MERCADO REAGE E INDÚSTRIA BUSCA SAÍDAS PARA REDUZIR IMPACTO DO CORTE NO PLANO DA PETROBRÁS
O ano começou difícil para toda a indústria e foi piorando. A cadeia de fornecimentos do setor de óleo e gás foi uma das mais afetadas pela crise nacional, ampliada pelas consequências da Operação Lava Jato, e o Plano de Negócios da Petrobrás era uma esperança nesse horizonte nublado. Agora os números finalmente saíram, mas o drástico corte nos investimentos fará com que todos busquem saídas para reduzir o impacto do menor volume de recursos e encomendas nos próximos anos. A área de abastecimento foi a mais afetada, e muitas empresas que esperavam novos contratos no Comperj ou na Rnest precisarão procurar outras oportunidades. Notícia pior do que se imaginava, mas pelo menos se sabe a cara do monstro que o mercado vai precisar enfrentar.
A Abimaq, que reúne os fabricantes de máquinas e equipamentos, espera que o governo e a Petrobrás, assim como outras operadoras, se reúnam para implementar uma nova política industrial, garantindo mais espaço para as empresas nacionais nos projetos e aumentando a competitividade do País, mas reconhece que o corte pode levar um cenário já ruim a uma realidade ainda pior. A Rede Petro Brasil, que congrega as pequenas e médias empresas fornecedoras do segmento, vê um efeito em cadeia já ocorrendo e avalia que os empresários estão remodelando suas estratégias, com foco na diversificação.
O presidente do Clube de Engenharia, Francis Bogossian, assumiu ter tomado um susto com o novo plano de negócios da companhia. Levando em consideração que nem tudo o que é planejado acaba sendo cumprido, o corte de 40% anunciado pode acabar sendo de 60% em termos práticos, de acordo com Bogossian. A direção tomada pela Petrobrás também desagradou a Federação Única dos Petroleiros (FUP). O presidente da entidade, José Maria Rangel, se mostrou preocupado com o momento vivido pela maior estatal do país, e não descartou uma greve geral do segmento, 20 anos após a greve de 32 dias realizada pelos petroleiros em 1995.
As opiniões variam, mas um fato é claro para todos: o motor de reverberação que a Petrobrás sempre foi para a economia do País está em marcha mais lenta e não terá condições de acelerar tanto quando o mercado precisa. Veja algumas opiniões:
Para o Diretor Executivo da Abimaq, Alberto Machado (foto), o corte de investimentos preocupa muito as indústrias como um todo, e não só a de máquinas, mas pode não ser tão ruim para o nosso segmento específico se a gente tiver pelo menos uma condição de participar mais do que anteriormente. E existe margem para isso. A indústria de máquinas e equipamentos estava capturando muito pouco do crescimento dos investimentos do setor de óleo e gás nos últimos anos, então, se for aplicada uma política industrial ao mesmo tempo em que ocorre essa redução, os fabricantes poderiam capturar uma parcela maior das encomendas e sofrer um impacto menor. Se o conteúdo local de máquinas e equipamentos ficasse em 60%, por exemplo, teríamos uma participação muito maior. Hoje está abaixo de 20%. O contrato dos epecistas é maior do que isso, porque engloba outras coisas, mas o dado específico de máquinas e equipamentos fica nessa faixa.
O que preocupa é que se não for feito nada, com a queda de investimentos no downstream e a redução geral do plano da Petrobrás, vamos ter problemas maiores do que já temos. Mas tem margem para não termos esses problemas. Para isso, tem que haver um entendimento de uma maneira ampla, juntando governo, Petrobrás e as outras operadoras.
É fundamental uma política industrial que permita à indústria ter mais competitividade, com melhores taxas de juros, controle do câmbio e mudanças na tributação. Os efeitos do Repetro, por exemplo, deveriam se estendidos aos níveis inferiores da cadeia, que é onde fica a maior parte dos fabricantes de máquinas e equipamentos. Se tivermos condições de competitividade, pode ser que a gente consiga capturar mais, porque hoje temos condição de atender à demanda, já que estamos trabalhando com menos de 70% da capacidade e com apenas um turno de atividade.
Em nota, a FIRJAN também analisa as mudanças:
“O Plano de Negócios e Gestão (PNG) da Petrobras 2015-2019, divulgado hoje, sinaliza um cenário realista, porém preocupante. A concentração da atividade exploratória nos Programas Exploratórios Mínimos de cada bloco traz um alerta para o mercado ao não apontar investimentos em novas Rodadas de Licitação. Isso significa que a Petrobras está considerando, dada a atual regulamentação, a não realização de leilões do pré-sal no médio prazo (cinco anos), o que impediria o investimento de outras operadoras.
O Sistema FIRJAN tem reforçado a necessidade de revisão da legislação que traz para a Petrobras a obrigatoriedade de participação mínima na exploração dos campos do pré-sal, apoiando o projeto de lei em trâmite no Senado que trata do assunto.
O PNG fez ainda a revisão da curva de produção de óleo e líquidos de gás natural (LNG) no Brasil. Com metas mais próximas à sua atual capacidade produtiva, essa curva foi reduzida em 1,4 milhões de barris por dia (Mbpd) no horizonte 2020, representando a diminuição em um terço da produção anteriormente estimada, o que, somado à previsão de não haver novos leilões, traz dúvidas quanto à capacidade de atendimento ao crescimento da demanda interna.
