MAGDA CHAMBRIARD QUER REPOSIÇÃO DE RESERVAS DA PETROBRÁS, DEFENDE RENOVÁVEIS E FAZ ACENO À INDÚSTRIA NAVAL
O Petronotícias apresenta na manhã de hoje (28) uma espécie de raio X da nova administração da Petrobrás, agora sob a batuta de Magda Chambriard. Em sua primeira entrevista coletiva após sua posse como presidente da companhia, no Rio de Janeiro, Magda demonstrou sua conhecida desenvoltura ao tratar dos mais variados temas da indústria. Mais do que isso, trouxe seus primeiros recados ao mercado. Por isso, o Petronotícias publica a seguir algumas das falas mais relevantes da nova presidente da Petrobrás. Em relação ao futuro da companhia, ela defendeu que o Brasil precisa repor suas reservas de petróleo. E, ao seu jeito, em um tom bem polido, deixou uma mensagem bem direta e firme ao Ministério do Meio Ambiente, dizendo que a pasta precisa ser “mais esclarecida” sobre a necessidade de perfurar novos poços, especialmente na Margem Equatorial. Cobrou ainda mais reuniões do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) para que a Margem Equatorial seja discutida. Para ela, a costa do Amapá, na Bacia da Foz do Amazonas, e o litoral do Sul, na bacia de Pelotas, são as áreas mais promissoras no país. No entanto, Magda sustenta também que ainda podem ocorrer algumas descobertas no pré-sal, mesmo que com menores volumes. A nova dirigente não descarta ainda a realização de projetos internacionais, mas reafirmou que o foco da empresa será mesmo no Brasil.
Olhando para a transição energética, Magda disse recusar a ideia de que a energia renovável dá prejuízo. Segundo ela, o caminho da transição energética veio para ficar e precisará ser trilhado. A presidente também reafirmou que a Petrobrás continuará “abrasileirando” os preços dos combustíveis e, ao mesmo tempo, atenderá aos interesses dos acionistas majoritários e minoritários. “A Petrobrás é tão grandiosa que gerir essa empresa para dar lucro é muito fácil”, afirmou. Quando questionada sobre possíveis mudanças na diretoria, a nova dirigente da petroleira despistou, mas não chegou a negar a possibilidade de trocas no alto comando da companhia. Por fim, Magda deixou um aceno para o setor naval brasileira. “A indústria pode esperar uma igualdade de oportunidades e um empenho muito grande na busca do reforço as cadeias produtivas nacionais”, declarou.
Poderia começar essa entrevista fazendo uma fala inicial sobre sua chegada à presidência? Quais serão as prioridades?
Avançar nas novas fronteiras exploratórias, repor reservas, aumentar a disponibilidade dos nossos produtos para o mercado, intensificar a produção de energias renováveis e potencializar a cadeia produtiva nacional. Tudo isso está no nosso escopo.
Entendemos que temos nas mãos uma companhia grandiosa, que dá retorno, que observa as normas de compliance, que é sustentável e que respeita as pessoas e o meio ambiente. Mas, ao mesmo tempo, é preciso ser rentável e atender aos interesses dos acionistas majoritários e minoritários. É uma questão de buscar, com conversa e entendimento, as demandas de cada um desses grupos. A Petrobrás é perfeitamente capaz de garantir o retorno para seus acionistas, sejam eles privados ou governamentais, tudo com muito empenho, esforço e diálogo.
A Petrobrás é tão grandiosa que gerir essa empresa para dar lucro é muito fácil.
Como conciliar os interesses de todos os acionistas?
Nós vamos respeitar a lógica empresarial. Não há como gerir uma empresa dessa sem respeitar a lógica empresarial, dando lucro, sendo tempestivos e atendendo aos interesses tanto dos acionistas públicos quanto dos privados. A palavra-chave é conversa. Nós vamos ter que conversar muito, entender as demandas de cada um e colocar a Petrobrás à disposição dos interesses dos seus acionistas dentro da lógica empresarial.
Vamos falar agora sobre novas fronteiras exploratórias. Ainda existe uma resistência do Ministério do Meio Ambiente e do Ibama em relação à Margem Equatorial. Como lida com isso?
O Ministério do Meio Ambiente precisa ser mais esclarecido sobre a necessidade do país e da Petrobrás de perfurar esses poços e explorar petróleo e gás, até mesmo para liderar a transição energética. Há muito investimento sendo feito na direção do net zero na indústria de óleo e gás, em projetos como captura de CO2, produção de energia renovável, derivados verdes de petróleo, hidrogênio, entre outros. Tudo isso está no colo das empresas de petróleo. Vamos investir nessa diversidade possível de geração de energia. O que a Petrobrás está fazendo é diversificação de fontes. É isso que vai garantir o futuro.
O que vai acontecer é que, pelo fim desta década, já teremos uma dificuldade de repor reservas a partir do que já está descoberto. O que também não quer dizer que não descobriremos mais coisas no pré-sal. Só não devemos esperar descobertas tão grandes, porque não é provável que encontremos outros campos como Tupi ou Búzios. A reposição de reservas está associada à exploração. Precisamos fazer exploração e das permissões necessárias.
