INSTITUTO DE PESQUISA IATI AVANÇA NO DESENVOLVIMENTO DE PROJETOS INOVADORES DE HIDROGÊNIO LIMPO
O Instituto Avançado de Tecnologia e Inovação (IATI), com sede em Recife (PE), está impulsionando uma série de estudos que podem ajudar a fomentar o grande potencial do Brasil na produção de hidrogênio limpo. O diretor de negócios do IATI, Paulo Gama, nosso entrevistado desta quarta-feira (5), contou que a instituição de pesquisa assinou recentemente um novo acordo com a Energética Suape II e o grupo Breitener para o desenvolvimento de um dispositivo inovador acoplado a motores de grande porte que funcionam com óleo combustível. A tecnologia pode ajudar a reduzir o consumo de combustível fóssil, além de diminuir a emissão de gases do efeito estufa. Paralelamente, o IATI também está realizando pesquisas para o uso de hidrogênio no resfriamento do sistema de geradores de uma termelétrica. O instituto ainda está atuando em um projeto, em parceria com a EDF e a Gás Natural Açu (GNA), com o objetivo de gerar hidrogênio a partir do aproveitamento energético de gases de exaustão de uma termelétrica. Por fim, o IATI está trabalhando também com a EDP para promover o apoio à produção de hidrogênio verde no Complexo Industrial e Portuário de Pecém, no Ceará. “Temos um laboratório muito bem equipado, que atualmente trabalha em alguns projetos. Hoje, o IATI é uma referência no Brasil nas pesquisas de hidrogênio”, afirmou Gama.
Para começar, poderia detalhar aos nossos leitores como é a atuação do instituto no segmento de energia?
O desenvolvimento de projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação tecnológica faz parte do DNA do IATI. O instituto tem a característica de desenvolver projetos que podem começar com níveis mais baixos de maturidade tecnológica, alcançando posteriormente níveis de maturidade mais altos. O IATI nasceu como uma instituição focada em projetos para o setor elétrico, principalmente aqueles vinculados à lei 9.991/2000 (P&D Aneel). No entanto, no decorrer da estruturação do instituto, também obtivemos o credenciamento na Agência Nacional do Petróleo (ANP), passando a desenvolver projetos para o setor de petróleo e gás.
O IATI tem um processo de gestão bastante maduro, contando com a experiência de mais de 20 anos de seus profissionais. Pelo fato de ser um instituto privado e sem fins lucrativos, o IATI tem autonomia e velocidade nas tratativas contratuais e na obtenção de participação em editais públicos. Isso é um diferencial. Contamos com cerca de 150 pesquisadores associados. O IATI soma 42 projetos (concluídos e em desenvolvimento), algumas patentes, mais de R$ 100 milhões de receita de contratos realizados e mais de R$ 25 milhões de bolsas de pesquisa.
Mais recentemente, o IATI foi escolhido como a organização âncora para engajamento do setor privado em Pernambuco com a Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Assim, desde novembro de 2022, o IATI passou a abrigar o Hub ODS Pernambuco, que através de redes locais, potencializa a geração de impactos positivos e o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
O instituto é composto por alguns laboratórios, que trabalham com projetos envolvendo meio ambiente, biotecnologia, uso de ultrassom para purificação de água, entre outros temas. Além disso, temos um laboratório de hidrogênio muito bem equipado, que atualmente trabalha em alguns projetos. Hoje, o IATI é uma referência no Brasil nas pesquisas de hidrogênio.
Seria muito interessante ouvir um detalhamento maior sobre cada um desses estudos e desenvolvimentos sobre hidrogênio limpo. Poderia então começar pelo projeto que foi assinado mais recentemente?
Primeiro, é importante explicar um pouco sobre uma pesquisa anterior que deu origem a esse novo projeto. Anteriormente, a usina termelétrica Energética Suape II pediu ao IATI que desenvolvesse uma solução para injeção de hidrogênio em motogeradores de grande porte a diesel. O IATI fez um estudo laboratorial, injetando um pouco de hidrogênio junto com o combustível principal, obtendo uma economia entre 10% e 15% no consumo de diesel. Consequentemente, houve também uma redução na emissão de gases de efeito estufa.
Interessante notar que a economia resultante da injeção de hidrogênio garantiu uma energia adicional. Parte dessa energia extra foi usada para produzir hidrogênio através de um eletrolisador de pequeno porte. Então, nesse caso, não precisamos de uma fonte de energia externa para a produção de hidrogênio. Foi um projeto bastante interessante.
Agora, estamos assinando um novo projeto com a Energética Suape II e o grupo Breitener com o objetivo de realizar alguns outros estudos – inclusive com a combinação entre óleo combustível e hidrogênio. Também vamos incluir uma nova linha de pesquisa para avaliar a aplicação do hidrogênio em um motor movido a gás natural.
O IATI desenvolve ainda outro projeto que estuda a viabilidade do uso de hidrogênio verde na geração termelétrica e na mobilidade industrial. Poderia comentar mais a respeito?
Esse projeto é financiado pela Neoenergia e tem o objetivo de viabilizar a produção de hidrogênio por meio de eletrolisador do tipo PEM de 50 quilowatts. Esse hidrogênio será usado em duas situações: no resfriamento do sistema de geradores de uma termelétrica e como combustível de empilhadeiras na mobilidade interna dentro da própria usina.
O escopo do estudo também prevê a avaliação de créditos de carbono. Ao substituir o gás ou o GLP que as empilhadeiras tradicionais utilizam por um combustível verde, obviamente você teria direito a trabalhar com questões relacionadas a obtenção de créditos de carbono.
E em relação ao projeto para produção de hidrogênio que está sendo financiado pelas empresas EDF e GNA? Em que fase está esse empreendimento?
Os gases de exaustão de uma usina termelétrica possuem altas temperaturas. Por isso, estamos desenvolvendo uma solução tecnológica inovadora para transformar o calor desses gases em energia elétrica. Por sua vez, essa eletricidade será usada em um eletrolisador para produção de hidrogênio. Será avaliada também a possibilidade de injetar na rede elétrica a energia gerada a partir do calor da usina.
No momento, estamos montando o protótipo de laboratório. Vamos começar as fases de medição para quantificar a eficiência e as características de funcionamento desse protótipo. Dentro de um ano ou um ano e meio deveremos ter esse projeto já desenvolvido.
Por fim, poderia falar sobre o projeto que tem como objetivo promover o apoio à produção de hidrogênio verde no Complexo Portuário de Pecém, no Ceará?
O projeto de Pecém está sendo feito com as empresas do grupo português EDP. Eu dividiria esse projeto em várias frentes tecnológicas. Uma delas envolve o desenvolvimento de um misturador de hidrogênio com diesel para ser usado na caldeira para queima de carvão. Atualmente, para acionar a queima do carvão, eles utilizam o diesel como queimador. O IATI está desenvolvendo um produto para fazer a mistura do hidrogênio com o diesel, trazendo os benefícios de redução de consumo de combustível e diminuição de emissões. Esse produto já está montado no instituto e estamos também iniciando os testes para fazer uma futura aplicação em campo.
Outra entrega tecnológica é a realização de estudos relacionados ao efeito da intermitência solar na produção do hidrogênio. Estamos avaliando como a variação da intensidade solar ao longo do dia pode interferir em um eletrolisador. Outro benefício tecnológico desse projeto é a concepção de um tanque leve, mais resistente que os tradicionais, que possa armazenar hidrogênio. Estamos avaliando essas e outras entregas tecnológicas justamente para poder fazer alguns estudos e dar aplicabilidade ao hidrogênio gerado na usina da EDP no Porto de Pecém.
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