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LEONAM GUIMARÃES DISCUTE USINAS NUCLEARES FLUTUANTES PARA SISTEMAS ISOLADOS E UNIDADES INDUSTRIAIS NO BRASIL

Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) – 

leonamÀ medida que o mundo avança na transição energética, novas tecnologias e conceitos para geração de energia livre de carbono estão ganhando cada vez mais atenção. A fonte nuclear, por exemplo, voltou a ganhar protagonismo no mundo nos últimos anos, sendo apontada, inclusive, como parte fundamental do esforço mundial de descarbonização. Enquanto os países trabalham para a construção de novas centrais nucleares convencionais, há ainda o interesse no desenvolvimento de usinas nucleares flutuantes. Para o ex-presidente da Eletronuclear, Leonam Guimarães, o Brasil tem plenas condições de construir e operar reatores embarcados. “Um emprego interessante, no caso brasileiro, seria o uso de usinas flutuantes para alimentar sistemas isolados na Amazônia”, avaliou. “As centrais flutuantes também poderão ser usadas para a alimentação de unidades industriais específicas que são grandes consumidoras de eletricidade e calor industrial, como é o caso da indústria do alumínio”, acrescentou Guimarães. O entrevistado ainda lembrou que o país já possui uma infraestrutura montada para construir os submarinos da Marinha do Brasil, criando as bases necessárias para o desenvolvimento nacional de reator embarcados. “A infraestrutura de construção existente poderia desenvolver usinas nucleares flutuantes, uma vez que já tenha atendido todas as necessidades do Programa de Submarinos da Marinha. Isso seria extremamente vantajoso para o Brasil e daria uma vantagem competitiva importante para o país nesse tipo de instalação”, disse. 

Para entender um pouco mais sobre o tema, seria importante se pudesse começar esta entrevista com um breve histórico sobre o uso de usinas nucleares flutuantes pelo mundo.  

Sturgis

Sturgis, primeira central nuclear flutuante

A experiência com usinas nucleares flutuantes é bem antiga, antecedendo até mesmo o conceito das usinas em terra. A primeira unidade nuclear para geração de energia elétrica no mundo foi o protótipo em terra da propulsão do submarino nuclear Nautilus, lançado em 1954. Até hoje, mais de 400 submarinos nucleares foram construídos e operaram com grande segurança ao longo do tempo.

Os Estados Unidos e a Rússia construíram navios e submarinos nucleares com propósitos militares. Existem ainda navios nucleares mercantes para uso civil, tais como o Savannah (Estados Unidos), o Otto Hahn (Alemanha) e Mutsu (Japão). Além disso, a Rússia dispõe de uma frota de navios nucleares quebra-gelo. 

A primeira central nuclear flutuante que efetivamente entrou em operação foi a Sturgis, na década de 70. A embarcação passou vários anos operando no canal do Panamá, especialmente durante a guerra do Vietnã, garantindo o abastecimento e o funcionamento operacional do canal.

E quais são os usos mais recentes desse tipo de usina?

Recentemente, a Rússia adotou esse tipo de solução para alimentar com energia elétrica a região de Pevek, na costa da Sibéria, que fica distante da rede básica de transmissão do país. O navio Akademik Lomonosov, com dois reatores PWR de 35 MW cada, fornece energia para aquela região, onde existe muita atividade de exploração mineral. 

Paralelamente, a China encomendou um total de cinco unidades flutuantes, que atualmente se encontram em construção na Rússia. Essas plantas flutuantes serão usadas para levar energia elétrica a algumas pequenas ilhas localizadas no Mar do Sul da China. Importante ainda mencionar que os Estados Unidos Unidos também estão investindo recursos para o desenvolvimento de usinas flutuantes. Enquanto isso, na Europa, a França estuda usinas submersas a baixa profundidade próximo ao litoral.

Olhando para o caso brasileiro, quais seriam as possíveis aplicações de usinas nucleares flutuantes em nosso país?

