EY APONTA FALTA DE INTEGRAÇÃO COMO ENTRAVE AO CONTEÚDO LOCAL NA INDÚSTRIA DE PETRÓLEO BRASILEIRA
Por Paulo Hora (paulo.hora@petronoticias.com.br) –
O Centro de Energia e Recursos Naturais da EY (antiga Ernst & Young), inaugurado no início de abril, será um espaço para o compartilhamento de experiências em projetos de indústrias segmentadas como petróleo, gás, mineração, siderurgia, energia renovável e distribuição de energia. De acordo com Carlos Assis, sócio líder do Centro, o local abrigará estudos para buscar ações integradas, visando atender à complexidade do setor. Ele conta ainda que, no lançamento do centro, realizaram debates sobre o segmento e identificaram a falta de integração e colaboração na área como um dos principais entraves ao avanço do conteúdo local.
Que tipos de pesquisa e estudos serão realizados no Centro de Energia e Recursos Naturais?
O Centro será um espaço destinado a uma reflexão ampla sobre a complexa cadeia de energia, com estudos em diferentes níveis. Iremos comparar os desafios e as oportunidades das indústrias de outros países com a nossa, estudando as tendências e os riscos.
Esses estudos serão feitos em um nível tático, levando em consideração questões como logística, infraestrutura, legislação, tributos, regulação, tecnologia e riscos ambientais. São ações integradas para buscar soluções que não sejam isoladas, de modo a atender à complexidade do setor.
Já existem planos definidos para as atividades do Centro?
Já temos um calendário de eventos de reflexão. No segundo semestre deste ano, vamos discutir aspectos referentes a conteúdo local e realizar estudos de riscos. Na inauguração do centro, houve dois painéis.
O primeiro abordou o momento da indústria. Foram propostas alternativas para pequenos e médios fornecedores; maneiras de alavancar investimentos, como a previsão de demanda, uma vez que, além do volume, é necessário saber quando ela vai se materializar; e questões de conteúdo local, cujas metas a indústria não está capacitada para cumprir, visto que não há uma colaboração efetiva entre o setor e os prestadores de serviço, como pode se verificar em países como Irã e Omã.
No segundo painel, foi discutido o pré-sal e o consórcio de Libra. Em relação aos problemas de infraestrutura, as conclusões foram as mesmas do primeiro painel, com a diferença de que, neste caso, há mais tempo para reagir. Quantos aos desafios de governança do consórcio, os participantes da discussão manifestaram grande confiança em sua capacidade de gestão e de superar os desafios.
Como você avalia a atual disponibilidade e qualidade da mão de obra brasileira no setor de Óleo e Gás?
Ainda temos um caminho a percorrer. O governo tem desenvolvido programas para a qualificação de mão de obra, mas eles ainda são insuficientes e os resultados só poderão ser sentidos no longo prazo. Perdemos tempo antes e, por isso, precisamos de flexibilidade para trazer especialistas de fora do país.
E, mais especificamente, como você avalia os gestores?
É um gargalo também, embora menor que o de técnicos e engenheiros, que ainda é o maior desafio. A gestão da Petrobrás, por exemplo, é admirável. Vamos colaborar com os atuais gestores e formar novos.
Que outras atividades a EY está desenvolvendo no Brasil?
Estamos muito focados em energia e recursos naturais. Os três pilares da EY no Brasil, hoje, são recursos naturais e os mercados financeiro e de siderurgia. Também atuamos na organização de grandes eventos, como as Olimpíadas, e nas questões de infraestrutura que os envolvem.
Quais problemas legislativos e tributários você identifica no Brasil para o desenvolvimento das atividades do setor de Óleo e Gás?
O sistema tributário brasileiro é extremamente complexo e instável. A questão não é a carga de impostos, que, mesmo elevada, pode ser administrada. O que preocupa são as constantes mudanças, que trazem insegurança para o planejamento. A tributação norueguesa, por exemplo, é muito mais estável, assim como a inglesa, que, depois de ter passado por algumas alterações, deu maior tranquilidade para o setor industrial.
Quanto à questão legislativa, o novo marco do pré-sal representa um avanço, mas pode ter um reflexo negativo mais à frente. Talvez a obrigatoriedade de participação mínima de 30% da Petrobrás, única operadora em todos os campos, precise ser revista, para dar maior flexibilidade às atividades.
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