MAIS UM GRANDE EMPRESÁRIO ADMITE SUBORNO NA PETROBRÁS
O cerco está se fechando cada vez mais em torno dos envolvidos no esquema de corrupção na Petrobrás apontado pelo ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa. Agora mais um grande empresário aceitou fazer um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal e com a Polícia Federal. Trata-se de Augusto Ribeiro de Mendonça Neto (foto), membro do conselho de administração do Estaleiro EBR, dono da Setal Óleo e Gás – que se uniu à japonesa Toyo Engineering para a criação da Toyo-Setal e do EBR –, presidente da Abenav e vice-presidente do Sinaval. Além de acumular postos de importância no segmento de construção offshore, Mendonça é acusado de ter pago propinas por meio do doleiro Alberto Youssef, figura central do esquema investigado pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal.
A empresa Tipuana Participações, controlada por Mendonça, depositou R$ 7,3 milhões em contas do doleiro, segundo dados da Polícia Federal, mas, como as empresas de Youssef nunca tiveram atividade, os procuradores dizem que as transferências eram repasse de propina, o que foi confirmado pelo doleiro em depoimentos.
Com o acordo assinado por Mendonça, já são quatro os que aceitaram contar tudo o que sabem sobre o esquema de corrupção nos contratos da Petrobrás, contando com o ex-diretor Paulo Roberto Costa, o doleiro Youssef e o executivo da Toyo-Setal Julio Camargo. A própria Toyo-Setal já se colocou à disposição do Ministério Público para também fazer um acordo, sendo a primeira empresa a entrar para a lista dos que resolveram cooperar com as investigações.
A entrada de Mendonça para essa lista traz, além de mais uma versão contada por alguém de dentro do mercado, um elo que ainda não estava nos quadros dos que assumiram a participação. No caso, um nome que tem forte presença nas entidades de classe e está no topo do comando das duas maiores associações do setor de construção naval e offshore; o Sinaval e a Abenav, que congregam estaleiros e empresas ligadas a atividades correlatas.
O resultado é que as outras empresas apontadas por Paulo Roberto Costa como envolvidas no esquema têm cada vez mais o que temer. Agora não dá mais para dizerem que são versões de uma única pessoa. Já são quatro elos distribuídos em diferentes posições da cadeia. A expectativa dos investigadores é conseguir a adesão de outras empresas para a construção de um grande acordo de leniência, mas a realidade é que no mercado ninguém sabe muito bem o que pode acontecer.
Foram citadas por Costa 15 das maiores empresas do Brasil, incluindo praticamente todas as gigantes que comandam a construção e montagem no país. Se as investigações continuarem no rumo em que estão e de fato comprovarem a chamada “cartelização” dos contratos, denunciada pelo ex-diretor, a Petrobrás ficará num impasse complicadíssimo. As obras da estatal, quase todas feitas por esse grupo de empresas, serão paralisadas? Quem tomará o lugar delas? Há quem possa substituir todas essas empreiteiras? São perguntas que até agora a Petrobrás foi incapaz de responder.
Só para deixar como exemplo os contratos envolvendo a Toyo-Setal e o EBR, que agora têm executivos dispostos a contar como eram feitos os pagamentos de propina, há alguns bilhões em jogo. Os contratos são avaliados em cerca de R$ 5 bilhões com a estatal, incluindo a construção e a integração dos módulos para a plataforma P-74 (cerca de R$ 1,85 bilhão), que está sendo feita pelo Estaleiro EBR e será utilizada na Cessão Onerosa do pré-sal; a unidade de hidrogênio do Comperj (R$ 1,1 bilhão), sendo feita pela Toyo-Setal; e a unidade de amônia (R$ 2,09 bilhões) para a planta de fertilizantes da Petrobrás em Uberaba (MG), a UFN V, também pela Toyo-Setal.
Além disso, antes da formação da joint venture entre a Toyo e a Setal, em 2012, as duas empresas já haviam trabalhado em parceria em outros projetos para a Petrobrás, como na modernização da Refinaria Henrique Lage (REVAP) e na ampliação do Terminal de Cabiúnas (TECAB).
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