MERCADO BRASILEIRO REAGE AO CARDÁPIO DE TARIFAS DE DONALD TRUMP, MAS A POSIÇÃO GERAL SERÁ DE ESPERA
O Brasil acompanhou a decisão anunciada pelo Governo dos Estados Unidos de elevar a alíquota do imposto de importação em 10% para vários países, além de aplicar uma tarifa adicional recíproca para países que apresentam elevados déficits comerciais. Para o Brasil, pelo que se especulava, ficou menos do que se esperava: 10%. As tarifas ficarão vigentes até que os déficits comerciais sejam resolvidos ou mitigados. A reação por aqui veio de todo lado. A ABIMAQ – Associação Brasileira das Indústrias de Máquinas – disse que alterações abruptas nas tarifas de importação tendem a resultar em insegurança comercial e econômica. Para a entidade, essa elevação de tarifa pode gerar impactos negativos significativos para a economia e para a indústria brasileira de máquinas e equipamentos. Do total da receita do setor de máquinas e equipamentos, cerca de 20% é direcionado ao mercado externo (exportação).
“Em 2024, exportamos US$ 13,2 bilhões, destes, 25% ou US$ 3,5 bilhões, foram direcionados para os Estados Unidos, equivalente a 7% da receita total do setor. O Brasil importou cerca de US$ 4,7 bilhões em máquinas e equipamentos de origem norte-americana, portanto somos deficitários.
Com a medida anunciada o Brasil será impactado negativamente em suas exportações para os Estados Unidos pois seremos menos competitivos em relação à indústria local de máquinas e equipamentos. Podemos citar como exemplo máquinas agrícolas, rodoviárias e máquinas para a indústria de transformação. Esses produtos, entre outros, são produzidos tanto pelo Brasil como pelos Estados Unidos, assim o aumento da tarifa significará perda de competitividade em relação aos produtos norte-americanos”, declarou a ABIMAQ.
O setor canavieiro, que se reúne em Brasília no evento internacional Cana Summit 2025, disse que dentre as pautas debatidas, teve destaque para o tarifaço imposto pelos Estados Unidos e o Projeto de Lei da Reciprocidade – aprovado ontem pela Câmara dos Deputados e que agora vai à sanção presidencial. O projeto visa estabelecer medidas de resposta a políticas unilaterais adotadas por outros países, o que tem gerado preocupação entre produtores, lideranças do setor e autoridades políticas. O CEO da ORPLANA, José Guilherme Nogueira, disse que ter os produtores junto com os políticos é fundamental. “Eles sentem, medem a temperatura e entendem a importância dessa proximidade para fortalecer nossa representatividade. ressaltou a competitividade do etanol brasileiro, especialmente em relação à descarbonização, fator essencial para o setor. A competitividade do etanol brasileiro é muito pujante. O norte-americano compra o etanol brasileiro principalmente pela intensidade de carbono. Produzir aqui no Brasil, através da cana, tem um poder de descarbonização maior do que o próprio etanol de milho dos Estados Unidos”, afirmou.
A Associação Brasileira do Alumínio (ABAL) reforçou a sua preocupação com os impactos da sobretaxa sobre os produtos de alumínio brasileiros que destaca o documento divulgado pelo Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR) não faz menção específica a uma nova medida para produtos de alumínio, que já enfrenta uma sobretaxa de 25% desde 12 de março deste ano: “Embora ainda seja cedo para medir os efeitos diretos dessas sobretaxas nas exportações brasileiras de alumínio para os EUA — visto que não se completou sequer um mês da sua aplicação.” A ABAL chama atenção para os potenciais efeitos indiretos e estruturais de médio e longo prazo, especialmente no que diz respeito à suscetibilidade do país aos desvios de comércio e à desestruturação da cadeia de reciclagem de alumínio nacional, que hoje configura uma das maiores vantagens competitivas do Brasil para seu reposicionamento na cadeia global de suprimento.
Embora a participação do Brasil nas importações americanas de produtos de alumínio seja pequena (menos de 1%), os EUA são um parceiro comercial estratégico, representando 16,8% das exportações brasileiras do metal em 2024 — o equivalente a US$ 267 milhões e 72,4 mil toneladas, das quais 54,2 mil estavam sujeitas à Seção 232. Desse volume, 76% corresponderam a chapas e folhas de alumínio: “A medida tem implicações que vão além do impacto comercial imediato. Ela reflete uma estratégia mais ampla de coordenação entre políticas industriais, tarifárias e de defesa comercial, em curso tanto nos Estados Unidos como em outras economias, como resposta a um processo global de desindustrialização.”
A ABAL lembra que além de deter a quarta maior reserva de bauxita do mundo e figurar entre os três maiores produtores globais de alumina, a indústria nacional investiu na diversificação e autogeração de energia a partir de fontes limpas e renováveis. O país também se consolida como um dos principais recicladores de alumínio do mundo: hoje, cerca de 60% do alumínio consumido no Brasil tem origem em material reciclado — o dobro da média global (inferior a 30%) e muito acima da média americana. Nesse sentido, “chama atenção o fato de que a nova tarifa americana não incide sobre a sucata de alumínio, o que sugere uma estratégia deliberada de abastecimento por meio da importação desta matéria-prima.”
“A ABAL segue dialogando com as autoridades competentes, contribuindo com dados, análises e propostas para garantir condições isonômicas para o setor e preservar sua capacidade de competir, de forma sustentável, nos mercados nacional e internacional. Reforça, ainda, a importância do fortalecimento dos instrumentos de defesa comercial e da recalibração da política tarifária nacional, com o objetivo de corrigir distorções e evitar que práticas assimétricas comprometam a competitividade da indústria brasileira do alumínio.”
Amance Boutin, gerente de desenvolvimento de negócios da Argus, empresa especializada na produção de relatórios e análises de preços para o mercado de petroquímicos, combustíveis, agricultura, fertilizantes e gás natural, fez uma série de comentários sobre o impacto da tarifa sobre o setor de biocombustível: “A tarifa padrão de 10% colocado sobre as exportações brasileiras para os Estados Unidos devem ter um efeito limitado sobre o setor de biocombustíveis, na avaliação da Argus com base em dados dos governos brasileiros e norte-americanos e ANP”. O Brasil produziu 37 bilhões de litros de etanol em 2024. Deste total, o volume exportado para os Estados Unidos somou 313 milhões de litros, o que representa 0,8% da produção nacional. De acordo com os dados do governo americano, a participação das importações brasileiras no suprimento doméstico foi quase nula em 2024, após atingir 1,4% da demanda interna do país em 2019 e 2020.
O Brasil exportou etanol principalmente para o estado da Georgia em 2024, onde o produto é usado para a produção de querosene de aviação sustentável (SAF, na sigla em inglês). “Nos anos anteriores, a Califórnia foi um dos principais destinos do etanol de cana-de-açúcar brasileiro, em virtude do prêmio dado ao etanol brasileiro no âmbito da política ambiental do estado norte-americano (Carb, na sigla em inglês). Em relação ao biodiesel, não houve nenhum fluxo de importação e exportação do biocombustível entre o Brasil e os Estados Unidos desde 2023.”
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