Vamos ter que conversar com o Ministério do Meio Ambiente, mostrar o que a Petrobrás está ofertando em termos de cuidados com o meio ambiente nessa atividade, muito mais do que a lei demanda. A Petrobrás tem um histórico de respeito à sociedade e não vamos negar esse histórico. Acabamos de descobrir e produzir coisas grandiosas no pré-sal, superando desafios imensos perto de Angra dos Reis, e todos estão satisfeitos com o retorno desses investimentos, que estão sendo revertidos em melhorias para a qualidade de vida nesses municípios.
Como superar esse debate envolvendo a Margem Equatorial?
Eu acho que esse assunto deve ser debatido no CNPE, que tem se reunido pouco. Essa é minha percepção. Essa discussão envolve diversos ministros, representantes da sociedade civil, a Petrobrás, a ANP e o Ministério do Meio Ambiente. Esses assuntos devem ser discutidos à luz de sua contribuição para a sociedade brasileira. Eu acho que toda vez que restringimos a discussão a uma instituição única, todos perdem. Então, o que eu espero é intensificar essa discussão no fórum adequado, que é o CNPE. Só lembrando para vocês que toda a deliberação do CNPE sai assinada pelo Presidente da República.
A Petrobrás pode buscar novas áreas produtoras no exterior?
A internacionalização é uma possibilidade. A Petrobrás é uma companhia internacional. O que existe pelo mundo afora vai ser considerado, mas a prioridade é absolutamente o território brasileiro.
Como a senhora enxerga a questão das renováveis e da transição energética?
Muitas novas fontes aconteceram ao longo do tempo e que não são promessas de agora, mas que passaram a fazer sentido ao longo de décadas. Então, eu refuto a ideia de que a energia renovável dá prejuízo. E ela vai ter que ser encarada. As renováveis estão chegando, e teremos que encarar isso porque o mundo está indo realmente rumo ao net zero. Esse é um compromisso da Petrobrás e nós não vamos mudar essa posição. Mas tudo isso vai ter que obedecer à lógica empresarial, é claro.
Qual será sua postura em relação à política de preços de derivados?
A Petrobrás sempre funcionou acompanhando uma tendência de preços internacionais, às vezes com o preço um pouquinho mais alto, às vezes com o preço um pouquinho mais baixo. O que é altamente indesejável é trazer para a sociedade brasileira uma instabilidade de preços todos os dias. A Petrobrás sempre zelou por essa estabilidade, acompanhando a tendência de preços. O presidente Lula, em sua campanha eleitoral, prometeu “abrasileirar” os preços dos combustíveis. E isso foi feito. Essa é uma lógica empresarial. Essa simples mudança resultou em uma redução de 25% no preço do diesel produzido no Brasil e vendido pela Petrobrás nas refinarias. Nós vamos seguir com esse “abrasileiramento”. Isso é uma heresia? De forma alguma, pois está dentro da lógica empresarial, que pretende vender o produto e manter a participação de mercado da Petrobrás.
Podem ocorrer mudanças na diretoria da empresa?
Eu ainda estou conhecendo os diretores. Alguns são novos, outros nem tanto. É natural que quando um gestor entra, identifique, vamos dizer assim, sinergias profissionais e perfis parecidos. Se houver alguma mudança na diretoria, será uma troca que não desabona nem abona ninguém. Será simplesmente um ajuste de perfil.
Gostaria de deixar um recado para a indústria naval brasileira? O que os estaleiros nacionais podem esperar de sua gestão?
Desde o primeiro momento do desenvolvimento de petróleo no mar do Brasil, estamos falando de um esforço muito grande de investimento no desenvolvimento da cadeia de fornecimento nacional. Isso, ao longo do tempo, teve muitos acertos e erros também. Hoje, nós temos estaleiros no Brasil produzindo topsides de grandes plataformas com sucesso, dentro do prazo, com preço competitivo e qualidade. O Brasil também fornece equipamentos submarinos que são usados não apenas localmente, mas também no exterior. Temos muita coisa boa feita no Brasil, e minha obrigação aqui é ajudar a reforçar essas cadeias nacionais.
A indústria pode esperar uma igualdade de oportunidades e um empenho muito grande na busca do reforço as cadeias produtivas nacionais.
Por fim, poderia comentar sobre o acordo da Petrobrás com a Unigel para a retomada da operação das fábricas de fertilizantes na Bahia e em Sergipe?
O caso da Unigel está sendo estudado. Se tenho que desbravar o mercado, começar por algo que já existe sempre é mais fácil. Mas é preciso alcançar lucro. Se o Tribunal de Contas da União (TCU) tem dúvidas quanto a isso [ao acordo com a Unigel], vamos respondê-las. Não vamos passar por cima de uma instituição brasileira, muito menos de uma tão respeitada quanto o TCU.
Faremos sim [o acordo com a Unigel] se isso for bom para nós. Não tem ninguém aqui querendo rasgar dinheiro. A Petrobrás precisa dar lucro e respeitar as normas de compliance. Se temos regras de compliance e controle, isso dá conforto aos investidores, onde quer que eles estejam. Agora, o que não posso é ter um compliance exagerado, impondo um imobilismo. Vamos discutir a tempestividade dos projetos. Tenho certeza de que, com conversa, todo mundo se acerta. Estamos prontos para esclarecer nosso lado do negócio.
A indústria naval está farta de “acenos”, agora tem que ser ações.