INGLATERRA APROVA PROJETO NUCLEAR DE HINKLEY POINT E MODELO DO NEGÓCIO PODE SERVIR DE EXEMPLO PARA O BRASIL
As reviravoltas do projeto nuclear de Hinkley Point C, na Inglaterra, chegaram ao fim nesta semana, com a aprovação definitiva do governo britânico para que o complexo seja levado adiante, e o exemplo do empreendimento pode ser aproveitado pelo Brasil, que buscas novas formas de desenvolver a matriz energética e incentivar uma maior participação do setor privado na área de infraestrutura. O aval dado pela primeira ministra Theresa May (foto), após questionamentos sobre a presença chinesa na sociedade do projeto, é visto como fator positivo pelo mercado e deverá movimentar a indústria britânica.
Por lá, o projeto está orçado em cerca de US$ 24 bilhões e figura como uma das maiores apostas do governo para atender ao crescimento da demanda energética sem gerar novas emissões de gases de efeito estufa. Para isso, conta com fortes investimentos privados, capitaneados pela francesa EDF e pela chinesa China General Nuclear, que serão as responsáveis pelo complexo de 3.200 MW (mais do que o dobro da potência de Angra 3 – 1.405 MW –, cujo orçamento atualmente gira em torno de R$ 17 bilhões).
Por aqui, o programa nuclear nacional anda em compasso de espera, com as obras da terceira usina de Angra dos Reis ainda paralisadas e sem previsão de retomada. A Eletronuclear atualmente prepara um estudo para apresentar ao ministério de Minas e Energia para o reinício das atividades e internamente no governo a abertura para a participação privada é uma das alternativas aventadas, como há muito é defendido pela indústria.
O próprio presidente Michel Temer, referindo-se à economia de maneira geral, tem ressaltado esse caráter do que pretende impor em sua gestão.
“Vamos cada vez mais ressaltar que o poder público não pode fazer tudo. Tem de ter a presença da iniciativa privada como agente indutor do desenvolvimento e produtor de empregos no país”, chegou a afirmar nesta semana, durante o lançamento do programa de concessões de seu governo, que pretende repassar à iniciativa privada mais de 30 projetos no segmento de infraestrutura, energia, aeroportos, ferrovias e portos, entre outros.
Apesar da posição pró-parcerias público-privadas, o governo ainda não adotou uma posição definitiva em relação ao setor nuclear, cujo planejamento de Estado previa – segundo os últimos anúncios ministeriais, ainda durante o governo Dilma Rousseff – a construção de 12 novas usinas nucleares no Brasil, sendo quatro até 2030 e mais oito até 2050. No entanto, o grande volume de recursos necessário para o avanço dos empreendimentos sempre foi uma questão sem detalhamento e a participação privada como investidora vem sendo apontada cada vez mais como uma possível solução para a execução do programa.
O presidente da Abdan, Antonio Müller, que está em Londres para um evento do segmento nuclear, avaliou a aprovação do governo britânico ao projeto de Hinkley Point C como uma decisão positiva para o país europeu e para a indústria global, mas ressaltou que o empreendimento só foi possível por conta das características do mercado energético britânico, que é aberto.
“Isso é possível porque aqui o mercado de energia é livre. No Brasil não é possível, porque é regulado, mas é uma alternativa que vale a pena ser avaliada. A abertura do mercado é positiva, então seria interessante para o Brasil seguir por esse caminho”, afirmou.
O tema da abertura do mercado de energia no Brasil vem sendo foco de muitos representantes do setor nos últimos anos e recentemente o assunto tem ganhado mais atenções, com diversos elos da cadeia energética se manifestando a favor.
No início de setembro, o Ministério de Minas e Energia anunciou que pretende levar adiante essa discussão, com a abertura de consulta pública sobre o assunto, após o tema ter sido debatido e aprovado pelo Conselho Nacional de Política Energética.
Além de ampliar as alternativas da indústria nacional, a abertura pode gerar grandes economias para os consumidores, que teriam a possibilidade de escolher de quem comprar. Uma avaliação da empresa Tradener, que comercializa energia no País, por exemplo, estima que a aprovação do mercado livre em todo o Brasil poderia gerar uma economia de até R$ 20 bilhões anuais.
Deixe seu comentário