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ENSEADA BUSCA LIBERAÇÃO DE FINANCIAMENTO JÁ APROVADO E PLANEJA REDUZIR DEPENDÊNCIA DA PETROBRÁS

Por Luigi Mazza (luigi@petronoticias.com.br) –

SAM_2085O momento é de equilibrar contas, olhar para frente e buscar novas soluções para o cenário preocupante vivido atualmente pelo setor de óleo e gás no Brasil. Com a redução do volume de contratos e investimentos, os estaleiros vêm passando nos últimos meses por grandes cortes de custo que intensificam a crise e projetam incertezas sobre os próximos passos da indústria naval no país. A situação não tem sido diferente para a Enseada, que foi fortemente atingida pelas complicações da Sete Brasil e já totaliza mais de seis mil demissões em suas unidades de operação. Ainda aguardando a liberação de um financiamento do Fundo de Marinha Mercante, a empresa visa, no entanto, novos projetos que auxiliem a superar a recessão e deve passar a buscar novas alternativas de trabalho para os próximos anos. É o que conta o diretor de Relações Institucionais e Sustentabilidade da Enseada, Humberto Rangel, para quem o momento surge como uma oportunidade de reformulação e de mudanças importantes para o segmento. Encontrar novas alternativas de investimento é fundamental para que a indústria se adapte às novas expectativas de mercado, afirma Rangel, que vê hoje nas projeções da Petrobrás uma forte dose de realismo. O executivo acredita que o setor naval precisa se movimentar para criar soluções e saídas para a recessão, que, embora grave, deve ser superada, mas já reconhece que será necessária uma busca de novas parcerias: “Não tenho dúvidas de que vamos ter que buscar outros clientes além da Petrobrás”.

Como estão as obras no Estaleiro Enseada e a situação com a Sete Brasil?

A realidade é que, de novembro em diante, eles deixaram de pagar. Primeiro nós paramos a obra, mas tínhamos algumas atividades de montagem que continuamos levando, porque não estão ligadas diretamente à Sete Brasil. Ela paga equipamentos. Além disso, temos também um condicionamento de liberação do Fundo de Marinha Mercante, que já está aprovado e não acontece.

Existe alguma previsão quanto à liberação do fundo?

A gente espera isso a cada semana, é uma situação que vai e volta. O nosso diretor financeiro está envolvido com isso full time. A liberação deve acontecer, mas não temos como afirmar uma data.

Há negociação de outros contratos sendo realizada?

Tem muita coisa que ainda está em fase incipiente, mas não tenho dúvidas de que vamos ter que buscar outros clientes além da Petrobrás. A primeira coisa que deve ser feita hoje é dar um gás. Se você leva mais um tempo sem normalizar sua situação, você não vai chegar a lugar nenhum.

O cenário ruim está apresentando melhora?

Nós temos que acreditar que existe uma preocupação do governo em preservar a indústria. Estamos vendo que a situação é complexa, e vamos ter que encontrar uma solução. As negociações continuam. Nós já fomos diversas vezes ao Japão atrás de financiamentos, temos sido proativos e não estamos parados esperando que a solução caia do céu. Temos visto uma participação importante do pessoal da Kawasaki, tendo ocorrido encontros do governo japonês com o brasileiro em busca de colaborações específicas nesse campo. Mais recentemente, mesmo depois de estourar a crise, delegações japonesas vieram aqui e estiveram até com a Presidente da República.

Esses investidores vêm tendo uma boa receptividade?

Sim, e todas essas iniciativas têm participação do Banco do Brasil e da Caixa Econômica, com apoio da Petrobrás. Estamos procurando gerar alternativas para continuar vivendo, porque temos contas para pagar, inclusive do próprio financiamento do governo.

Que tipo de medida do governo é hoje aguardada pelo setor?

O que vemos ser necessário de forma mais imediata é o equacionamento da Sete, resolvendo os pagamentos atrasados, e também a liberação do Fundo de Marinha Mercante. Esses são os pontos emergenciais, e o governo conhece.

Existe perspectiva de a Kawasaki ampliar sua participação no Estaleiro Enseada?

Isso tem sido muito especulado pela imprensa em função da dificuldade do momento, mas não existe nenhuma negociação nesse sentido. Permanece a configuração original.

O senhor enxerga com otimismo a 13ª rodada?

É importante que aconteça, e por definição o mercado vive disso. O começo da cadeia funciona por aí. Então acho que vemos como um fator positivo, e esperamos que haja continuidade.

A Petrobrás está seguindo o caminho certo com o novo plano?

O cenário é preocupante, porque se saiu de uma projeção que deu base a todo esse planejamento da indústria. Nesse caso não falo do Enseada, mas da indústria naval de uma maneira geral. Muito investimento foi feito no Rio Grande do Sul, em Pernambuco, em Alagoas e no Brasil inteiro, a partir de uma perspectiva produtiva da Petrobrás na época, o que hoje está caindo pela metade. Durante a gestão Gabrielli, falava-se em seis milhões de barris, na gestão Graça falou-se em quatro milhões, e agora a estimativa é de 2.8 milhões de barris até 2020.  Então nós vemos que há uma dose de realismo muito grande nas atuais projeções da Petrobrás. Houve até uma surpresa com os números baixos, porque se esperava algo maior. Eu acho que agora estão querendo enfrentar a situação, em vez de gerar uma expectativa. Com a divulgação do balanço, a companhia registrou prejuízos que poderia adiar, mas preferiram mostrar isso agora.

Até que a situação se resolva com a Sete, as demissões devem aumentar?

Demissão nunca é um objetivo, é uma consequência. Qual é o pior caso possível? Não ter solução, e nesse caso não tem pra ninguém. Mas nós buscamos trabalhar com uma visão de que o setor vai retomar as atividades.

A situação está caminhando?

Está caminhando. Nós vivemos hoje um cenário que é pior do que o vivido em novembro do ano passado, sem dúvidas. Mas eu também acho que é necessário encarar os fatos, equacionar e seguir. 

Quais são as dificuldades vividas hoje no estaleiro Inhaúma?

Eu não posso falar sobre isso, porque temos um contrato com a Petrobrás que traz uma cláusula específica endereçada a essa questão de comunicação. Eles têm a exclusividade, então cabe a eles falar a respeito disso.

Que sugestões de mudança na regra de conteúdo local o senhor considera positivas?

Nós fizemos um estudo com várias sugestões de alteração. Por exemplo: no caso de ser feito um investimento de US$ 85 milhões na qualificação de funcionários, o que sugerimos é que esse valor seja creditado ao índice de conteúdo local. São investimentos que criam equipamentos, geram capacidade de produção no Brasil. Essas são sugestões a partir da nossa visão. Os demais elos da cadeia têm outras sugestões. O que achamos é que é preciso haver uma interlocução, uma discussão sobre esse assunto. Eu acho que se devia até aproveitar o atual momento, que é oportuno para isso. Não estaríamos perdendo tempo para quando a situação melhorar.

 

 

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