MERCADO FINANCEIRO DEMONSTRA MAL HUMOR COM ELEIÇÃO DE LULA, ENQUANTO INDÚSTRIA NAVAL ESPERA POR RETOMADA DO SETOR
A reação à eleição de Lula deixou o mercado pra lá de nervoso. O viés de privatização se transformou em viés de estatização. As ações da Petrobrás despencaram, com uma forte queda na manhã desta segunda-feira (31) nos mercados externos. Nos Estados Unidos, os ADRs estavam em queda de quase 10% antes da abertura das Bolsas americanas. A coisa piorou na Alemanha, onde o papel da empresa foi negociado com recuo de 11%. Como a empresa tem forte peso nos índices que reúnem ações brasileiras no exterior, eles operam em queda. Isso contaminou outras estatais, que podem ter desempenho negativo. Os analistas da bolsa acreditam que pode haver ganhos nas ações da educação privada, diante da promessa de ampliar o Fies e o Prouni.
O Ibovespa começou o dia operando com queda, enquanto o dólar teve leve alta no início desta segunda-feira. O principal índice da B3 é pressionado pelas fortes baixas em papéis de estatais, com destaque para a Petrobrás. A queda nas cotações internacionais do petróleo também contribui para um fraco desempenho dos papéis da petroleira brasileira hoje. No final da manhã, no entanto, o Ibovespa se recuperou e passou a operar em alta de pouco mais de 1%. A vitória de Lula já era aguardada por boa parte do mercado, mas não estava completamente precificada devido ao encurtamento na distância entre os dois candidatos. Com Lula eleito, os investidores agora esperam sinais mais claros da condução de sua política econômica, incluindo a indicação de nomes para os ministérios. No caso do dólar, ainda há a influência no movimento a formação da Ptax do fim do mês, taxa usada pelo Banco Central (BC).
Em outros setores da economia, a volta de Lula ao Palácio do Planalto foi bem recebida. É o caso do setor naval. Uma das principais entidades do segmento, o Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval), vive a expectativa de que o novo governo petista crie políticas que incentivem a construção de grandes obras nos estaleiros do país.
“O Sinaval cumprimenta o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, por ter conquistado um terceiro mandato na Presidência da República. O Sinaval está muito feliz com o resultado dessa eleição. A nossa expectativa é que o novo governo retome a construção naval no Brasil. Infelizmente, nos últimos seis anos, nenhuma obra de expressão foi realizada nos estaleiros brasileiros”, avaliou o vice-presidente executivo do Sinaval, Sergio Bacci (foto à direita).
Segundo dados do próprio Sinaval, o país contava com 42 estaleiros construindo embarcações em 2014. Atualmente, são cerca de 24 unidades funcionando – a maioria trabalhando em serviços de reparo naval. A expectativa da entidade é de retomada das políticas de conteúdo local, priorizando obras nos estaleiros nacionais. “A gestão passada de Lula na Presidência foi muito exitosa para a indústria naval brasileira e esperamos que isso volte a acontecer nesse novo mandato. Nós do SINAVAL estamos à disposição do novo governo para ajudar no que for possível e preciso, de modo a ajudar na retomada da indústria naval”, completou Bacci.
Outra instituição que avaliou positivamente a eleição de Lula foi a Federação Única dos Petroleiros (FUP). Durante a campanha, a entidade sindical fez propostas ao comitê do petista, sugerindo o fortalecimento da Petrobrás como indutora do desenvolvimento regional e nacional; e um nova política de preço de combustíveis que leve em conta a condição do Brasil de autossuficiente em petróleo, ou seja, tendo grande parte de seus custos em real.
“A atual política de preço de paridade de importação (PPI), que se baseia nas cotações internacionais do petróleo, na variação do dólar e nos custos de importação, só interessa aos grandes acionistas, majoritariamente estrangeiros, que vêm recebendo dividendos recordes enquanto mais de 30 milhões de brasileiros vivem em situação de insegurança alimentar”, disse o coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar (foto à esquerda).
A FUP aponta que os preços dos combustíveis no governo Bolsonaro (de 1º de janeiro de 2019 até o momento) atingiram reajustes recordes nas refinarias, por conta da atual política de preços – implementada ainda durante o governo de Michel Temer. Segundo o sindicato, a gasolina subiu 118,3%, o diesel 165,9% e o gás de cozinha 96,7%, enquanto a inflação acumulou 24,9% e o salário mínimo subiu 21,4% no período.
A COMPARAÇÃO ENTRE AS URNAS E AS PESQUISAS ELEITORAIS
O resultado apurado nas urnas do segundo turno mostrou Jair Bolsonaro com uma força eleitoral maior do que aquela que estava sendo apontada pelos levantamentos. Na última pesquisa Ipec (ex-Ibope) divulgada na véspera da eleição, Lula aparecia com 54% dos votos válidos contra 46% de Bolsonaro. A margem de erro da pesquisa era de dois pontos percentuais. No entanto, Lula teve 50,9% contra 49,1% de Bolsonaro – resultado fora da margem de erro.
O Datafolha, por sua vez, dentro da margem de erro, conseguiu chegar mais perto de acertar o resultado. A última pesquisa do instituto antes das eleições indicava um empate técnico entre Lula (52%) e Bolsonaro (48%). A margem de erro do levantamento também era de dois pontos percentuais. A pesquisa Genial/Quaest encontrou os mesmos números: 52% para Lula e 48% para Bolsonaro e possuía a mesma margem de erro.
Situação um pouco parecida aconteceu com o resultado do Instituto Veritá. No sábado, o último levantamento da instituição apontava Bolsonaro com 51% dos votos válidos contra 49% do adversário petista. Também neste caso, a margem de erro geral da pesquisa é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.
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