MULTITEK ACUSA A PETROBRÁS DE CALOTE E DEMITE 1.700 FUNCIONÁRIOS

Para o mercado de óleo e gás, a história não é nova. Mas agora a difícil relação entre a Petrobrás e algumas de suas empresas contratadas parece estar ficando fora de controle. A origem é a mesma. Projetos iniciais incompletos e imprecisos, execuções que exigem inúmeras modificações, as consequentes mudanças nas estruturas das obras e com isso os aditivos e os claims reivindicados. A novidade mesmo é o represamento destes pagamentos pela Petrobrás e as dramáticas consequências para as empresas. É a receita certinha para quebrar empresas e produzir demissões em massa, arrastando outras empresas fornecedoras da cadeia de petróleo e gás. E ela já fez algumas vítimas que  faliram ou estão em recuperação judicial, como a Tenace, Produman e a GDK, por exemplo. Um reflexo que já está produzindo efeitos no mercado com demissões já anunciadas em outras grandes empresas como a Halliburton, Baker Huges, Lupatech e Q&B.

A bola da vez é a tradicional empresa Multitek, com sedes no Rio de Janeiro e Juiz de Fora, em Minas Gerais,  com 28 anos no mercado de óleo e gás. Ela já  executou inúmeras obras para a Petrobrás e agora reclama de um débito de mais de 245 milhões de reais, fruto de pleitos reivindicados em treze obras em que estava contratada pela estatal.

No dia 8 deste mês, a Multitek protocolou uma notificação extrajudicial endereçada à Petrobrás, exigindo o pagamento do que julga ser devido e dá um prazo de cinco dias para que isto seja feito, sob pena da demissão de funcionários. O documento foi em atenção aos diretores José Antônio de Figueiredo, de Engenharia e Tecnologia de Materiais, José Carlos Cosenza, de Abastecimento, José Alcides Santoro Martins, de Gás e Energia, Jose Miranda Formigli Filho, Diretor de Exploração e Produção, José Eduardo Dutra, Diretor Corporativo, e Margareth Feijó Brunnet, Diretora da Cia. Textil Integrada de Pernambuco. O prazo de cinco dias venceu e  a consequência prevista foi cumprida: 1.700 funcionários foram demitidos.

A Multitek estava realizando as seguintes obras: Off-site da carteira de gasolina da REGAP; Portaria Sul do Comperj; Sistema de bombeio do Usduc do TECAB; Rede de Distribuição de água de Imbetiba; Laboratório de Fluídos (Parque de Tubos de Macaé); CIC e SE do Comperj; Serviços Remascentes do PLANGAS; Sistema de Combate a incêndio do TECAB; Logística / Arruamento da PQS; Montagem de 32 máquinas texturizadoras da PQS e montagem de subestações da PQS. Estas três últimas, na Cia Integrada Textil de Pernambuco.

Por sua vez, a Petrobrás nega o débito e diz que os pagamentos contratuais foram feitos. De fato, é isso. Mas o problema central dos fornecedores da estatal e, por consequência, dos fornecedores que atendem às empresas que prestam o serviço para a Petrobrás, está  na velocidade do pagamento dos pleitos.  Por uma decisão de gestão, as autorizações para os pagamentos cabem diretamente às diretorias. Com a quantidade de obras que a Petrobrás realiza, analisar detalhadamente esses pleitos virou um inferno para as empresas prestadoras de serviços. O número de protestos de empresas fornecedoras contra as epecistas subiu vertiginosamente. A Petrobrás pede o serviço, os gerentes das obras autorizam a sua execução, os fiscais das obras aprovam, mas o processo é interrompido no gargalo final.

O Petronotícias conversou com o presidente da Multitek, Luis Alfeu, que prefere não falar neste momento, mas confirmou a demissão de 1.700 funcionários e a  paralisação de todas as treze obras que estava executando. Alfeu não fala em  pedido de falência da empresa, mas confirma que a sua empresa prestava serviços apenas para a Petrobrás, há 28 anos.

O que aconteceu com a Multitek é o mesmo que está acontecendo com inúmeras empresas fornecedoras da Petrobrás, segundo uma fonte do Petronoticias. A soma do represamento dos pagamentos dos pleitos colocados pelos fornecedores da estatal, segundo comenta-se no mercado,  passa de 10 bilhões de reais. A Petrobrás garante ter dinheiro em caixa para fazer frente a estes possíveis débitos, mas a demora em salda-los está provocando uma grave instabilidade no mercado da engenharia. Esta mesma fonte faz uma analogia com o posicionamento  da atitude dessas empresas: “É igual a mulher que apanha do marido. Dá queixa na Delegacia da Mulher, mas fica caladinha e não conta pra ninguém”.