NOVA DIRETORIA DA ABESCO PROPÕE ELABORAÇÃO DE PLANO INTEGRADO DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA PARA O BRASIL
Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –
O Brasil tem um grande potencial de eficiência energética, tanto na esfera pública quanto na privada, segundo dados apontados pela Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (Abesco). A entidade, que começou o ano de 2020 com uma nova diretoria, presidida pelo advogado Frederico de Araújo, afirma que, por exemplo, a troca de lâmpadas convencionais para as de LED na iluminação pública pode gerar uma economia real de 65%. Já na indústria, o potencial de eficiência energética é de R$ 4 bilhões, somente levando em conta os motores elétricos. Para aproveitar estas e outras oportunidades, o presidente da Abesco revela que a entidade vai buscar reunir diferentes agentes de mercado para propor a elaboração de um plano nacional e conjunto de eficiência energética. “Isso daria mais agilidade nas ações de eficiência energética no país, além de proporcionar mais foco”, afirmou Araújo. A Abesco já está começando a montar uma agenda de visitas em Brasília, com reuniões na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Ministério de Minas e Energia, entre outros órgãos.
Quais serão as prioridades da nova gestão da Abesco?
A primeira prioridade dessa gestão será, como associação representativa do setor, fortalecer a eficiência energética no Brasil a partir de uma relação mais estreita com o governo e as instituições que são importantes no Brasil – como os ministérios, as Forças Armadas, a Aneel e as concessionárias de energia. Isso para tentar formar no Brasil um plano conjunto de eficiência energética. Nós acreditamos que hoje temos muitas ações isoladas. O setor privado pensa de uma forma e o setor público pensa de outra em termos de eficiência energética. Nós poderíamos ter no Brasil, como acontece em outros locais, como a Califórnia (EUA), um plano conjunto sobre eficiência energética.
Qual seria a vantagem?
Isso daria mais agilidade às ações de eficiência energética no país, além de proporcionar mais foco. E, quem sabe, [o plano contaria] com políticas públicas e de políticas de incentivo a este setor, que é tão importante para o país.
E como seria a elaboração desse plano?
Eu acredito que temos um ideal bem ousado, que seria a Abesco liderar essa discussão no país. E tentar aproximar ou colocar na mesma mesa todos os stakeholders importantes nessa linha – por exemplo, a Aneel, a Abrade [Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica], as federações das indústrias, as Forças Armadas e os ministérios. O objetivo é ter uma discussão conjunta sobre qual caminho seguir. Temos essa ousadia de buscar ser esse hub que vai centralizar as discussões sobre eficiência energética no país.
Quando devem começar as conversas nesse sentido?
A partir desse ano. Estamos montando uma agenda de visitas em Brasília: Aneel, Abrade, Ministério de Minas e Energia e Ministério da Defesa, para tentar colocar todos em uma só mesa e discutir isso de forma conjunta e organizada.
O senhor pode nos traçar um panorama atual da eficiência energética no Brasil?
Temos duas linhas de eficiência energética no Brasil. De forma geral, a eficiência está muito incipiente e as ações ainda estão muito devagar. Apesar da EPE [Empresa de Pesquisa Energética] ter liberado recentemente uma pesquisa onde mostra os resultados da eficiência energética no Brasil, nós acreditamos que ela ainda tem muito espaço para crescer.
Temos programas do governo que fazem com que a indústria se adeque à eficiência energética, como o Procel, a certificação de equipamentos. Esse é um importante passo que o governo deu, a instituição do Selo Procel de Eficiência Energética. Nós temos também a indústria de motores com obrigações regulatórias de eficiência energética, como a evolução nos motores elétricos para oferecer equipamentos mais eficientes do ponto de vista do consumo de energia. E também nós tivemos o Procel Edifica, que foi o selo para edificação eficientes.
No Brasil, nós temos uma linha que é a normativa, que faz com que a eficiência aconteça. E tem uma linha que é da Aneel, que é o programa de eficiência, onde as concessionarias de energia investem 0,5% da sua receita operacional líquida (ROL) em projetos de eficiência energética. Isso também é um grande passo. Mas só isso não é suficiente. Esses programas por si só não são suficientes, tendo em vista o tamanho do potencial de eficiência energética do Brasil. O mercado é muito grande. Poucas cidades estão adequando seus parques públicos de iluminação para ser eficientes. Poucas. Até pela crise que vive o setor público no Brasil. Então, temos um potencial muito grande.
Qual o tamanho desse potencial?
