NOVAS PROJEÇÕES REFORÇAM PROTAGONISMO DA ARGENTINA NA PRODUÇÃO E EXPORTAÇÃO DE GÁS NATURAL E GNL
A Argentina está reforçando sua posição como o próximo grande fornecedor regional de gás, ao mesmo tempo em que busca um papel de destaque no mercado global de gás natural liquefeito (GNL). Impulsionado por reservas significativas de gás não convencional, o país pode atingir uma produção de até 180 milhões de metros cúbicos por dia (Mmcd) até 2040 em um cenário-base, com potencial para chegar a 270 milhões de metros cúbicos por dia (Mmcd) caso consiga viabilizar todos os projetos de exportação de GNL planejados, segundo o relatório Argentina Gas and Power Market Outlook, da Wood Mackenzie.
A Argentina já está interligada por gasodutos com Chile, Uruguai e Bolívia. A recente reversão do gasoduto do norte permitiu que o país passasse a entregar gás ao Brasil utilizando a infraestrutura boliviana existente. No futuro, exportações diretas poderiam ser viabilizadas com a extensão de uma conexão de Uruguaiana até Porto Alegre, entrando no sistema integrado de transporte do Brasil.
“Com o fim previsto das exportações da Bolívia até o final desta década, a Argentina está estrategicamente posicionada para se tornar o principal fornecedor regional”, afirmou Javier Toro, gerente sênior de pesquisa da Wood Mackenzie. “Ao mesmo tempo, o país tem uma oportunidade real de se consolidar como exportador relevante de GNL no cenário global”, acrescentou. De acordo com a Wood Mackenzie, campos estratégicos como Fortín de Piedra, Aguada Pichana Este e Oeste serão centrais para esse crescimento, com suporte de volumes adicionais vindos de Sierra Chata e El Mangrullo para ampliar as oportunidades de exportação.
Em relação ao GNL, a Argentina já tomou a decisão final de investimento (FID) em uma unidade flutuante de liquefação com capacidade projetada de até 2,5 milhões de toneladas por ano (Mtpa). O país também avalia a construção de outra unidade de 3,5 Mtpa, por meio do consórcio Southern Energy (formado por Pan American Energy, Pampa, Harbour Energy, YPF e Golar). Paralelamente, a YPF assinou memorandos de entendimento com a Shell para um projeto de 10 Mtpa e com a ENI para uma unidade de 12 Mtpa. Caso todos esses projetos avancem, a Argentina poderá exportar até 28 Mtpa de GNL até 2035.
Segundo Toro, “o potencial de exportação da Argentina é impressionante, mas sua concretização exigirá mais de US$ 5 bilhões em investimentos em infraestrutura e possivelmente outros US$ 5 bilhões para desenvolver plenamente seus objetivos de exportação de GNL, sobretudo para ampliar a capacidade de gasodutos”.
Apesar das oportunidades, a Wood Mackenzie avalia que a Argentina precisa superar obstáculos significativos para concretizar suas ambições de exportação. Como fornecedora regional por gasodutos, o país precisará resolver gargalos de infraestrutura por meio de investimentos em capacidade de transporte. Além disso, a competitividade nos preços será essencial para viabilizar as exportações e lidar com as flutuações sazonais nos volumes disponíveis. A Argentina também precisará estimular ativamente novos mercados para substituir combustíveis fósseis existentes, ao mesmo tempo em que garante um marco regulatório previsível e estável para atrair capital privado de longo prazo.
No desenvolvimento do GNL, o país precisa construir gasodutos dedicados às unidades de liquefação e ampliar a produção upstream. “A estabilidade regulatória e garantias aos investidores por meio do regime RIGI serão vitais para viabilizar o financiamento”, acrescentou Toro. “A Argentina também terá que competir com fornecedores globais de GNL de menor custo, o que exigirá uma estratégia comercial consistente. As principais questões que a Wood Mackenzie aprofunda são se esses investimentos serão suficientes para atender à demanda de pico no inverno enquanto garantem volumes firmes para exportação — e a que níveis de preço essas exportações se tornarão realmente viáveis”, concluiu Toro.
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