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NOVAS GERAÇÕES DE EXECUTIVOS PRESSIONAM COMPANHIAS POR MUDANÇAS NA INDÚSTRIA DE PETRÓLEO

Por Daniel Fraiha (daniel@petronoticias.com.br) – 

Renato BertaniEleito para a presidência do Conselho Mundial de Petróleo (World Petroleum Council – WPC) em 2011, Renato Bertani vem dividindo seu tempo entre a direção da Barra Energia, onde ocupa o cargo de CEO, e os compromissos do Conselho. Mesmo assim, com as grandes responsabilidades e exigências dos dois postos, ele se diz entusiasmado com as mudanças que tem visto na indústria global nos últimos anos. Bertani destaca uma palavra como determinante para o futuro do segmento de petróleo: sustentabilidade; e ressalta que as novas gerações estão fazendo uma pressão importante dentro das estruturas corporativas, cobrando mudanças em relação a práticas antigas e antiquadas do setor. O executivo, que lidera a entidade com 70 países membros, reconhece que a imagem da indústria de petróleo ainda não é positiva para a sociedade em geral, mas ressalta que houve grandes mudanças de postura no segmento nos últimos 15 anos, inclusive por parte dos investidores, que agora apresentam altos níveis de cobrança em relação a ética e transparência.

Como se dá a sua atuação à frente do World Petroleum Council?

O objetivo principal do WPC, como uma organização sem fins lucrativos, é promover o debate na indústria, de forma a buscar um desenvolvimento sustentável. A palavra-chave aqui é “sustentabilidade”, para explorar, produzir e consumir petróleo e gás natural. Então, nós abrangemos todo espectro da indústria, desde a exploração até a ponta final do consumo, e procuramos divulgar essa missão através de algumas ações estratégicas.

Quais ações?

A primeira delas é o Congresso Mundial de Petróleo, que ocorre a cada três anos. É quando juntamos a nata da indústria: ministros, CEOs, técnicos, profissionais, jovens, representantes da sociedade etc. Queremos fazer um debate cada vez mais amplo, com todas as partes interessadas, para discutir as grandes questões do setor. Essa é a primeira grande tarefa, mas o que nós queremos é ser uma entidade atuante muito além do congresso.

Como?

Temos outras ações que estão em andamento para promover a indústria e esse debate. Uma dessas atividades é o Youth Forum, que é um mini-congresso voltado a profissionais e estudantes de até 35 anos de idade. Também participamos, mas o evento é deles, é majoritariamente de gente jovem. Tivemos um em Calgary, no Canadá, em outubro passado. Foi extremamente bem sucedido, com representantes de mais de 60 países, mais de 1.200 participantes e um debate de alto nível, tanto na parte técnica quanto em relação à sustentabilidade.

E quais são as principais características desse perfil de público mais jovem?

A maioria é de jovens profissionais já atuantes na indústria, em companhias de petróleo ou de serviços. Há também estudantes, mas não tantos, principalmente das áreas de geologia, geofísica e engenharia; além de entidades governamentais.

Mas em termos de postura, como é o perfil deles?

Uma coisa fascinante, que é o que queremos promover, é que estamos vendo nas novas gerações, além de um enorme interesse em tecnologia, um interesse e uma vontade enorme de implantar cada vez mais princípios de sustentabilidade. Mas isso é um conceito amplo, não é apenas meio ambiente e responsabilidade social, mas um conjunto de princípios que a indústria precisa ter para continuar prestando bons serviços à sociedade nas próximas décadas. E é nisso que essa turma jovem está muito interessada, promovendo debates e se posicionando fortemente.

As grandes operadoras estão alinhadas com isso?

Cada vez mais. E acho que as novas gerações vão nos ajudar muito nesse sentido. Estamos fazendo uma ponte entre as gerações que hoje estão à frente da indústria com os que vão tomar conta dela daqui a 10, 15, 20 anos. Queremos promover cada vez mais um esclarecimento para a sociedade do que está acontecendo.