Quando olhamos para a indústria, por exemplo, o potencial é de R$ 4 bilhões em motores elétricos. Temos algumas matérias que foram publicadas em revistas especializadas que mostram esses números. Ou seja, se temos um potencial desse somente na indústria, imagine o potencial de uma cidade, onde a média de economia de energia é de 65% em um projeto de eficiência energética com troca de lâmpadas de sódio e mercúrio para LED. Isso é muito levando em conta quantos municípios e quantas luminárias públicas nós temos instaladas no país. É um volume absurdo. Então, isso representa uma diminuição de gasto e uma geração de energia evitada.
Eu sempre digo que quando você acaba com o desperdício de energia, você diminui a necessidade de investimento em geração, transmissão e em toda a cadeia. A eficiência energética tem um efeito imediato. Imagina quando você faz um parque eólico ou uma geração térmica, quanto tempo demora para a liberação de licenças? Leva anos. No caso da hidrelétrica, são mais de cinco anos. E qual o prazo para implantação de eficiência energética? É um prazo de seis meses para a implantação de projeto, sem necessidade de licenças. E tudo com produtos nacionais, com motores elétricos e com lâmpadas de LED montadas no Brasil. Isso fortalece a indústria, gera empregos e traz economia. Dentro do Acordo de Paris que o país firmou, temos uma meta de alcançar 10% de eficiência energética no setor elétrico até 2030. Estamos caminhando nesse sentido, mas ainda temos uma distância grande para alcançar os 10% de eficiência no Brasil.
Quais são as principais fontes de desperdício no Brasil?
Temos grandes fontes de desperdício de energia nos municípios. A iluminação pública é uma delas. Na área de saneamento público também. Todos os prédios públicos têm desperdício de energia, em termos de iluminação e ar-condicionado. O ar-condicionado é um grande vilão no Brasil, por conta das temperaturas. Encontramos muitos aparelhos ineficientes.
Na indústria, nós temos várias fontes. Motores são grandes vilões, mas existe também a questão da carga térmica. Muitas vezes, a indústria precisa de carga térmica – ou seja, água quente e vapor. Algumas dessas indústrias usam energia elétrica para gerar esse vapor e outras usam gás. A geração de vapor é um grande vilão na indústria no Brasil.
Já na parte de comércio e serviços, em supermercados e shopping centers, o grande vilão são as cargas de ar-condicionado e refrigeração de forma geral. E depois, aparece a questão da iluminação.
Então existem muitas frentes para melhorar a eficiência energética no país?
Sem dúvida. Para se ter ideia, eu tenho um dado do período entre 2015 e 2017, que diz que o desperdício de energia no Brasil custou R$ 61 bilhões. Isso foi estimado pela própria Abesco. Isso é dinheiro o suficiente para construir 240 hospitais no país. Outro dado interessante: o setor que mais consome eletricidade no Brasil é a indústria, que responde por 40% do consumo. Sendo que 30% são de motores elétricos. Ou seja, estamos falando de 12% do consumo de energia total no Brasil.
Que outras metas estão sendo almejadas pela Abesco para este ano?
O objetivo principal que temos é gerar a cultura do uso inteligente da energia elétrica no Brasil. Vamos fazer isso através das relações que falei inicialmente e com o mercado, de forma geral. A Abesco vai começar a fazer alguns trabalhos de conscientização com os governos estaduais e com os bancos de fomento estaduais.
A ideia é sugerir investimentos em eficiência energética, por meio das prefeituras, com troca de iluminação pública, onde existe receita para isso. Na iluminação pública, nós pagamos o Custeio de Iluminação Pública (CIP) nas contas de energia. Estamos mostrando que os bancos poderiam financiar os projetos, que são garantidos pela própria geração de receita ou pela economia gerada por esses projetos, por meio de contratos de performance. Ou seja, o foco é no ponto de fortalecer a eficiência energética no Brasil e as empresas do setor, demonstrando que investir em eficiência energética é a forma mais inteligente de combater o desperdício de energia.
Interessante é que o Brasil ainda têm melhor mix energético do mundo. A política atual deveria estar focada além, desde o menos desperdício e, principalmente, na continuidade do mix, melhor padrão do mundo, em termos estratégicos e gropolítcos. Assim o governo deveria envidar esforços em inventariar todos os seus ativos energéticos e potencialidades e, a partir daí, planejar uma política adequada que permita o crescimento que o País tão necessita. Isso, sim, seria um real projeto nacional pois o interesses alhures cuidam apenas dos próprios umbigos. Nisso deveríamos ser endógenos e intestinais. Cada País per si é seu melhor amigo,… Read more »