LIDERROLL BUSCOU ALTERNATIVAS BEM SUCEDIDAS NO EXTERIOR, MAS ESPERA RETOMADA DO MERCADO DE MANUTENÇÃO EM GASODUTOS NO BRASIL

O convidado de hoje (29) do Projeto Perspectivas 2023 é o Presidente da Liderroll, Paulo Fernandes. Uma das empresas que sofreu com a interrupção do mercado de petróleo no Brasil e precisou investir em busca de novos mercados no exterior. A alternativa que teve para o seu segmento, construção e manutenção de gasodutos e oleodutos, foi o mercado externo, onde foi sempre muito bem recebida pelo desenvolvimento internacional de suas patentes. Seja no campo dos roletes para Stingers de lançamento de dutos no mar, como os roletes especiais para piers, que não agridem as tubulações, naturalmente provocadas pelo seu movimento constante de acordo com a temperatura ambiental, além de roletes tridimensionais e os consagrados roletes motrizes, para lançamentos de gasodutos e oleodutos em túneis, como no Gastau, Gasduc e sob o Lago de Michigan, entre o Canadá e os Estados Unidos. É também da Liderroll a defesa da construção de dutos aparentes, mais seguros e mais baratos do que o método convencional, de enterrá-los. Outra bandeira levantada por Fernandes é a redução de tempo de inspeção e manutenção dos gasodutos, principalmente em longos túneis. No Brasil, os dois túneis com gasodutos pertencem à NTS e apesar já terem sido construídos há mais de dez anos, não tiveram seus roletes e a sua estrutura oficialmente inspecionadas. Vamos então, saber como pensa, o Presidente das Liderroll e as suas perspectivas:

– Como a sua empresa atuou em 2022? Os resultados foram positivos?

– Com relação a 2022, após o advento muito perturbador no âmbito empresarial e industrial brasileiro, que foi a intervenção descoordenada também com objetivos de desmonte da indústria nacional do nosso mercado de petróleo e gás, orquestrado, ao meu ver de fora para dentro do país, com o objetivo de interromper o ciclo de crescimento do mercado de petróleo brasileiro, da produção de riquezas do nosso país, com interferência franca direta de grupos específicos internacionais e nacionais.

A nossa engrenagem travou, parou. Muitas empresas quebraram, muitas faliram, muitas estão em recuperação judicial, muitas mudaram de

Liderroll testa na fábrica novos equipamentos desenvolvidos

nome, e muitas, acho que a grande maioria,  arrastam problemas até hoje. Para piorar, esse modismo induzido que é o compliance. E isso é preciso falar claro. Isso afasta muitos empresários. Parece criado para afastar empresas que não possuem condições, créditos e que estejam descapitalizadas. Falo, porque felizmente, não é o nosso caso, mas posso sentir isso no mercado. Quem não arrastou problemas de ordem operacional, financeira, arrastou problemas na ordem de compliance. Isso tudo para afastar o mercado brasileiro da execução e da participação, abrindo a porteira para o mercado internacional e freando as empresas brasileiras. Um terror para o mercado e todas estão sofrendo de 2015 para cá.

Podemos identificar que aquelas que menos sofreram no mercado de óleo e gás foram as empresas de prospecção e produção, que são multinacionais estrangeiras. E nisso, esta operação judicial tão falada não entrou. Ninguém foi lá investigar corrupção nas grandes multinacionais, temos que falar claro. Estiveram lá com contratos gigantescos e em operação. O que a Liderroll fez desde 2015 para cá, o que fizemos foi trabalhar na área de prospecção de novos negócios, novas oportunidades. De abertura de mercado externo.

Estamos no segmento de  construção de oleodutos e gasodutos, travessias especiais, túneis, valas, pipe racks. No Brasil, isso parou. A Petrobrás parou, não investe mais, nem em manutenção das malhas e na operação. E olha que nós conhecemos isso muito bem. Participamos de muitos projetos. E projetos de alta tecnologia que estão ainda hoje aí no mercado, como os gasodutos em túneis, há mais de dez anos sem inspeção, manutenção. Há riscos? Não sabemos. Quem pode dizer? Nós temos uma tecnologia registrada, protegida, conhecemos o que fizemos.

Não há como outra empresa fazer o que fazemos, pois é uma patente nossa. A não ser que não saibamos que esteja acontecendo. Neste caso, os riscos são ainda maiores. E nós acreditamos que as empresas que agora são detentoras desses túneis saibam dimensionar perfeitamente o tamanho desta responsabilidade. Investimos pesado nos Estados Unidos, Canadá, na Europa, na Rússia, China e Turcomenistão. Projetos que precisaram de consultas, aconselhamentos, da nossa participação em projetos complicados, como o oleoduto sob o lago de Michigan etc. A Pandemia também provocou um freio muito grande e todos ficamos em compasso de espera.  

No nosso caso, sendo uma empresa de solução de engenharia, com fábrica própria para produzir todas as soluções que desenvolvemos, criando ferramentas, testando metodologias especiais, nós não tivemos negócios. Temos também equipes de solução e manutenção e montagens, mas nada aconteceu ainda no Brasil no óleo e gás, setor no qual somos focados. Outras empresas, muito provavelmente sim, pessoal da construção civil e outras mais, conseguiram operar ou para quem trabalha para pequenos municípios. Na iniciativa privada, os grandes projetos não aconteceram.

