IRB(RE) VÊ O PETRÓLEO COM PAPEL CRUCIAL NA TRANSIÇÃO ENERGÉTICA ENQUANTO O MUNDO AGUARDA POR NOVAS FONTES LIMPAS
O petróleo ainda terá um papel fundamental na indústria energética mundial, apesar do crescente movimento de transição energética. Essa é a avaliação de Théo Salim Najm, gerente de óleo e gás do ressegurador brasileiro IRB(Re). O especialista afirma que o petróleo, portanto, é parte fundamental da transição e que as empresas do setor são as que mais têm capacidade financeira para subsidiar esse processo. Ele realçou ainda que alternativas renováveis, como hidrelétricas, eólicas e solares, também enfrentam desafios técnicos, ambientais e econômicos. Para Najm, o mundo ainda aguarda por uma solução tecnológica disruptiva verdadeiramente limpa. “Como toda disruptura tecnológica é avassaladora tal qual foi com a internet, o wi-fi, o celular e o smartphone, acredito e entendo que a energética limpa ainda está por vir. No entanto, quando vier será tão assertiva, eficaz e natural que rapidamente substituirá o modelo atual”, destacou. O entrevistado ressaltou que o Brasil possui vantagens no processo de transição energética por causa de sua matriz energética predominantemente hidrelétrica e pelo potencial de suas empresas de petróleo e gás em liderar a busca por soluções energéticas inovadoras. Ele também acredita que o petróleo do pré-sal, com menor emissão de carbono, terá maior longevidade no mercado.
Para começar, poderia compartilhar conosco a sua opinião sobre o principal papel do petróleo durante a transição energética?
No último século, grande parte da estrutura energética mundial foi e ainda tem sido baseada em combustíveis fósseis. Concomitantemente, nesse período, a indústria de petróleo se desenvolveu, progrediu e prosperou, bem como seus operadores se tornaram gigantes e importantes propulsores da economia. A transição energética se dará da posição que existe hoje, ou seja, do petróleo para energias limpas. O petróleo, portanto, é parte fundamental deste processo e as empresas do setor são as que mais têm capacidade financeira para subsidiar essa transição. Apesar desse cenário, entendo que a solução tecnológica disruptiva para termos uma opção que seja comum para todos ainda não existe. Explico:
– Hidroelétricas: dependem de grandes obras, com grandes impactos ambientais pelo tamanho e execução, e apenas onde é possível sua construção na natureza, o que limita bastante.
– Eólicas: dependem de condições climáticas favoráveis de vento no local para ser confiável e estável, depende de acesso para grandes estruturas, impacta a natureza, e a engenharia para sua fabricação e instalação consome anos de sua vida útil em emissão de carbono.
– Solar: só funciona de dia. À noite, depende de grandes acumuladores e com impactos ambientais severíssimos.
Em síntese, como todas as alternativas possuem grandes desafios, são caras e não solucionam totalmente o problema, a transição energética ainda não possui uma solução simples e eficaz. Como toda disruptura tecnológica é avassaladora tal qual foi com a internet, o wi-fi, o celular e o smartphone, acredito e entendo que a energética limpa ainda está por vir. No entanto, quando vier será tão assertiva, eficaz e natural que rapidamente substituirá o modelo atual.
A transição energética pode gerar impacto significativo nas populações que dependem da indústria petrolífera. Quais seriam os principais impactos de uma transição energética abrupta?
Não há problemas com transição energética abrupta, desde que a opção substituta exista e seja acessível a todos. A questão ainda é a sua inexistência, portanto não estamos falando de transição abrupta, mas, sim, da eliminação abrupta de um modelo que, apesar de todos os seus desafios, está funcionando para o nada em relação à maioria da população mundial, principalmente os mais vulneráveis, impondo fome, sede e frio a milhões de pessoas que, hoje, não têm acesso a energias alternativas.
E quais políticas públicas podem ser implementadas para mitigar esses efeitos?
Decisões governamentais não trazem tecnologia. Decisões governamentais ajudam empresas e universidades a investirem em pesquisa e desenvolvimento que trarão novas tecnologias e que, quando disponibilizadas ao público, gerarão demanda para substituição da existente.
Ao seu ver, como será o papel do Brasil em meio a essa transição energética?
O Brasil já sai de uma posição muito a frente dos demais países por sua distribuição energética muito baseada na energia hidroelétrica. Temos empresas nacionais voltadas ao setor de petróleo e gás com grande potencial que podem ajudar na busca por nova tecnologia que garantirá o seu futuro não como petroleiras, mas como fornecedoras de energia.
O fato de o petróleo do pré-sal brasileiro ser mais descarbonizado em relação à média mundial, dará mais longevidade à indústria petrolífera do país?
Enquanto o processo de transição energética for gradual, ou seja, para as alternativas existentes no momento, o petróleo ainda será muito demandado. Contudo, os melhores prevalecerão por mais tempo e, hoje, melhor é o que polui menos. Com isso, acredito que o petróleo advindo de poços mais eficientes como o pré-sal serão os últimos a serem substituídos.
Os efeitos do petróleo no meio ambiente são amplamente criticados por ambientalistas. Contudo, outras fontes consideradas renováveis também geram passivos ambientais sérios. Estamos, portanto, diante de um dilema que opõe preservação ambiental e desenvolvimento? Como conciliar esses dois aspectos e garantir uma transição energética equilibrada?
O dilema existe simplesmente porque não há ainda alternativa tecnológica disruptiva. Ou seja, em muitos casos, a transição energética é puramente uma “cortina de fumaça” em termos reais de emissão de carbono e/ou impactos ambientais. Exemplifico: de que adianta ter carro elétrico na Europa se para carregá-lo se queima combustível fóssil na cidade vizinha?
A melhor opção no momento é estimular e promover uma discussão ampla e realista. É estar no processo de transição energética dispondo de opções existentes no momento que realmente diminuem os impactos no meio ambiente e, por fim, o mais importante: investir massivamente em pesquisa e desenvolvimento para uma alternativa realmente disruptiva. Por exemplo: se houvesse uma tecnologia capaz de conter os impactos de um acidente nuclear, com alta limitação de danos em acidentes e possibilidade de rápida descontaminação, essa seria uma boa alternativa? Vale lembrarmos que todo grande avanço tecnológico que tivemos ao longo da história foi considerado impossível – ou ao menos duvidado – antes dele acontecer e se popularizar.
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