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NOVO COMUNICADO INDICANDO 90 DEMISSÕES NA ELETRONUCLEAR ELEVA A CRISE NA EMPRESA A UM NÍVEL SEM PRECEDENTES

Raul Lycurgo LeiteNada feito. Apesar dos apelos e negociações em curso, a atual gestão da Eletronuclear manteve sua postura e dobrou a aposta. Irreprimida, anunciou hoje (21) o chamado Plano de Demissão Complementar (PDC), que pode terminar com a demissão obrigatória de mais de 350 trabalhadores. A reportagem do Petronotícias teve acesso a uma carta enviada pela diretoria aos colaboradores da estatal nesta sexta-feira. O documento confirma que a empresa vai implementar o PDC e que ele será de “caráter compulsório”. Com isso, a maior crise já vivida na história da Eletronuclear vai ganhando novos desdobramentos, prejudicando ainda mais o ambiente dentro da estatal. O Petronotícias ouviu um funcionário, que pediu para não ser identificado e relatou frustração entre os empregados com o novo anúncio. “Esse foi o ‘presente’ de final de semana que nós recebemos da diretoria. É mais uma ‘bomba’ em nossa cabeça. A saúde mental dos trabalhadores está cada vez mais abalada”, desabafou.

No documento, a Eletronuclear alega que precisa adequar seus custos à remuneração pela energia gerada por Angra 1 e Angra 2. A estatal afirma ainda que deseja evitar entrar na dependência do Orçamento-Geral da União. Para isso, lançou o Plano de Demissão Voluntária (PDV), que ainda está em curso e obteve 133 adesões de um universo de 458 elegíveis. Por isso, a Eletronuclear vai agora lançar o PDC, de caráter compulsório.

Inicialmente, com base nos números disponíveis no documento interno da Eletronuclear, o Petronotícias calculou que mais de 350 trabalhadores poderiam ser atingidos com a medida. A estatal entrou em contato com a redação e esclareceu que, no entanto, o PDC será destinado exclusivamente aos colaboradores que fazem parte do universo dos elegíveis ao PDV e que já se encontram aposentados. Isso impactaria cerca de 90 pessoas.

Tempos difíceis para trabalhadores na Eletronuclear com plano de cortes e demissões

Tempos difíceis para trabalhadores na Eletronuclear com plano de cortes e demissões

A carta divulgada nesta sexta-feira caiu como um “balde de gelo” em cima dos funcionários e lideranças sindicais, que já estavam desesperançosos após uma a audiência realizada recentemente no Tribunal Regional do Trabalho (TRT). Colaboradores da Eletronuclear disseram que não houve avanço durante a reunião. A leitura feita até aqui mostra que a diretoria vai continuar insistindo em levar a cabo o seu plano de austeridade, idealizado pelo presidente Raul Lycurgo (foto principal) e sua diretoria.

Durante a audiência no TRT, a empresa propôs um “acordo” com os trabalhadores que, em resumo, em nada atendia aos pleitos da classe, disse uma fonte que acompanhou as discussões. A proposta abria a possibilidade para demissões em massa; e previa uma revisão de Instruções Normativas (IN) que contém direitos e salários indiretos que correspondem a até 30% da remuneração dos funcionários.

Obviamente, as propostas foram rejeitadas veementemente pelos sindicatos e entidades representativas dos empregados. O sentimento relatado à reportagem do Petronotícias foi de desilusão, pois a direção da empresa insistiu em apenas cortar os direitos que afetam diretamente o dia a dia dos empregados. Há uma sensação de descrença quanto à gestão de Lycurgo e seu diretor administrativo Sidnei Bispo, que foram os principais alvos de uma manifestação realizada por funcionários da empresa no início desta semana, no Centro do Rio de Janeiro.

turbinaangraEnquanto a gestão da Eletronuclear propôs cortes que afetam apenas os trabalhadores, representantes dos colaboradores levantaram alguns pontos para ajudar a melhorar a situação financeira da empresa. Algumas dessas propostas incluem otimizar a cadeia de suprimentos, rever e aprimorar contratos de terceiros de uso contínuo e não gastar verba de custeio em investimento. No entanto, até agora, as atenções da diretoria da empresa estão focadas apenas no corpo técnico.

O Petronotícias procurou a Eletronuclear para comentar sobre o PDC e os resultados da reunião do TRT e ainda aguarda um retorno da empresa. A matéria voltará a ser atualizada quando o posicionamento da companhia for enviado.

O OUTRO LADO 

Sobre o PDC, a Eletronuclear nos enviou uma nota, que reproduziremos a seguir. A empresa disse que ainda nos enviará um posicionamento a respeito do acordo coletivo de trabalho.

