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LACTEC TRABALHA NO DESENVOLVIMENTO DE NOVAS SOLUÇÕES PARA SISTEMAS DE ARMAZENAMENTO DE ENERGIA

Foto_Patricio RodolfoCom mais de seis décadas de história, o Lactec aposta em baterias avançadas, inteligência artificial e nanotecnologia como caminhos para colocar o Brasil entre os protagonistas da transição energética. Em entrevista ao Petronotícias, o pesquisador da instituição, Patricio Rodolfo Impinnisi, detalha um pouco o trabalho que está sendo realizado com baterias chumbo-carbono. “Trata-se de uma tecnologia híbrida, que combina características de baterias e supercapacitores. O que estamos criando é um sistema capaz de suportar altas correntes, como um capacitor, mas também manter a entrega contínua de energia, como uma bateria. É um avanço importante”, disse Impinnisi. Além disso, o pesquisador também vê com bons olhos a realização do primeiro leilão de sistemas de armazenamento do Brasil, previsto para o segundo semestre deste ano. “Esse leilão sinaliza que o Brasil está começando a se mover nessa direção. E junto com os leilões vêm os recursos, os testes, os projetos-piloto dentro das distribuidoras. É o início de um novo ciclo — e, se aproveitado com inteligência, pode colocar o Brasil numa posição de liderança global em energia limpa”, concluiu.

Para começar, poderia só contextualizar um pouco sobre como se dá a atuação do Lactec no setor elétrico? 

5f2f4e96-c40c-4299-b43a-8f3af3744002-ABRE_DSC_7329_SEDEO Lactec foi criado em 1959, em um momento em que as questões de hidrologia e hidráulica eram prioritárias, já que o Brasil estava iniciando grandes projetos hidrelétricos. O LAC surgiu como um departamento da Copel, a Companhia Paranaense de Energia, com a missão de oferecer apoio tecnológico.

Com o tempo, o escopo de atuação foi se ampliando dentro da própria Copel, passando a incluir o desenvolvimento de isoladores, metais, materiais condutores — enfim, tudo que era relevante para a companhia elétrica. Esse crescimento foi contínuo até que, em 1999, o laboratório se desvinculou da Copel e se tornou uma instituição privada, sem fins lucrativos.

Desde então, o Lactec passou a prestar serviços também para o setor privado e ampliou ainda mais sua área de atuação. Hoje temos frentes fortes em meio ambiente, mobilidade, motores a combustão, eletrônica, inteligência artificial, entre outras.

As baterias têm ganhado protagonismo como uma tecnologia estratégica no cenário energético brasileiro. Como o Lactec tem trabalhado com essa questão?

Bateria era um tema pouco valorizado há três décadas. Mas aí vieram os celulares — e, com eles, uma revolução. E revolução não acontece por amor à arte. Acontece por amor ao dinheiro. À medida que os celulares se popularizaram, qualquer avanço em baterias passou a valer uma fortuna. E então os investimentos explodiram nos anos 1990. O que antes era um item ignorado virou um gargalo tecnológico.

E não foram só os celulares. Também no fim dos anos 1990, o mundo começou a perceber que, sem energias renováveis, não havia futuro. Mas para aproveitar bem as renováveis, era fundamental contar com sistemas de armazenamento de energia.

O Lactec identificou, ainda naquela época, que essa era uma área promissora. Uma das primeiras iniciativas foi a criação, em 1999, de um congresso anual voltado à indústria de baterias: o Encontro Nacional de Baterias (ENBAT), em parceria com a Universidade Federal de São Carlos. Desde então, já foram realizadas 25 edições — e, em dezembro, teremos a 26ª.

Para além do evento, quais são as outras iniciativas?

IMG-20240401-WA0036Além do ENBAT, temos diversas parcerias com empresas que desenvolvem tecnologia aqui no Brasil. Um bom exemplo é o trabalho com baterias chumbo-ácidas, que ainda têm espaço para evolução. Hoje, por exemplo, existe a tecnologia chumbo-carbono, que já consegue competir com o íon de lítio em aplicações estacionárias — aquelas em que a bateria permanece fixa, sem necessidade de mobilidade, já que o chumbo é um material pesado.

