INVESTIMENTOS EM RENOVÁVEIS BATEM RECORDE, MAS AINDA ESTÃO LONGE DE METAS DEFINIDAS PELA ONU PARA 2030
O ano de 2022 terminou com um investimento recorde em tecnologias de transição energética. Ao todo, o setor de energias renováveis recebeu US$ 1,3 trilhão em recursos, maior valor registrado até então e 19% acima dos níveis de investimento de 2021. O dado foi apresentado recentemente pelo relatório conjunto da Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA, na sigla em inglês) e da Iniciativa de Política Climática (CPI). Contudo, apesar do número histórico, o volume de investimentos representa menos de 40% do valor médio necessário a cada ano entre 2021 e 2030, de acordo com o Cenário 1,5°C da IRENA. O montante também não está no caminho certo para atingir as metas estabelecidas pela Agenda 2030 da ONU para o Desenvolvimento Sustentável. O relatório completo, em inglês, está disponível neste link.
“Para que a transição energética melhore vidas e meios de subsistência, governos e parceiros de desenvolvimento precisam garantir um fluxo de financiamento mais equitativo, reconhecendo os diferentes contextos e necessidades”, disse o diretor-geral da IRENA, Francesco La Camera. “Este relatório conjunto destaca a necessidade de direcionar fundos públicos para regiões e países com muito potencial renovável inexplorado, mas com dificuldade para atrair investimentos. A cooperação internacional deve ter como objetivo direcionar esses fundos para capacitar estruturas políticas, o desenvolvimento de infraestrutura de transição energética e abordar lacunas socioeconômicas persistentes”, acrescentou.
O relatório explica que os investimentos estão concentrando-se em tecnologias e usos específicos. Em 2020, apenas a energia solar fotovoltaica atraiu 43% do investimento total em renováveis, seguida pela energia eólica onshore e offshore com 35% e 12% de participação, respectivamente. Com base em números preliminares, essa concentração parece ter continuado até o ano de 2022. Para melhor apoiar a transição energética, mais fundos precisam fluir para tecnologias menos maduras, bem como para outros setores além da eletricidade, como aquecimento, resfriamento e integração de sistemas.
O documento ressalta ainda que uma transição energética dentro do o Cenário 1,5°C definido pela IRENA requer o redirecionamento de US$ 700 bilhões por ano de combustíveis fósseis para tecnologias relacionadas à transição energética. Contudo, após um breve declínio em 2020 devido à pandemia de covid-19, os recursos aplicados em combustíveis fósseis estão crescendo.
A IRENA lembra ainda que a indústria de combustíveis fósseis continua se beneficiando de subsídios, que dobraram em 2021 em 51 países. A agência pondera que a eliminação gradual dos investimentos em ativos de combustíveis fósseis deve ser associada à eliminação de subsídios para nivelar o campo de atuação com as energias renováveis. No entanto, a eliminação gradual dos subsídios precisa ser acompanhada por uma rede de segurança adequada para garantir padrões de vida adequados para as populações vulneráveis.
“O caminho para o net zero só pode acontecer com uma transição energética justa e equitativa. Embora nossos números mostrem que houve níveis recordes de investimento em energias renováveis no ano passado, uma maior escala é extremamente necessária para evitar mudanças climáticas perigosas, principalmente nos países em desenvolvimento”, opinou a diretora administrativa global da Iniciativa de Política Climática, Barbara Buchner.
Por fim, o relatório destaca que as soluções descentralizadas serão vitais para preencher a lacuna de acesso para alcançar o acesso universal à energia para melhorar os meios de subsistência e o bem-estar sob a Agenda 2030, devem ser feitos esforços para aumentar os investimentos em sistemas off-grid (também chamados de sistemas autônomos). Apesar de atingir investimentos anuais recordes superiores a US$ 0,5 bilhão em 2021, o investimento em soluções renováveis off-grid fica muito aquém dos US$ 2,3 bilhões necessários anualmente no setor entre 2021 e 2030.
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