NEXSTEPPE INVESTE EM NOVO TIPO DE SORGO PARA IMPULSIONAR MERCADO DE BIOGÁS
Por Daniel Fraiha (daniel@petronoticias.com.br) –
O mercado de biogás ainda engatinha no Brasil, com alguns projetos surgindo de maneira esporádica pelo País, mas já está sob a mira de uma série de empresas que veem um grande potencial no setor. É o caso da americana Nexsteppe, que desenvolve sementes especiais de sorgo para diversos fins energéticos. O vice-presidente da companhia na América Latina, Ricardo Blandy, conta que agora estão trazendo um novo tipo de semente, com maior potencial energético, e já há três grupos interessados testando o produto em projetos espalhados pelo Brasil. “Estudos já divulgados no mercado indicam um potencial para produzir 23 bilhões de m³/ano de biogás no País, sendo 12 bilhões de m³/ano somente no setor sucroenergético”, afirma o executivo, que ressalta o perfil mais acessível do biogás em relação a outros tipos de geração de energia em âmbito industrial. “O diferencial do biogás é que o custo é muito menor do que o de uma caldeira, o que permite o investimento para pequenos e médios empresários”, diz.
Como é a atuação da Nexsteppe na área de biogás?
A Nexsteppe é americana e nasceu com o foco no Brasil e nos Estados Unidos. Depois ampliou o escopo para a Europa e para a Ásia. A empresa está o Brasil desde 2012 e está trazendo neste ano o sorgo para biogás. A empresa desenvolve sementes de sorgo para fins industriais, como bioenergia, biocombustível, álcool de segunda geração e biogás. Essa linha de sorgo é desenvolvida em vários lugares do mundo, inclusive nos EUA e na Europa, e estamos trazendo agora para cá. Nós o chamamos de metano alto.
Qual diferença para insumos já utilizados?
O sorgo para biogás é mais um tipo de insumo, mas a diferença para o sorgo normal é que tem mais metano, e por isso tem um potencial energético maior. O sorgo para biogás é uma novidade na maior parte do mundo. Na Alemanha e na Itália já está sendo mais difundido, Mas os biodigestores lá são diferentes daqui. São menores e mais pulverizados, enquanto aqui são maiores, sendo que esse mercado ainda está no começo no Brasil. Poucas empresas estão desenvolvendo o biogás.
Qual o mercado mais interessante aqui?
O de maior potencial é o álcool de primeira geração. Porque com as mudanças climáticas e cada vez mais instabilidades no Brasil, como o El Niño, as usinas têm sofrido e isso tem impactado a cana de açúcar. Com isso, muitas usinas têm buscado o sorgo para etanol, o que está gerando um grande potencial para este mercado. Já em termos de potencial de crescimento futuro, é o etanol de segunda geração, porque o Brasil tem muitos resíduos e muita biomassa que não é aproveitada.
Como é o modelo de negócios da Nexsteppe?
Nosso modelo de negócio tem duas formas. Podemos participar da cadeia levando biomassa para os clientes. E também podemos vender as sementes e eles mesmos plantam, fazem o manejo, colhem e alimentam suas caldeiras.
Como está sendo o trabalho no setor de biogás?
Testamos vários híbridos de sorgo no Brasil e esse ano vamos ter o primeiro híbrido comercial. O objetivo é vender para os projetos de biogás em desenvolvimento. Já existem grupos testando o sorgo para comparar com outras matérias primas em alguns estados.
Em quais?
Estamos em três projetos diferentes no Brasil, ainda em escala de testes. Um no Paraná, em parceria com a Geo Energética – um dos grandes líderes de biogás no Brasil, com grandes investidores envolvidos –; um no oeste da Bahia, com uma empresa que não podemos citar; e outro no Mato Grosso, que também é confidencial.
Qual o potencial do segmento no país?
Como é um mercado novo, ainda estamos quantificando. Mas estudos já divulgados no mercado indicam um potencial para produzir 23 bilhões de m³/ano de biogás no País, sendo 12 bilhões de m³/ano somente no setor sucroenergético.
Quais são as áreas que podem se beneficiar mais deste tipo de gás?
Tem vários mercados. As cooperativas do Paraná são um exemplo, porque têm gado leiteiro e de corte. As indústrias de cerâmica, que são bastante pulverizadas, também. A indústria moveleira é outra que deve ter rápida aceitação. O diferencial do biogás é que o custo é muito diferente do de uma caldeira. São estruturas menores e permitem o investimento para pequenos e médios empresários. Ele é mais democrático que a geração de energia a partir de biomassa, por exemplo, que exige um capital mais intensivo.
Quem são os maiores de vocês?
O primeiro mercado que estamos acessando são as cooperativas do Paraná, porque estão buscando investimentos em biodigestores. O segundo é o mercado de pecuária e de produtores de soja no norte do Mato Grosso. Eles precisam de energia, estão em regiões mais distantes e têm ali deposição de insumos para biogás, então são um foco interessante.
O que o país pode e deve fazer para incentivar mais esta indústria?
O que falta na nossa indústria de biogás é o que falta em várias outras. Um direcionamento político para o incentivo. Um planejamento estratégico de longo prazo. Na Alemanha, nos EUA e em alguns outros países, eles deixam claro o que pretendem fazer nos anos seguintes. A China, por exemplo, acabou de lançar um plano para construir mais de 200 usinas a biomassa nos próximos cinco anos. Isso incentiva o investimento. É preciso deixar claro para o empresariado que o País está buscando novas fontes de energia. E o Brasil tem excelentes condições para o biogás. O que falta é o setor privado ter certeza de que vai ter incentivos para a produção desse biogás no País.
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