Akademik Lomonosov, central nuclear flutuante russa

Akademik Lomonosov, central nuclear flutuante russa

No final da década de 2000, foi realizado um estudo bastante interessante, de autoria de um oficial que estava cursando a Universidade da Força Aérea, que abordou o emprego de usinas flutuantes para alimentação elétrica na Amazônia. Foi uma ideia bastante visionária para aquela época – e que hoje vai abrindo seu caminho tendo em vistas as mudanças das condições em relação aquele período. 

Assim, um emprego interessante, no caso brasileiro, seria o uso de usinas flutuantes para alimentar sistemas isolados na Amazônia. Isso traria uma excelente vantagem em termos de logística de abastecimento de combustível, levando em conta os problemas atuais para a manutenção da cadeia de suprimentos de combustível para esses sistemas isolados – que são alimentados por geradores a diesel.

As usinas nucleares flutuantes poderiam eliminar esse problema de abastecimento de combustível, na medida em que um reator poderia operar por um longo período sem a necessidade de recarga. E, quando esse reabastecimento for necessário, é possível deslocar uma usina nuclear flutuante substituta para o local, enquanto que a unidade que atendia aquela região é recarregada em um estaleiro especializado. 

As centrais flutuantes também poderão ser usadas para a alimentação de unidades industriais específicas que são grandes consumidoras de eletricidade e calor industrial, como é o caso da indústria do alumínio. As usinas flutuantes trazem vantagens nesse caso, na medida em que facilitam o transporte do reator para o local sem a necessidade de grandes obras. 

Quais são os desafios ambientais e de segurança de uma usina nuclear flutuante?

36e67aa6-2374-4f3b-9A grande segurança desse tipo de usina é demonstrada pelas instalações em navios. Existem mais de 400 reatores embarcados que já foram construídos ao longo dos anos. Atualmente, existe uma frota mundial de mais de 200 navios nucleares, com um histórico de segurança extremamente positivo. Essas embarcações nunca foram origem de nenhum acidente ou impacto ambiental significativo.

A experiência acumulada na indústria naval da propulsão nuclear aponta que uma usina flutuante tem uma segurança ainda maior, dado que opera em condições muito mais seguras do que um navio nuclear convencional. Então, sob o ponto de vista de segurança, são inúmeras as vantagens – inclusive, com a possibilidade de, no caso de algum contratempo, deslocar a usina flutuante para algum local seguro para realizar reparos ou conter problemas.

Se o Brasil, no futuro, decidisse investir nesse conceito de usina, nosso país estaria capacitado para desenvolver nacionalmente um projeto dessa envergadura?

O Brasil está bem posicionado nesse caso, pois já possui o PROSUB – programa avançado da Marinha para construção de submarinos, incluindo um submarino nuclear. Então, a Marinha já detém uma base naval e um complexo de estaleiro desenvolvidos para os submarinos. Essa infraestrutura poderia ser utilizada para construção de uma usina nuclear flutuante. Além disso, existiria também um papel importante para a Nuclep, que faria os módulos e equipamentos dessas usinas, assim como faz para os submarinos da Marinha.

A infraestrutura de construção existente poderia desenvolver usinas nucleares flutuantes, uma vez que já tenha atendido todas as necessidades do Programa de Submarinos da Marinha. Isso seria extremamente vantajoso para o Brasil e daria uma vantagem competitiva importante para o país nesse tipo de instalação. 

Como funcionaria a escolha de sítio para uma usina nuclear flutuante?

submarino-atomico-brasileiro-1664307930378_v2_4x3Os critérios para a escolha de local de uma usina nuclear flutuante são os mesmos de uma instalação em terra. Ainda assim, o processo de localização de uma central flutuante tem vantagens, especialmente levando em conta a modularização plena que uma usina do tipo pode alcançar.

A grande vantagem dos reatores modulares é a possibilidade de ser produzido em fábrica e montado em campo como se fosse um “grande Lego”. Ainda assim, os módulos dos SMR certamente têm que obedecer a restrições de transporte. Não é possível construir um reator inteiro e transportá-lo ao local de instalação. 

Já no caso de uma usina flutuante, é possível montar um reator integralmente no estaleiro e levá-lo até o local onde será instalado. Ou seja, é possível tirar plena vantagem da modularidade dos SMR usando o conceito de usinas flutuantes. Essa é uma vantagem importante. 

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