LULA ASSUME MINISTÉRIO DA CASA CIVIL E DEVE REPETIR MODELO ECONÔMICO QUE LEVOU PAÍS À CRISE ATUAL

Os tempos são conturbados em Brasília, e a pressão constante acaba de resultar em mudanças no governo. Enquanto as investigações da Lava Jato avançam cada vez mais na direção do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele ganhou de presente a cadeira de Ministro da Casa Civil. A decisão de aceitar o convite feito pela presidente Dilma Rousseff se deu após conversa com aliados no Palácio do Planalto, e agora ele deverá iniciar uma nova articulação com duas frentes: retomar o apoio do PMDB para destravar pautas do Congresso e dar nova guinada à política econômica do país, retomando o modelo instituído nos anos anteriores, que acabou levando o Brasil à crise atual. Com a mudança, o até então ministro Jaques Wagner deixará o comando da pasta e passará a ser chefe de gabinete de Dilma, onde será responsável por comandar o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, chamado de Conselhão.

O retorno de Lula ao Planalto, já confirmado por lideranças do PT na Câmara, deve acarretar mudanças no governo, que hoje tem sua base de apoio fragmentada e é incapaz de avançar com pautas no Congresso. Além disso, o político passa a ter foro privilegiado, o que impacta em mudanças no andamento da Operação Lava-Jato. Enquanto ministro, Lula terá suas investigações transferidas para a instância do Supremo Tribunal Federal (STF), saindo das mãos do juiz Sergio Moro.

Em meio à mais grave crise enfrentada pelo atual governo, a chegada de Lula vem sendo encarada pela base aliada como uma esperança para reestabilizar os ânimos em Brasília. Em conversa nesta terça-feira (15), o presidente do Senado Renan Calheiros sinalizou que a nomeação do ex-presidente deverá ajudar nas negociações com o PMDB, que a cada dia vem se afastando mais de Dilma e hoje se encontra próximo de um rompimento. No âmbito econômico, por sua vez, Lula pretende alterar os caminhos que vinham sendo seguidos ao longo do último ano e dar maior foco a pautas dos movimentos sociais e sindicais, inclusive fazendo modificações na diretoria do Banco Central. As mudanças foram apresentadas pelo político como condição para assumir o cargo.

A chegada de Lula, no entanto, promete ser conturbada. Líderes oposicionistas do Congresso vêm impulsionando uma onda de ações judiciais com objetivo de impedir a posse do ex-presidente, sob alegação de que ele estaria tentando se blindar dos avanços da Lava-Jato. Os deputados do DEM já preparam ações populares e o líder do PV no Senado, Álvaro Dias, já protocolou Ação Popular na Justiça Federal de Brasília. Com Lula ativo no governo, mudam também as expectativas quando ao andamento do processo de impeachment de Dilma, que será retomado nesta quarta-feira (16) pelo STF.

Diante do atual cenário, o retorno do ex-presidente também vem sendo encarado como um sinal do enfraquecimento de Dilma em meio à oposição de setores da sociedade e aos desdobramentos da Lava-Jato. A delação de Delcídio do Amaral, homologada e divulgada nesta terça-feira (15) colocou mais lenha na fogueira do Planalto, que agora luta para retomar a confiança do mercado e da base aliada, também envolvida nas investigações.