para propor um plano de recuperação da companhia.
Algumas diretorias têm que ser ocupadas por gente de dentro da Petrobrás mesmo. O problema é que uma boa parte dos mais experientes da companhia saiu recentemente em cima de um programa de demissão voluntária. Então tem muita gente de gabarito que saiu, mas ainda tem muita gente que permaneceu, e a diretoria vai ter que ser garimpada dentro da empresa. Além disso, e principalmente, é preciso alterar o Conselho de Administração também, porque foi quem assistiu tudo que está aí e votou isso tudo.
Acho importante que o governo deixe de encarar a Petrobrás como uma empresa de governo e entenda ela como uma empresa de economia mista, tendo o Estado como acionista. Então qualquer nome tem que ser proposto em assembleia de acionistas. Parece um detalhe, mas é uma forma importante de encarar a Petrobrás.
As primeiras medidas que devem ser tomadas são a reestruturação financeira da companhia, redirecionando ela para aquilo que é a essência de uma empresa de petróleo: a exploração e produção. Retirá-la daquilo que não é fundamental para o desempenho dela. Não estou defendendo um processo de privatização, mas ela não precisa ter participação em distribuidoras de gás, de GLP, pode reduzir participações no sistema de transporte, de gasodutos, admitir sócios etc, até como forma de trazer recursos para a empresa.
Enfim, é preciso que deixem a companhia atuar como uma empresa de interesse dos seus acionistas, voltada para a rentabilidade, a eficiência, e que não seja mais uma empresa de governo, um braço político de governo”.
Hideo Hama – Presidente da Fluxo Solutions
“Tem que ser uma pessoa completamente independente e alguém do mercado. Isto é, alguém que tenha vivência não só na parte empresarial, mas que tenha capacidade de gestão em empresas grandes.
Vou dizer o nome de uma pessoa com um perfil que cairia como uma luva, e a partir disso pode-se imaginar os requisitos que deveria ter esse profissional. Seria estilo Henri Philippe Reichstul – que presidiu a Petrobrás entre 1999 e 2001 – , que era um homem do mercado, embora desvinculado da área de petróleo e gás, e fez uma gestão muito boa, porque soube comandar uma empresa do tamanho da Petrobrás com a vivencia do mercado mais amplo mundial. Quem vier tem que ter essa característica, ser independente, desvinculado de partidos e que tenha sido muito bem sucedido em gestões de empresas grandes.
As primeiras medidas devem ser a constituição de uma diretoria profissional. Tem certas diretorias que eu acho muito importante que se chame gente da casa que conheça bem o meio. Por exemplo, a diretoria de exploração e produção, acho imprescindível que seja uma pessoa do ramo.
Precisamos de um presidente independente que tenha condição de montar uma diretoria profissional, longe das manobras dos partidos políticos”.
Julio Sampaio – Presidente do Grupo IFM
“Tem que ser uma pessoa de mercado, que tenha respeito do mercado financeiro – porque a empresa esteve com uma gestão que deu às costas a ele –, e que conheça o setor. O setor de óleo e gás também não é para banqueiro.
Tem que ser alguém respeitado pelo mercado financeiro, mas que seja do ramo. Tem muitos que preenchem esse perfil, uns 15 assim, pelo menos.
A empresa tem muita competência, com um ótimo quadro interno para fazer o trabalho dela, mas o problema é que está numa crise que não consegue mais dinheiro no mercado, então tem que sinalizar que vai moralizar, que é uma gestão moralizadora. O grande desafio da Petrobrás agora é alavancar capital de giro. Para isso, precisa mostrar que vai respeitar as regras do mercado. Hoje ela tem uma grave crise, sem dinheiro para capital de giro. É uma crise de credibilidade.
Se tiver uma gestão com independência política, não há duvida de que pode contratar quem quiser, sem barrar qualquer empresa. Isso é de uma hipocrisia medonha, porque isso só existiu porque a Petrobrás quis que fosse assim. Se tiver uma gestão moralizadora, a competência é o que vai contar mais, assim como a qualidade de serviços, os preços competitivos, o atendimento aos prazos etc.
Tem que continuar gerando emprego interno. Porque a Petrobrás, sendo empresa de mercado, tem capital estatal, porque ela precisa ter algumas prioridades também, como conteúdo nacional, que é uma política importante. Mas isso pode ser feito sem essa mistura de interesses políticos que temos visto”.
José Almeida – diretor da Frigstad Offshore no Brasil
“Esperamos que tenha menos interferência política e que a Petrobrás comece a se desfazer de alguns ativos na área de E&P, principalmente campos pequenos e marginais, que só dão trabalho e não agregam nada ao fluxo de caixa da empresa.
O presidente tem que ser do mercado, como os nomes que têm sido especulados, até para ajudar na captação que a empresa vai precisar. E ela vai precisar bastante disso, para tocar os investimentos. O resto da diretoria tem que ser gente que conheça o negócio, com um perfil mais técnico. Sem nenhuma interferência política de preferência.
Com isso, esperamos que seja retomada a credibilidade e volte a ser a Petrobrás que a gente gostava que fosse. Não tenho nada contra ninguém que está saindo, até porque o diretor financeiro é meu amigo, mas vemos com bons olhos essa mudança.
Esperamos que as empresas possam participar mais ativamente do mercado. No nosso caso, de sondas offshore, esperamos que acabem essas influências que temos escutado na empresa.
Só vejo dados positivos numa mudança como essa. De um modo geral, vemos isso como um movimento altamente positivo, até para oxigenar a empresa e tirar um pouco esse baixo astral que tomou conta dela. Vamos torcer”.
Osmari de Castilho Ribas – diretor-superintendente da Portonave
“Esperamos alguém com um perfil de conhecimento técnico e de negócios, com capacidade para rever esse planejamento e retomar o caminho da Petrobrás, que é uma grande empresa.
Ela deve focar na competitividade, porque o momento em si não é bom e todo o mercado direcionado a ela precisa disso. A Petrobrás tem tecnologia e é capaz de ser competitiva e gerar desenvolvimento. Acho também que ela deve focar mais em contratos com empresas brasileiras. Nós desenvolvemos nosso mercado interno, temos uma indústria com expertise para ele. A Petrobrás é absolutamente aberta, e pode haver uma composição estrangeira, mas a base deve ser de brasileiras”.
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