Mas a tecnologia chumbo-carbono não é trivial. Envolve desenvolvimento, testes e a escolha entre milhares de tipos de carbono. É um trabalho que exige domínio de nanotecnologia, de manipulação de nanopartículas. E o Lactec está envolvido nisso, junto com a indústria nacional.

Poderia nos atualizar sobre os principais desenvolvimentos tecnológicos em curso dentro do Instituto. E, se possível, como isso se conecta com a inteligência artificial e outras inovações?

Como mencionei antes, nosso principal desenvolvimento hoje é a nova geração de baterias chumbo-carbono. Trata-se de uma tecnologia híbrida, que combina características de baterias e supercapacitores. O que estamos criando é um sistema capaz de suportar altas correntes, como um capacitor, mas também manter a entrega contínua de energia, como uma bateria. É um avanço importante.

Estamos falando de tecnologias de ponta — e isso significa trabalhar com nanomateriais. A nanotecnologia não é novidade: já tem pelo menos duas décadas de aplicação prática. Mas os desafios atuais são outros. Mesmo dentro das limitações de um país em desenvolvimento, sem os recursos de centros europeus ou asiáticos, o Lactec está investindo na modernização dos seus laboratórios para acompanhar essa evolução.

A tendência é clara: o futuro das baterias passa pela nanotecnologia, apoiada em simulações, softwares e modelagens avançadas. E é aí que entra a inteligência artificial. A IA nos ajuda a identificar quais caminhos têm mais chance de sucesso nesse universo quase infinito de possibilidades que os nanocompostos oferecem.

Além disso, temos um banco de dados enorme, fruto de anos de testes com baterias. É uma quantidade de informação que está além da capacidade de análise humana. Precisamos de máquinas, de algoritmos inteligentes que consigam encontrar padrões e correlações em meio a milhares de variáveis. Esse é o papel da inteligência artificial: transformar dados em conhecimento.

E qual será o papel da IA nesse contexto?

bateriasComo sempre, pesquisa e desenvolvimento exige investimento — e não estamos falando de uma iniciativa pontual. É preciso uma política de Estado, que vá além de governos, com apoio contínuo e visão de longo prazo. Temos dois desafios: o do presente e o do futuro. No presente, muitas vezes não há margem orçamentária para certos investimentos estratégicos. Mesmo assim, estamos avançando passo a passo, com responsabilidade, para garantir que o Brasil não fique para trás. E esse não é um desafio exclusivo do Lactec — todas as instituições de pesquisa no país enfrentam esse mesmo dilema. Enquanto buscamos recursos, seguimos trabalhando em parceria com grandes empresas brasileiras no desenvolvimento de novas tecnologias. Temos conhecimento técnico, capacidade de realizar testes e análises, e estamos inseridos nesse processo com o compromisso de contribuir ativamente para o avanço da inovação no país.

Por fim, como avalia o primeiro leilão de sistemas de armazenamento do Brasil, previsto para este ano?

Eu enxergo esse leilão como uma oportunidade única para o Brasil dar um salto qualitativo nos sistemas de armazenamento à base de baterias. É inconcebível que países como a Alemanha, com muito menos incidência solar que o Brasil, tenham uma geração fotovoltaica maior que a nossa. Estamos em uma posição privilegiada. O Brasil tem sol, tem vento, tem território, tem tudo. Não há discussão sobre o nosso potencial para aproveitar fontes renováveis. Honestamente, não conheço nenhum outro país com essa combinação tão favorável.

As empresas de energia elétrica vão, inevitavelmente, incorporar mais renováveis à matriz. Mas há um limite para isso sem armazenamento. As fontes renováveis são intermitentes. E, sem sistemas de armazenamento, corremos o risco de saturar as linhas de transmissão — como já aconteceu na Inglaterra. Lá, instalaram grandes parques eólicos e depois perceberam que, sem armazenar a energia gerada, estavam perdendo parte do investimento. O negócio, descobriram, era justamente o armazenamento. E aí passaram a investir pesadamente nisso.

É por isso que esse leilão é tão importante. Ele sinaliza que o Brasil está começando a se mover nessa direção. E junto com os leilões vêm os recursos, os testes, os projetos-piloto dentro das distribuidoras. É o início de um novo ciclo — e, se aproveitado com inteligência, pode colocar o Brasil numa posição de liderança global em energia limpa.

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