NOVA GESTÃO DA ABEMI VAI FOCAR ESFORÇOS NA DEFESA DO CONTEÚDO LOCAL E NA EXPANSÃO REGIONAL
Por Bruno Viggiano (bruno@petronoticias.com.br) –
A preocupação com a situação da engenharia nacional continua sendo um dos principais focos da Associação Brasileira de Engenharia Industrial (Abemi), que passa a ser liderada por Nelson Romano a partir deste ano, após a eleição da nova gestão. As principais propostas do executivo são voltadas para o ambiente interno da Abemi, com a busca por maior participação dentro da associação por parte dos membros e uma expansão para estados com menos empresas participantes. Como associação de classe, a luta mantém o destaque dado ao Conteúdo Local nos anos anteriores, sob o comando de Antonio Müller, que já trazia grande preocupação com a indústria nacional. Apesar do otimismo à frente da entidade, Romano ressalta que a perda de postos de trabalho no País chamam a atenção, com projetos sendo enviados para o exterior a custos muito mais baixos que os praticados internamente. Ainda assim, o engenheiro acredita que os investimentos voltarão a vir para o setor de óleo e gás, que já se prepara para uma nova fase, puxada por mudanças regulatórias no segmento, como o fim da obrigatoriedade de operação da Petrobrás no pré-sal. “A longo prazo, essas mudanças apontam para outros operadores entrando no mercado, criando novos horizontes para a indústria”, afirma. Além de Romano, assumem também a nova gestão da Abemi: Marcelo Corrêa, da Remac Engenheiros e Consultores, como vice-presidente; Márcio Cancellara, da Projectus Consultoria, como diretor de Engenharia; Gerson Ricardi, da Construtora Norberto Odebrecht, como diretor de Construção Civil; Marcelo Khoury, da Liderrol, na diretoria de Fabricação; Oscar Simonsen Junior, da Montcalm, na função de diretor de Montagem e Manutenção; além de Henrique Zuppardo Junior, da Megatranz, na diretoria de Logística. O conselho da associação também passou por mudanças para o triênio 2016/2019, com Alfredo da Costa, da AP Consultoria e Projetos, assumindo a parte de Engenharia, com Rafael Lima, da Toyo Setal, como suplente; André Glogowsky, da Hochtief do Brasil, na Construção Civil, sem suplente; na área de Fabricação o conselheiro titular é Hideo Hama, da Fluxo Soluções Integradas, e Antonio Carlos Marchina, da Triple M, como suplente; além de Paulo Nishimura, da Niplan, e Sergio Salomão, da IMC Saste, em Montagem e Manutenção e Logística, respectivamente, com os suplentes Francisco Rocha, da UTC Engenharia, e Carlos Albertos de Oliveira e Silva, da Vectra Engenharia.
Quais seus planos à frente da Abemi?
Posso resumir os projetos futuros da Abemi em três palavras: Renovação, Expansão e Participação. A Renovação já está em curso, com a entrada da nossa gestão em uma nova diretoria e conselho. A Expansão se dará através de uma “desregionalização”, um esforço contínuo de trazer outros estados para dentro da associação, trabalhando conosco. E, por fim, a Participação se trata de criar uma vida mais ativa por parte dos membros, atuando mais próximo a nós. Para tornar possível esses objetivos, o nosso maior foco é na comunicação, como ferramenta capaz de unir conselho, diretoria e associados.
Quais os principais desafios à frente do cargo?
Assumimos em um momento bem difícil para o país, mas o maior trabalho será voltar a fazer relevante a engenharia nacional, a mantendo forte. Teremos um trabalho duro pela frente, principalmente dentro das nossas comissões permanentes – Assuntos Jurídicos; Recursos Humanos; Engenharia de Segurança, Saúde e Meio Ambiente; Qualidade.
Como vê o momento da engenharia brasileira?
É um momento dramático, sem investimento algum sendo feito. Há ainda muito pouco indo para a construção pesada. Em números, tivemos perda de 50% a 60% da mão de obra empregada na construção pesada, passando de 500 mil para 200 mil, e ainda maiores na engenharia de projetos, saindo de 20 mil para algo entre 5 e 10 mil trabalhadores empregados.
O que a Abemi pode e pretende fazer para melhorar o quadro da engenharia nacional daqui pra frente?
É preciso dizer que é preciso melhorar o quadro de postos de trabalho para a engenharia nacional, porque em sentido técnico é importante frisar que não devemos em nada à engenharia estrangeira. É preciso acabar com o mito de que nossa engenharia não tem qualidade ou capacitação como lá fora. É claro que às vezes são necessárias especialidades vindas do exterior, mas são pontuais. Poucos países do mundo detêm certas especialidades, com uma demanda nacional que não justifica investimentos nestes nichos. A questão que se coloca com projetos sendo levados para fora é que, no Oriente, por exemplo, a engenharia se coloca mais barata, as vezes metade do preço do praticado aqui. Isso por conta de diversos fatores, como benefícios sociais, direitos trabalhistas, questões tributárias muito diferentes das brasileiras. O olhar sobre o custo acima de tudo faz com que o envio de projetos para o exterior seja escolhido. É nesse espaço que entram associações de classe como a nossa, lutando pelo conteúdo local acima de tudo, valorizando o produto e pessoal que temos aqui.
Com a crise nacional, quais são as saídas mais interessantes para as empresas de engenharia e montagem no País?
O momento pede que o mercado nacional espere a questão política sendo resolvida. Enquanto isso não acontece, os investimentos ficam travados, e algumas grandes empresas ainda se mantêm conseguindo trabalhos fora do Brasil. Esse movimento de buscar serviços fora do país não era algo necessário, algo que as empresas pequenas e médias estavam preparadas para tentar.
Como os associados veem as perspectivas futuras para a indústria de montagem?
Para que haja demanda na indústria, é preciso que investimentos sejam feitos. Sem esses investimentos, não há nada a ser feito no Brasil. E estamos dentro de um momento em que investimento privado não é feito, por falta de confiança no país, e o Estado está sem recurso para assumir esse papel. As empresas estão buscando seus caminhos, tentando se posicionar em meio a esse cenário complexo.
E em relação ao setor de óleo e gás especificamente?
O setor de óleo e gás sofre especificamente mais por conta de fatores nacionais e internacionais, como a crise do barril de petróleo e o endividamento da companhia, que é um entrave para investimentos. A administração das companhias está bem focada em redução de custos, com preços internos de venda de combustíveis bons, e com uma expectativa interessante de recuperação de mercado. O cenário que estamos passando será superado em um certo tempo, com a retomada de investimentos. Podem ser menores que nos últimos anos, mas a projeção é positiva. Algumas mudanças regulatórias também apontam para um bom futuro, como a retirada da obrigatoriedade da Petrobrás em ser operadora do pré-sal, retirando esse custo que pode não ser interessante para a estatal no momento. A longo prazo, essas mudanças apontam para outros operadores entrando no mercado, criando novos horizontes para a indústria.
Como será o Fórum de Engenharia programado para a Rio Oil & Gas deste ano?
Este é um assunto que ainda está sendo tratado com o IBP (Instituto Brasileiro do Petróleo), mas que já foi confirmado para a edição deste ano da feira. Um encontro está marcado para que iniciemos a criação do programa desse fórum, mas já temos um conceito estabelecido e os detalhes estão sendo discutidos.
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