– O que espera com um novo governo para 2023? Quais são as perspectivas para o ano que vem?

–  A Petrobrás fez um desserviço neste governo. Me desculpe o Paulo Guedes ou quem quer que seja. Não mantiveram investimentos. Tivemos que pagar a conta da covid-19, tudo bem, mas o que dá lucro é a empresa privada, o que mantem as empresas funcionando são os empregos e obras. Isso é uma outra maneira de fazer a economia girar, com crescimento de país. Não é girar mudando dinheiro de conta, de um lado pro outro, remanejando conta e vendendo ativo. Nós vamos ficar pobres desse jeito. E aí o novo governo? Bem, não sei. A mentalidade desse novo governo, ao que tudo indica, vai bater pesado nesse segmento. Deve abrir bastante postos de trabalho, incentivar investimentos de infraestrutura.  

Roletes especiais para Stingers de lançamento de dutos no mar

A questão de navios, aumentar a exigência do conteúdo nacional, valorizar as empresas nacionais. Não estou falando mal do governo atual, mas é uma questão de foco, objetivo. Eu acho que o foco do novo governo, será rever a Petrobrás, a nossa estratégia, a nossa dependência,  fazer com que ela volte a gerar emprego, queira ou não queira, é uma empresa âncora desse país. Uma empresa que alavanca centenas de empresas, deixadas de lado. Por isso, esse novo governo vai atuar muito bem adiante. Então eu acho que o ano de 2023 será de muitas energia boas. O  mundo está mudando. Existe uma consciência mundial, da valorização do ser humano.

Eu acho que muitas coisas vão ser feitas para valorizar a condição humana. Não vejo como seja essa tecnologia 4D que eles estão falando, livrar-se do hidrocarboneto, novas tecnologias, com o hidrogênio. Não acho que será isso que vai alavancar. Eólica? Isso tudo é muito bom por enquanto. Mas ainda não tem sua consistência assegurada. As eólicas um pouco mais, mas quando começarem a entrar na fase de  depreciação e manutenção pesada, aí serão avaliadas que são muito lucrativas. O custo de instalação e custo de operação versus custo de manutenção e reparo, com o custo abatido. O hidrogênio acho que demora. Não tenho dúvida que o ano que vem é a virada da chave do crescimento, não tenho dúvida. As coisas vão melhorar a partir do ano que vem, podem anotar.

– Que sugestões daria aos governantes para os negócios prosperarem ainda mais?

– A nossa empresa é uma empresa de concepção, execução, instalação, construção. Então, vou falar por esse viés. A sugestão que eu daria envolve 

Roletes especiais para dutos em piers

várias facetas. Não pode cada ministério olhar só para seu umbigo. Ele tem que olhar no todo, no coletivo. Obviamente, há ministérios com mais prioridade. Quem assumir, tem que assumir com pensamento fora da caixa. Por exemplo, desde 2010, tento entender porque o nosso país, que é um continente, ainda faz as tubulações de dutos enterrados. Eu quero que alguém dê uma justificativa daquelas inquestionáveis. Por que não pode?  Se procurarmos na ANP, IBP e CENPES uma norma para construção de gasoduto ou oleoduto aparente, creio até que nem exista essa norma. Se precisar fazer um trecho de 20 quilômetros, não tem norma. Não estou falando de tubulação, mas de oleoduto, gasoduto. No próprio RTDT, lançado alguns anos atrás, não prevê dutos aparentes. Uma bandeira que eu cravei  na Liderroll, no país.

Liderroll lidera a defesa da construção de dutos aparentes

Já tive reuniões com o secretário do Ministro das Minas e Energia, com a ANP, o IBP, o CTDUT e ninguém sabe explicar porque não se faz duto aparente. Tem prós e contras e todos eu tenho rebatido. Aumenta a nossa seletividade interna. Dá mais mobilidade com transferência de gás, petróleo. Alivia as estradas, diminui o risco de acidente com caminhão,  movimenta grandes volumes, inclusive de grãos por dutos. A perda já registrada de soja, milho, por rodovias é da ordem de 30%. Um absurdo. Se produzimos 100 toneladas de milho, 30 toneladas vão ficar pelo caminho. Ou no porto ou nas estradas.

São paradigmas que precisam ser quebrados. Ouvir os empresários com ideias inovadoras e criar um grupo de trabalho para ouvir sobre dutos aparentes. Depois os demais ministérios. Regulamentação, reformas tributárias. Se o governo tiver uma equipe de empresários pés no chão, a coisa anda. Acredito também que haverá uma integração do Brasil com outros países. Nós estamos fazendo um excelente trabalho nos Estados Unidos, Portugal e Canadá. Para 2023, essa interação será bem mais estreita. Nós fomos buscar essa conexão, sozinhos, sem apoio de ninguém, sem verba, nosso suor. E estamos aqui. Prontos.