A Eletronuclear informa que, para garantir o equilíbrio econômico-financeiro da empresa e sua sustentabilidade a longo prazo, implementará o Plano de Desligamento Complementar (PDC) para cerca de 90 empregados aposentados, dentro de um universo de dois mil funcionários concursados que a empresa possui. A medida visa adequar os custos da companhia à remuneração da energia gerada por Angra 1 e Angra 2, assegurando sua perenidade e a manutenção dos postos de trabalho.

O PDC será direcionado aos colaboradores já aposentados que estavam contemplados no Plano de Demissão Voluntária (PDV), lançado anteriormente, mas que não aderiram ao programa. O PDV, autorizado para até 485 colaboradores aposentados ou elegíveis à aposentadoria, registrou a adesão voluntária de apenas 133 funcionários, representando menos de 30% do total estimado. Os desligamentos imediatos dizem respeito a empregados aposentados ligados a funções administrativas.

Diante disso, a Eletronuclear considera indispensável a adoção de medidas complementares para alcançar um patamar de custos alinhado às referências mundiais de usinas nucleares equivalentes. A decisão segue as exigências legais e regulamentares aplicáveis às empresas estatais e está em conformidade com a reforma da previdência de 2019, que determinou a extinção do vínculo empregatício nas empresas públicas no momento da concessão da aposentadoria.

O processo de desligamento começará nos próximos dias e será conduzido ao longo de 2025, dependendo das especialidades de cada colaborador. Nenhum empregado essencial à operação das usinas será desligado sem que haja um sucessor, garantindo a transferência de conhecimento e a continuidade segura das atividades.

Um estudo apresentado pela Diretoria Executiva aponta que a Eletronuclear possui 3.600 empregados, sendo 2.000 diretos e 1.600 terceirizados para operar seus dois reatores nucleares (Angra 1 e Angra 2) e realizar a preservação de Angra 3. Ao desconsiderar os empregados relativos à Angra 3, a empresa totaliza 2.959 trabalhadores (diretos e indiretos) para Angra 1 e Angra 2. Assim, há uma relação de cerca de 1.500 empregados (diretos e indiretos) por reator nuclear, enquanto o estudo de benchmark aponta que as centrais nucleares mais eficientes operam com cerca de 600 empregados (diretos e indiretos) e a mediana estaria em 737 empregados (diretos e indiretos) para cada reator.

A empresa reforça que a segurança operacional das usinas Angra 1 e Angra 2 continua sendo sua prioridade absoluta. O programa será implementado sem comprometer a segurança dos trabalhadores, das instalações e do meio ambiente, sob a fiscalização contínua da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e do Ibama.

A Eletronuclear segue comprometida com uma gestão responsável e transparente, mantendo diálogo com todas as partes interessadas para garantir a sustentabilidade da empresa e a excelência na operação de suas usinas.

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Dráusio Lima AtallaEduardo Recent comment authors
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Dráusio Lima Atalla
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Dráusio Lima Atalla

As ações continuam em seu curso. Cerca de 500 funcionários da Eletronuclear deverão ser dispensados de uma forma ou de outra. Isto representa 25% da força de trabalho da empresa que detém o núcleo do conhecimento da empresa. Parte considerável das atividades da empresa é exercida por funcionários qualificados através de treinamentos e provas, portanto podem ser substituídos por outros igualmente qualificados. Outra parcela, entretanto, é exercida por funcionários experientes, experiência esta adquirida em décadas de trabalho. Muitas vezes ainda antes do reator ser ligado, em áreas que jamais poderão ser visitadas pelo grau de radiação atual. Outros jamais terão… Read more »

Dráusio Lima Atalla
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Dráusio Lima Atalla

Fazer manutenção nas válvulas governadores da turbina de Angra 2, que desenvolve cerca de 1,8 milhão de HP de potência, uma das dez maiores que a humanidade jamais criou ou esculpir o David de Florença, são atividades que guardam certo grau de equilíbrio entre si. Encontremos outro Miguel e vejamos o resultado. Encontremos outro artista das válvulas governadoras e vejamos o resultado.

Eduardo
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Eduardo

Gostaria de entender o cálculo da tarifa de energia produzida pelas usinas e que foi reduzido em 500 milhões pela ANEEL?
Não faz sentido algum, visto que a tarifa das termonucleares já é a menor dentre todas as térmicas.
A receita precisa aumentar no mínimo a inflação, e não diminuir.

Dráusio Lima Atalla
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Dráusio Lima Atalla

A lógica das tarifas de Angra decorre de uma mistura de incompetência da Eletronuclear em demonstrar à agência responsável todos os custos para fissionar certa quantidade de Urânio e Plutônio, intervindo no interior do núcleos dos átomos e daí extrair eletricidade, custos que decorrem de dezenas de atividades demandando bens e serviços internos e externos, nacionais e importados, e do desconhecimento da agência reguladora sobre esses custos, bem como desconhecimento das consequências de seus atos e tarifas sobre a segurança do reator, sobre a saúde financeira do negócio nuclear e, finalmente, sobre o impacto da disponibilidade de eletricidade em níveis… Read more »