A atualização do PNG trouxe um cenário de redução dos investimentos já esperado pelo mercado. O destaque negativo são os cortes nas obras do Comperj, importante ativo no estado do Rio de Janeiro, para valores potencialmente menores do que o necessário para a conclusão total do projeto.
A expectativa de priorização dos investimentos em Exploração e Produção foi confirmada, e a Petrobras também reforça sua posição como importante player do pré-sal, ao priorizar novos sistemas de produção no Brasil, que representam mais de 40% do total do Plano.”
Eduardo Soares – presidente da Rede Petro Brasil
O impacto dessa recessão e a diminuição desses valores afeta muito a cadeia produtiva, de norte a sul do País, inclusive os estaleiros e as refinarias. A redução do investimento no abastecimento foi muito grande, então não vai desenvolver nada novo, impactando diretamente a economia do Brasil.
As pequenas e médias empresas serão impactadas diretamente, porque os grandes epecistas, afetados pela Operação Lava Jato, não estão cumprindo com seus compromissos financeiros com os pequenos e médios, gerando um efeito em toda a economia do país.
Estamos fazendo uma reestruturação, vendo em que mercado podemos atuar e de que forma podemos fugir dessa recessão econômica. As empresas começaram a buscar uma diversificação, com a tentativa de ter mais presença na área de Exploração e Produção, na área subsea, no segmento de gás e também na de energia eólica.
Os empresários ficaram assustados, porque quem gera mais emprego no Brasil são as pequenas e médias empresas, e o impacto é muito grande.
Francis Bogossian – presidente do Clube de Engenharia
Levei um susto. Não podemos admitir uma Petrobrás paralisada, diminuindo seu programa. Esses assuntos da Lava Jato não podem continuar a jogar a Petrobrás no lixo. Vai atingir a empresa e a nação brasileira, não só as grandes, mas as pequenas e médias empresas.
Acho que o impacto vai ser negativo. Porque, se considerarmos ainda que nem sempre o programa é completamente realizado, essa redução de quase 40% pode virar quase 60% no futuro. Sem sombra de dúvidas o desenvolvimento nacional vai ser impactado. Não há desenvolvimento sem obra. Se as obras param e diminui o programa da maior empresa do país, o que se pode supor? Eu não aceitaria isso se fosse o mandatário.
Uma empresa como a Petrobrás, produtora, não pode ter um endividamento muito alto e um resultado baixo. Não pode praticar preço baixo, quando o preço é mais alto. Tem que parar de fazer isso. Já é um caminho.
Estou sentindo que cada vez mais aumenta mais o índice de desempregados no País. E o impacto desse corte na área de engenharia é total. Vai atingir as empresas de construção pesada e também a mão de obra não especializada.
José Maria Rangel – presidente da Federação Única dos Petroleiros (FUP)
Os números divulgados no plano de negócios da Petrobrás sinalizam uma forte freada no ritmo de obras da companhia. Isso é muito preocupante. Em primeiro lugar, nós, enquanto federação, estamos vendo a Petrobrás optar por um modelo derrotado nas eleições de 2014, que é de encolher o tamanho da estatal e retirar do controle da companhia áreas não muito lucrativas, mas que são estratégicas para o país. Nós já vimos isso acontecendo antes, no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
No governo Lula o mundo atravessou uma grave crise, mas a opção feita foi de investir na Petrobrás, sendo vista sua importância para a economia do país, com grande geração de emprego e renda. Outro aspecto preocupante é a facilidade como o governo tem visto a retração do crescimento da Petrobrás. Nós apresentamos uma proposta para zerar a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE), que atualmente destina 10 centavos de cada litro comercializado na gasolina e 5 centavos do litro do diesel para a União. Esta mudança poderia significar algo em torno de R$ 6 bilhões por ano para a companhia, dando um fôlego extra.
Neste ano, nós completamos 20 anos da histórica greve de 32 dias durante o governo FHC, que vinha tentando reduzir a companhia. Teremos uma plenária nacional nesta quinta-feira (2) para discutir encaminhamentos e uma nova greve em defesa da Petrobrás e do Brasil não está descartada.
Ariovaldo Rocha – presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval)
Para o presidente do sindicato, a decisão de concentrar a prioridade de investimentos no segmento de produção de petróleo e gás em áreas de maior capacidade de oferecer retorno foi positiva. “Os investimentos de US$ 130,3 bilhões de 2015 a 2019, anunciados para o novo plano de negócios da Petrobras, deverá manter encomendas de plataformas de produção de petróleo, navios petroleiros, navios de apoio marítimo e sondas de perfuração que garante a operação nos estaleiros brasileiros, embora com redução da demanda geral”, disse.
A importância da indústria naval brasileira também foi citada por Ariovaldo Rocha. “Os estaleiros brasileiros ainda geram cerca de 70 mil empregos nos diversos estados brasileiros, apresentam uma integração com grandes empresas internacionais participando de cadeias mundiais de produção. Esse é um patrimônio de grande relevância para o desenvolvimento brasileiro”, destacou.
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