Essas mudanças afetam de que forma a visão dos investidores em relação à indústria?

Hoje em dia não falta dinheiro se você quer investir em exploração e produção, mas ele só será alocado para as companhias de petróleo se elas tiverem o maior nível de ética e transparência.

O nível de exigência dos investidores externos tem aumentado?

Está inacreditavelmente mais rigoroso. Vou dar o exemplo da Barra Energia. Os nossos dois principais investidores são os fundos privados americanos Riverstone e First Reserve. Para que eles disponibilizem os recursos, somos submetidos a verdadeiras sabatinas todos os anos. Os dois têm escritórios de advocacia contratados só para avaliar os nossos processos de governança. Temos que responder a um questionário de 10 páginas, discutindo item por item do que fazemos, para eles terem a certeza de que seguimos as leis, que não corrompemos ninguém, que seguimos as melhores práticas, abrimos as informações que têm que ser levadas ao público etc. Então a mensagem é essa. Se você precisa de dinheiro para fazer investimento na área de petróleo, tem muito, mas você precisa ter competência e ética.

Você percebe isso de uma maneira global, incluindo lugares onde os governos são mais fechados?

Cada vez mais, mas é claro que tem países onde isso ainda é um processo incipiente. Mas existem hoje muitos investidores que estão bloqueando as suas empresas de investir aonde eles não têm confiança de que as coisas estão sendo feitas de maneira transparente. Eu não posso falar, como WPC, sobre essa ou aquela companhia, esse país ou aquele país, mas o que eu asseguro é que há um movimento crescente neste sentido. E o que eu gosto mais ainda é que vejo a nova geração questionando sobre quais as práticas de governança das empresas. As novas gerações hoje consideram um fator essencial, na hora de escolher para quem vão trabalhar, os padrões de ética e transparência das empresas, o que é extremamente positivo para a nossa indústria.

Nas grandes operadoras já existe essa troca, com a resposta dos executivos mais antigos em relação a esses questionamentos?

Está mudando drasticamente. Em Calgary, no último Youth Forum, tivemos um belíssimo exemplo disso. Tivemos muitos fóruns em que combinamos gente jovem, de 25 a 35 anos, com CEOs de grandes companhias, e a garotada jovem fez muitos questionamentos. A indústria está passando por uma mudança radical na sua postura, mas isso é um processo gradual, que vem de uns 10, 15 anos. No entanto, acho que a sociedade de maneira geral ainda não entendeu completamente o que está se passando, então ainda temos um problema de imagem. Isso é claríssimo pra mim também. A imagem da indústria de petróleo ainda é a de uma indústria poluente, que explora os países subdesenvolvidos e que é corrupta. Não vou dizer que esses problemas foram resolvidos, está longe disso, mas há um progresso e um comprometimento enorme, que está mudando o perfil das companhias de petróleo globalmente. Mas isso não está percebido ainda.

E como estão tentando levar essa mudança de postura à sociedade?

Queremos esclarecer mais a sociedade sobre isso, promovendo eventos, trazendo organizações, universitários, gente jovem, e procurando engajá-los nessa discussão, para eles entenderem mais e para que a gente ouça mais. Temos como responsabilidade ouvir todos os segmentos da sociedade e essa é basicamente a grande tarefa do WPC. É fascinante, muito trabalhoso, mas está trazendo resultados.

Qual é a imagem do Brasil vista de fora no Conselho?

O Brasil é um dos países mais atuantes no Conselho e está sendo entendido como um país de potenciais extraordinários, de alto desenvolvimento tecnológico, principalmente na área de águas profundas, com mão de obra capacitada, mas insuficiente. Esse é hoje um dos grandes gargalos que se percebe no Brasil. Existem recursos, existe potencial, mas não há gente suficiente, principalmente para encarar o que vem pela frente. 

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