QUASE 90% DAS EMPRESAS NORUEGUESAS QUE PROCURAM O BRASIL SÃO DO SETOR DE ÓLEO E GÁS
O comércio entre Brasil e Noruega vem acontecendo desde o século XVIII. Com o bacalhau como o principal produto nos seus primórdios, hoje são as empresas de óleo e gás que respondem pela maior parte das relações econômicas entre os dois países. Desde os anos 70 há um conselho, formado por autoridades norueguesas, que atua no Brasil ajudando empresas norueguesas a entrarem no mercado nacional. Hoje conhecida como Innovation Norway, a agência desempenha um importante trabalho na integração comercial entre os dois países, e conta que cerca de 90% das empresas que procuram o Brasil são do setor petrolífero. Para conhecer melhor o trabalho da Innovation Norway, o repórter André Dutra conversou com a ex-diretora da instituição Reidun Olsen (à direita), e com a atual diretora da Innovation Norway, Helle Moen (à esquerda).
Que tipo de assistência a Innovation Norway presta às empresas norueguesas que querem vir para o Brasil?
“O que você precisa?” Essa é a pergunta que fazemos. Nós nos reunimos com representantes de cada empresa para tentar achar soluções e sanar quaisquer dúvidas sobre o mercado brasileiro. Fazemos desde networking, já que conhecemos bastante bem o mercado brasileiro por estarmos há tanto tempo no Brasil, até alguns financiamentos corporativos para empresas de pequeno porte. Desde 2007, nós também oferecemos dois escritórios para pequenas empresas começarem a operar no Brasil em um ambiente mais seguro, para adquirir experiência no mercado brasileiro.
Qual é o principal obstáculo para as empresas norueguesas atuarem no Brasil?
Além dos obstáculos de custo, como impostos e os próprios custos operacionais, que afetam principalmente empresas menores, também existe uma questão de diferença cultural no meio industrial. Na Noruega, quase não existe burocracia para se abrir uma empresa, enquanto aqui a burocracia é tremenda, o que acaba atrasando todo o processo. Outro grande problema identificado foi a falta de poder de negociação dos representantes destas empresas norueguesas de pequeno porte, que muitas vezes não são executivos, e estão apenas preocupados com a parte tecnológica do negócio, e não com a parte contratual, não conseguindo fechar negócios.
Qual porcentagem que as empresas de óleo e gás representam no trabalho da Innovation Norway?
É a área que mais tem empresas, compreendendo aproximadamente 90% das empresas que nos procuram para auxílio. Nos últimos anos o Brasil tem sido um dos mercados mais quentes no mundo quando se trata de petróleo. Com a descoberta do pré-sal e os megacampos na bacia de Campos, especialmente, foram atraídas muitas empresas de todo o mundo para o Brasil, inclusive da Noruega.
Dentro do setor de óleo e gás, existe alguma área que se destaca?
As áreas de perfuração e subsea são os grandes destaques, até porque são áreas que necessitam muito de tecnologia de ponta, no que a Noruega possui grande expertise. Outras áreas que estão em crescimento são de manutenção e segurança, que, por serem áreas auxiliares e terem maior demanda conforme a quantidade de plataformas operantes, tendem a aumentar cada vez mais no Brasil. Como destaque negativo fica a indústria de construção de navios norueguesa, que está enfrentando sérios problemas não só na construção das embarcações, mas também na falta de profissionais qualificados para a operação dos navios.
Existe setor industrial que vem mostrando crescimento no que diz respeito a interesse no Brasil?
O setor de energia renovável é uma grande promessa a longo prazo. Não é uma realidade ainda, mas, como se sabe do potencial para energias limpas no Brasil, a energia renovável é um setor que já tem muitos pretendentes. Existem, inclusive, muitas empresas que possuem tecnologias para a geração deste tipo de energia, mas estão operando no setor de petróleo e gás para obter maiores lucros agora, e depois usar o lucro numa operação de energia renovável.
A lei de conteúdo nacional representa uma barreira para alguma das empresas norueguesas de óleo e gás?
Esta lei é muito falada por todos os representantes de empresas com quem nos reunimos, mas até hoje não foi motivo de desistência por parte de nenhuma empresa, grande ou pequena. É uma lei compreensível, pois é claro que o país quer desenvolver sua indústria e este é um dos mecanismos. Porém, na experiência da Noruega, que teve uma lei de incentivo ao conteúdo local que dava preferência pela qualidade, a melhor maneira de desenvolver a indústria é facilitar a exportação.
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